PEQUENO ENSAIO
SOBRE O ÓDIO
Humberto Ellery*
Sempre que escrevo algum artigo e o lanço no cyberspace, expressando minha opinião sobre qualquer assunto, eu o faço como quem abriu uma gaiola e deixou aquela opinião voar livremente. Jamais me preocupo com réplicas ou tréplicas, mesmo porque opinião é como boca, todo mundo tem uma.
Como Chesterton, repito: “Não
me julguem pretensioso ou arrogante por afirmar que a melhor opinião sobre
qualquer assunto é sempre a minha, ao contrário, é pela mais absoluta humildade;
não tenho nenhum apego às minhas opiniões, estou sempre disposto a trocá-las
por outras, desde que fique demonstrado que estas novas opiniões são melhores
que as minhas”.
Peço aos que me contestam apenas que se atenham às opiniões e
aos argumentos, critiquem à vontade, uns e outros. Isso de crítica construtiva
depende do criticado, toda a crítica feita a mim é sempre construtiva, é sempre
bem-vinda, aproveito sempre para melhorar: “Prefiro a crítica que me corrige,
ao elogio que me corrompe” (Santo Agostinho).
Ultimamente, entretanto, mais que criticar minhas modestas opiniões,
tenho percebido, principalmente entre os que costumo chamar “bolsonáticos”, um
hábito muito peculiar de criticar a mim (argumentum ad hominem), e não
ao que pode e deve ser criticado: opiniões e argumentos.
Sou tenazmente crítico do atual (des)governo, mesmo tendo votado no
Bolsonaro (no 2º turno, fique bem claro!), levando em conta que a volta do PT
ao Poder seria mais pernicioso ao País (esta minha opinião já subiu no telhado).
Em recente crítica que fiz ao modo do “Mito” (des)governar a Nação,
pude observar duas críticas ao meu texto completamente incompreensíveis. O meu
amigo Reginaldo Vasconcelos afirmou que assim eu me manifestava por sentir ódio
ao “Mito”.
Ora, quem costuma ler minhas críticas já deve ter observado que
jamais critico pessoas, mas fatos, atos, atitudes, providências, e sempre
mantendo uma linguagem civilizada, educada e respeitosa, sem nunca passar nem
perto do que poderia ser qualificado como injúria, calúnia ou difamação.
Surpreende principalmente porque meu preclaro amigo Reginaldo é
jornalista, e mais do que isso, é Presidente da Academia Cearense de Literatura
e JORNALISMO, sodalício do qual tenho a honra de ser membro (por amizade
de quem me convidou, o Beto Studart, (Membro Benemérito) e não por eventuais
méritos meus, que não sou jornalista nem literato, apenas amo muito tudo isso.
Sendo o Reginaldo um jornalista, e afirmando que a minha
crítica é um ato de ódio, ele está desqualificando não só a Imprensa
Nacional, que em sua imensa maioria tem criticado o (des)governo do “Mito”,
como até a mídia internacional, que vai do esquerdista Le Monde ao
conservador The Guardian, passando por todos os grandes jornais americanos,
europeus e asiáticos. Será apenas ódio o que os move? Lembra a piada: “Se todo
mundo parasse de me perseguir eu deixaria de ser paranóico”.
Até revistas Médico-Científicas, que não cuidam de políticas que
não sejam referentes à Saúde, como a The Lancet, e a Jama – Journal of the
American Medical Association, têm feito críticas acerbas sobre sua
interferência desastrosa na política de combate ao Covid-19, com reflexos
absolutamente deletérios sobre a imagem do Brasil.
O grande intelectual e político americano Adlai Stevenson dizia que
o papel da imprensa era “separar o joio do trigo; e publicar o joio”. A função
primeira do jornalista, como olhos, ouvidos e, principalmente boca da sociedade,
é criticar, se for para elogiar vá ser assessor de relações públicas ou publicitário.
Suponho, peço que me perdoem se eu estiver errado, que por seu
incontestável amor ao “Mito”, amor que se traduz num sectário “culto à personalidade”,
eles (“bolsonáticos”) são levados a uma estreiteza mental que os faz acreditar
que se alguém não ama o “Mito” é porque o odeia. Tivessem lido Érico
Veríssimo saberiam que “o sentimento contrário ao amor não é o
ódio, mas a indiferença”.
Aliás, acredito que o ódio nem mesmo é um sentimento, mas uma
patologia. Como entender que uma pessoa psicologicamente sadia mantenha seu
coração permanentemente destilando sentimentos de vingança, vontade de
destruir, matar alguém que, vá lá, o prejudicou? Odiar é como beber um
copo de veneno na esperança de assim matar seu inimigo.
