terça-feira, 2 de junho de 2020

ARTIGO - Pequeno Ensaio Sobre o Ódio (HE)

PEQUENO ENSAIO
SOBRE O ÓDIO
Humberto Ellery*



Sempre que escrevo algum artigo e o lanço no cyberspace, expressando minha opinião sobre qualquer assunto, eu o faço como quem abriu uma gaiola e deixou aquela opinião voar livremente. Jamais me preocupo com réplicas ou tréplicas, mesmo porque opinião é como boca, todo mundo tem uma. 

Como Chesterton, repito: “Não me julguem pretensioso ou arrogante por afirmar que a melhor opinião sobre qualquer assunto é sempre a minha, ao contrário, é pela mais absoluta humildade; não tenho nenhum apego às minhas opiniões, estou sempre disposto a trocá-las por outras, desde que fique demonstrado que estas novas opiniões são melhores que as minhas”.

 Peço aos que me contestam apenas que se atenham às opiniões e aos argumentos, critiquem à vontade, uns e outros. Isso de crítica construtiva depende do criticado, toda a crítica feita a mim é sempre construtiva, é sempre bem-vinda, aproveito sempre para melhorar: “Prefiro a crítica que me corrige, ao elogio que me corrompe” (Santo Agostinho).

Ultimamente, entretanto, mais que criticar minhas modestas opiniões, tenho percebido, principalmente entre os que costumo chamar “bolsonáticos”, um hábito muito peculiar de criticar a mim (argumentum ad hominem), e não ao que pode e deve ser criticado: opiniões e argumentos.

Sou tenazmente crítico do atual (des)governo, mesmo tendo votado no Bolsonaro (no 2º turno, fique bem claro!), levando em conta que a volta do PT ao Poder seria mais pernicioso ao País (esta minha opinião já subiu no telhado). 

Em recente crítica que fiz ao modo do “Mito” (des)governar a Nação, pude observar duas críticas ao meu texto completamente incompreensíveis. O meu amigo Reginaldo Vasconcelos afirmou que assim eu me manifestava por sentir ódio ao “Mito”.

Ora, quem costuma ler minhas críticas já deve ter observado que jamais critico pessoas, mas fatos, atos, atitudes, providências, e sempre mantendo uma linguagem civilizada, educada e respeitosa, sem nunca passar nem perto do que poderia ser qualificado como injúria, calúnia ou difamação.

Surpreende principalmente porque meu preclaro amigo Reginaldo é jornalista, e mais do que isso, é Presidente da Academia Cearense de Literatura e JORNALISMO, sodalício do qual tenho a honra de ser membro (por amizade de quem me convidou, o Beto Studart, (Membro Benemérito) e não por eventuais méritos meus, que não sou jornalista nem literato, apenas amo muito tudo isso.

Sendo o Reginaldo um jornalista, e afirmando que a minha  crítica é um ato de ódio, ele está desqualificando não só a Imprensa Nacional, que em sua imensa maioria tem criticado o (des)governo do “Mito”, como até a mídia internacional, que vai do esquerdista Le Monde ao conservador The Guardian, passando por todos os grandes jornais americanos, europeus e asiáticos. Será apenas ódio o que os move? Lembra a piada: “Se todo mundo parasse de me perseguir eu deixaria de ser paranóico”.

Até revistas Médico-Científicas, que não cuidam de políticas que não sejam referentes à Saúde, como a The Lancet, e a Jama – Journal of the American Medical Association, têm feito críticas acerbas sobre sua interferência desastrosa na política de combate ao Covid-19, com reflexos absolutamente deletérios sobre a imagem do Brasil. 

O grande intelectual e político americano Adlai Stevenson dizia que o papel da imprensa era “separar o joio do trigo; e publicar o joio”. A função primeira do jornalista, como olhos, ouvidos e, principalmente boca da sociedade, é criticar, se for para elogiar vá ser assessor de relações públicas ou publicitário. 

Suponho, peço que me perdoem se eu estiver errado, que por seu incontestável amor ao “Mito”, amor que se traduz num sectário “culto à personalidade”, eles (“bolsonáticos”) são levados a uma estreiteza mental que os faz acreditar que se alguém não ama o “Mito” é porque o odeia. Tivessem lido Érico Veríssimo saberiam que “o sentimento contrário ao amor não é o ódio, mas a indiferença”. 

Aliás, acredito que o ódio nem mesmo é um sentimento, mas uma patologia. Como entender que uma pessoa psicologicamente sadia mantenha seu coração permanentemente destilando sentimentos de vingança, vontade de destruir, matar alguém que, vá lá, o prejudicou? Odiar é como beber um copo de veneno na esperança de assim matar seu inimigo.

