CEGUEIRA E TÁTICA
Rui Martinho Rodrigues*
O petrolão potencializou a irracionalidade na
política. A chamada cegueira dos paradigmas impossibilita a compreensão do
óbvio. Pressupostos e convicções impedem a percepção e a compreensão. Todos
vivenciamos isso entre amigos e até entre familiares. Galileu não conseguiu
explicar sua teoria aos intelectuais do seu tempo. Outro fenômeno é a negação,
por conveniência, da realidade. Na política temos ambas as coisas: compreensão
bloqueada pelos pressupostos equivocados, de um lado; conveniência, de outro. O
momento é pródigo nas duas coisas.
A compreensão é bloqueada pelos pressupostos
segundo os quais a História tem como motor o conflito e a ética é guiada por
finalidades, justificando meios abjetos. O ceticismo epistemológico afasta a
verdade. A atitude quixotesca de quem defende dulcineias e ataca moinhos de
vento é vista como superioridade moral e intelectual. Montado em teorias que
são verdadeiros pangarés, o Macunaíma se apresenta como sábio e virtuoso.
O autoengano e o engano do eleitor são
cegueira e tática. A falácia ad hominem
se insinua neste espaço. “Nós e eles” afasta o exame do mérito da argumentação.
É o maniqueísmo manifesto. A dicotomia de uma análise política de dois sacos –
direita e esquerda – potencializa o engano próprio e o do outro. Basta dizer: isso
é argumento “deles”, não “dos nossos”. E os nossos são “do bem”. Os outros são
“do mal”. Flagrados fazendo o mal, são “justificados” pelos fins, ou negam a
realidade.
A ética teleológica e a lógica do conflito
levam à morte da razão e à maldade. O líder passa a ser ídolo. Daí o culto à
personalidade nos partidos com espírito de seita. A torpeza do líder é negada,
ou causa choque, quando não é justificada. Só não leva ao reconhecimento da
realidade. Foi assim com Stalin. É assim com Lula Odebrecht da Silva. Só a rapacidade
do outro é denunciada com indignação real ou fingida.
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