George Bernard Shaw (que foi também jornalista), disse que “o ódio
é a arma dos covardes”. Com perdão do grande intelectual irlandês, mas discordo
da assertiva, pois a ser assim o que seria a arma dos bravos? A vingança?
É o que dá pra entender: se o covarde não tem coragem de perpetrar
uma vingança (quem sabe, matar), o objeto do seu ódio, e fica remoendo o ódio, o
bravo, sem medo, mataria seu desafeto! Isso não acontece, pois os
verdadeiramente bravos não odeiam, pois conhecem o enlevo, o prazer divino do
perdão.
Ainda no terreno das discordâncias, permito-me discordar do poeta
sambista Ataulfo Alves, pois perdão não “foi feito pra gente pedir”, mas para
doar. Perdonum, perdonnare, pardonnér, vergeben, forgive – até etimologicamente é
um ato de doação, de amor, e que inunda meu coração, não deixando espaço para
sentimentos (ou patologias) torpes, rasteiros, abjetos, como ódios,
ressentimentos, inveja, mágoas.
Vou concluir citando o grande filósofo espanhol Ortega y Gasset
(para fingir uma erudição que não tenho) que nas Meditações do Quixote ensinou
que “o Amor é um divino arquiteto que baixou ao mundo – segundo Platão – “a fim
de que tudo no Universo viva em conexão”. A inconexão é o aniquilamento. O ódio
fabrica a inconexão, isola e desliga, atomiza o orbe e pulveriza a individualidade”.
COMENTÁRIO
Gosto de comentar os artigos
do meu amigo, concunhado e confrade da ACLJ, o insigne Humberto Ellery, porque
eles são supinamente inteligentes, embora muitas vezes dominados pelo ódio
ideológico, obumbrados pelo que Rui Martinho chama “cegueira dos paradigmas”.
Não há quem me faça bater
bocar com os “tudólogos” da Praça do Ferreira, ou mesmo da Volta da Jurema, e
sempre que um amigo de uma cidade sertaneja me liga para debulhar seus
disparates sobre o que ele entende da política nacional eu concordo plenamente.
Não perco o meu latim.
Este artigo do Humberto
Ellery eu vou comentar forçosamente (pelo artigo 14), porque fui citado, e
injustamente tachado de mau jornalista, que ataca as pessoas e não se restringe
a contestar as ideias que elas venham a expressar.
Ora, eu procuro ser
absolutamente racional, e nunca passional, quando combato alguma tese, sendo
totalmente inverídica a afirmação de que lhe haja denegrido pessoalmente alguma
vez, ao discordar do que ele diz.
Agora afirma que não
pratica violência verbal e que é a encarnação do “Humbertinho Paz e Amor”,
quando ataca as pessoas que defendem Bolsonaro de “bolsomínios”, quando o termo
certo é “bolsonaristas”, e de (des)governo a sua administração, que é legítima
e democrática.
Por fim, curioso Ellery
citar Erico Veríssimo, segundo o qual o contrário do amor seria a indiferença e
não o ódio. Pois tudo o que o articulista não tem sido é indiferente,
notadamente quando abona uma mídia totalmente odienta e viciada, que se
preocupa em induzir o povo a crer em suas opiniões mal-enjambradas, em vez de informar os fatos
de maneira verídica e imparcial.
Para esses órgãos de
imprensa que Humberto Ellery acha ótimos, aos quais costuma fazer eco sem
qualquer posição lúcida e crítica, tudo de mau que ocorre, inclusive os efeitos da pandemia,
seria culpa do Presidente da República, e tudo que seja positivo seria obra dos
Governos dos Estados, do STF ou do Parlamento Nacional.
Ontem houve um movimento
popular pacífico pró-Governo Bolsonaro, em São Paulo, constituído por famílias
inteiras, envolvidas na bandeira do Brasil. O grupo foi ameaçado de ataque por
um grupo baderneiro de black blocs
mascarados, patrocinados pelo PT, por uma torcida de futebol organizada, e por
facções criminosas.
Esse segundo grupo queimou
o pavilhão nacional gritando impropérios contra o Presidente, e, frustrado por
ter sido contido pela Polícia na sua atuação beligerante, praticou quebra-quebra,
saques, toda sorte de vandalismo violento contra bens públicos e privados.
Pois a grande imprensa
informava ontem à noite que os dois grupos se constituíam, um deles de
defensores de Bolsonaro, e o outro de defensores da democracia no Brasil. Pergunto: Ellery está amando isto, ou a isto ele estaria “indiferente”?
Reginaldo Vasconcelos
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