George Bernard Shaw (que foi também jornalista), disse que “o ódio é a arma dos covardes”. Com perdão do grande intelectual irlandês, mas discordo da assertiva, pois a ser assim o que seria a arma dos bravos? A vingança?

É o que dá pra entender: se o covarde não tem coragem de perpetrar uma vingança (quem sabe, matar), o objeto do seu ódio, e fica remoendo o ódio, o bravo, sem medo, mataria seu desafeto! Isso não acontece, pois os verdadeiramente bravos não odeiam, pois conhecem o enlevo, o prazer divino do perdão.

Ainda no terreno das discordâncias, permito-me discordar do poeta sambista Ataulfo Alves, pois perdão não “foi feito pra gente pedir”, mas para doar. Perdonum, perdonnare, pardonnér, vergeben, forgive – até etimologicamente é um ato de doação, de amor, e que inunda meu coração, não deixando espaço para sentimentos (ou patologias) torpes, rasteiros, abjetos, como ódios, ressentimentos, inveja, mágoas. 

Vou concluir citando o grande filósofo espanhol Ortega y Gasset (para fingir uma erudição que não tenho) que nas Meditações do Quixote ensinou que “o Amor é um divino arquiteto que baixou ao mundo – segundo Platão – “a fim de que tudo no Universo viva em conexão”. A inconexão é o aniquilamento. O ódio fabrica a inconexão, isola e desliga, atomiza o orbe e pulveriza a individualidade”.



COMENTÁRIO

Gosto de comentar os artigos do meu amigo, concunhado e confrade da ACLJ, o insigne Humberto Ellery, porque eles são supinamente inteligentes, embora muitas vezes dominados pelo ódio ideológico, obumbrados pelo que Rui Martinho chama “cegueira dos paradigmas”.  

Não há quem me faça bater bocar com os “tudólogos” da Praça do Ferreira, ou mesmo da Volta da Jurema, e sempre que um amigo de uma cidade sertaneja me liga para debulhar seus disparates sobre o que ele entende da política nacional eu concordo plenamente. Não perco o meu latim.

Este artigo do Humberto Ellery eu vou comentar forçosamente (pelo artigo 14), porque fui citado, e injustamente tachado de mau jornalista, que ataca as pessoas e não se restringe a contestar as ideias que elas venham a expressar.

Ora, eu procuro ser absolutamente racional, e nunca passional, quando combato alguma tese, sendo totalmente inverídica a afirmação de que lhe haja denegrido pessoalmente alguma vez, ao discordar do que ele diz.

Agora afirma que não pratica violência verbal e que é a encarnação do “Humbertinho Paz e Amor”, quando ataca as pessoas que defendem Bolsonaro de “bolsomínios”, quando o termo certo é “bolsonaristas”, e de (des)governo a sua administração, que é legítima e democrática.

Por fim, curioso Ellery citar Erico Veríssimo, segundo o qual o contrário do amor seria a indiferença e não o ódio. Pois tudo o que o articulista não tem sido é indiferente, notadamente quando abona uma mídia totalmente odienta e viciada, que se preocupa em induzir o povo a crer em suas opiniões mal-enjambradas, em vez de informar os fatos de maneira verídica e imparcial.

Para esses órgãos de imprensa que Humberto Ellery acha ótimos, aos quais costuma fazer eco sem qualquer posição lúcida e crítica, tudo de mau que ocorre, inclusive os efeitos da pandemia, seria culpa do Presidente da República, e tudo que seja positivo seria obra dos Governos dos Estados, do STF ou do Parlamento Nacional.

Ontem houve um movimento popular pacífico pró-Governo Bolsonaro, em São Paulo, constituído por famílias inteiras, envolvidas na bandeira do Brasil. O grupo foi ameaçado de ataque por um grupo baderneiro de black blocs mascarados, patrocinados pelo PT, por uma torcida de futebol organizada, e por facções criminosas.

Esse segundo grupo queimou o pavilhão nacional gritando impropérios contra o Presidente, e, frustrado por ter sido contido pela Polícia na sua atuação beligerante, praticou quebra-quebra, saques, toda sorte de vandalismo violento contra bens públicos e privados.

Pois a grande imprensa informava ontem à noite que os dois grupos se constituíam, um deles de defensores de Bolsonaro, e o outro de defensores da democracia no Brasil. Pergunto:  Ellery está amando isto, ou a isto ele estaria “indiferente”?

Reginaldo Vasconcelos       

    

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