AS PALAVRAS
E AS COISAS
Rui Martinho Rodrigues*
Palavras têm sido consideradas por uns como naturalmente ligadas ao
que designam. Outros consideram-nas meramente convencionais. Platão (428 – 348)
reconheceu o convencionalismo, já que os vários entes podem receber nomes
diversos. Mas defendeu a reserva da inteligibilidade da linguagem. A dinâmica
das línguas precisa da moderação da gramática normativa para que a comunicação
possa ter um mínimo de clareza. A disputa entre convencionalismo e
essencialismo foi afastada por Karl Raymond Popper (1902 – 1994), que recusa
ambas as posições e repudia o voluntarismo da ressignificação das palavras como
um convite ao sofisma.
Os estruturalistas e pós-estruturalistas, vindos dos estudos de literatura e linguística, diversificaram-se em diferentes tendências por diversos campos do conhecimento, chegando ao desconstrutivismo. A oposição entre linguística e gramática favoreceu a ressignificação das palavras. Abriu a porta para o relativismo cognitivo e axiológico.
Os estruturalistas e pós-estruturalistas, vindos dos estudos de literatura e linguística, diversificaram-se em diferentes tendências por diversos campos do conhecimento, chegando ao desconstrutivismo. A oposição entre linguística e gramática favoreceu a ressignificação das palavras. Abriu a porta para o relativismo cognitivo e axiológico.
A interpretação da História,
marcada por um certo reducionismo de tudo ao conflito, fortaleceu as teses da
omnipresença da vigilância e do controle entendidos como sempre ilegítimos,
como se observa nas obras de Michel Foucault (1926 – 1984), com destaque para a
obra “As palavras e coisas”. A isso somou-se o entendimento de que se deve
mudar o foco da educação escolar, evitando o “conteudismo”. A ênfase passa a
ser, de um lado, na capacidade de pensar; de outro, nos valores, promovendo a
solidariedade, a paz e a justiça com a ajuda de técnicas de psicologia,
conforme descrito por Pascal Bernardin, na obra “Maquiavel pedagogo”, com farta
documentação da União Europeia e do Ministério da Educação da França.
Ministrar valores no ensino oficial é adotar uma ortodoxia. Fazê-lo
por meio de técnicas psicológicas é manipulação de consciência. Justiça e
solidariedade são conceitos indeterminados. Caso seja oficializado um
entendimento de tais valores teremos uma consciência proposta pelo Estado,
teremos totalitarismo.
Ensinar a pensar se faz nas disciplinas de lógica,
epistemologia e nas metodologias científicas, não com técnicas de convencimento
ou pregação de determinados entendimentos do que seja justiça ou solidariedade.
A escola da pregação de valores tende a ser catequética. Saber pensar não
prescinde dos conteúdos. Não se pensa só com método, sem substância objetiva a
ser processada. Não se faz construção sem tijolos e outros materiais que são os
conteúdos da obra.
O projeto iluminista de refazer consciências por meio de um saber
supostamente unívoco, calcado na superioridade das ciências da natureza sobre o
senso comum, deixou o legado totalitário da presunção de esclarecimento. No
campo dos valores isso é trágico. Abre o caminho para a uma consciência oficial. Um pensar correto
que se distingue da lógica e da epistemologia, leva ao uso abusivo de palavras
ao sabor de interesses e paixões.
Manifestações pacíficas, propostas de descentralização da federação
e de Estado mínimo, sem um partido organicamente constituído, defendendo a
liberdade de expressão pode ser rotulada como fascista. Vândalos portando
facas, coquetéis molotov e bastões, defesa do controle da liberdade de
expressão pela criação de um conselho nacional da imprensa ou pela censura das
redes sociais e a ideia de um Estado poderoso e controlador são adjetivados
como defensores da democracia. O convencionalismo semântico extremado
desorienta até pessoas inteligentes e cultas, sob a influência do efeito manada
promovido por intelectuais e pela grande imprensa.
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