O DNOCS QUE EU
QUERO SOERGUER
Cássio Borges*
São dois os meus
propósitos em incentivar e defender a publicação de manifesto em favor da permanência e manutenção
do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs): Primeiro, para dar o meu total apoio ao engenheiro Ângelo Guerra, que
fez uma excelente administração quando esteve à frente do nosso Departamento
tendo, inclusive, sido eleito no ano de 2018 “O Homem do Ano” pela Academia
Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ), cujo Presidente é o competente e
sério Jornalista Reginaldo Vasconcelos.
Segundo, para
consolidar perante a opinião pública o magnífico e importante trabalho iniciado
pelo Deputado Estadual Walter Cavalcante em favor da formação de uma Frente
Ampla Parlamentar em favor da manutenção e permanência do Dnocs no cenário
nordestino. Referido Deputado, inclusive, conseguiu a assinatura de todos (eu
disse, “de todos”) os deputados cearenses, independentes do partido a que
pertencem, em favor desta sua louvável tese. Toda a sociedade cearense e
nordestina não pode deixar de ter conhecimento desta importante iniciativa do
citado Deputado.
Quando entrei no
Dncos em Recife, em 1958 (em plena seca), e tomei conhecimento do
pronunciamento do primeiro Diretor-Geral do Dnocs, Miguel Arrojado Lisboa, na
Escola de Engenharia do Rio de Janeiro, desde então, entendi a razão porque ele
se referiu na sua conferência, ali pronunciada, o que ele chamou de ações do Dnocs para o combate aos efeitos da seca, seguindo um programa de obras tendo
como foco “dados de real e pura
observação do terreno”.
Este termo “dados
de real e pura observação no terreno” ficou na minha mente desde então, e
ainda continua até hoje. Vi e manuseei o trabalho original traduzido e
corrigido, entrelinhas, por alguém do original em inglês, de próprio punho,
escrito pelo Engenheiro americano Geraldo Waring, do Bureau of Reclamation dos
Estados Unidos, que fez a primeira medição de vazão na América do Sul, no Rio
Jaguaribe, na ponte ferroviária de Iguatu. Lembro, eram três páginas
datilografadas bastantes envelhecidas pelo tempo, com a tradução em português,
manuscrita encimada em cada palavra. O Engenheiro Joaquim Guedes Correia Gondim
Filho tem conhecimento deste histórico documento e, ainda pode ter, quem sabe,
em sua posse, o original.
O funcionário do Dnocs que auxiliou o Engenheiro Geraldo Waring quando ele chegou ao Brasil no
início dos anos de 1910 ou 1911 chamava-se Clarindo (citado em uma das doze
publicações da Missão Francesa/GVJ/SUDENE) sobre o vale do Rio Jaguaribe. A
segunda pessoa que aprendeu a técnica de medir vazão com molinete fluviométrico
em rios, ensinado por Waring, foi seu genro Manuel Silva, um grande
hidrometrista que o Dnocs teve e com quem trabalhei até o início da década de
90, quando me aposentei. Esta bela
história pode ser contada, também, pelos engenheiros do Dnocs Heitor Hugo da
Silveira e José Arnóbio Souza Alves, que realizaram medições, em cotas alta,
nas enchentes de 1985, no Posto Fluviométrico de Peixe Gordo, no Rio Jaguaribe,
localizado logo acima da cidade de Limoeiro, Ceará. Pelo fato de eu ter detalhado conhecimento
desta importante parte inicial da
história do Dnocs, o engenheiro Genésio Martins de Araújo, então Diretor-Geral
Adjunto do Dnocs, dizia que eu era o “Missionário
da Hidrologia do Nordeste”.
Quando hoje vejo
tantos erros grosseiros de engenharia cometidos no projeto da Barragem do
Castanhão como, por exemplo, um erro de até 300% na determinação de sua vazão
regularizada, fico estarrecido e decepcionado em observar a indiferença da
comunidade técnica/científica do Estado do Ceará, em aceitar este fato como a
coisa mais natural deste mundo, sem consequências, que deve ser esquecido e
retirado da história dos recursos hídricos de nossa Região. E o extraordinário
engenheiro Miguel Arrojado Lisboa, o que diria, se ainda estivesse vivo?
Mas não foi só este
erro no projeto do referido reservatório, existem outros (cerca de dez), tão
graves como este, como é o caso do índice evaporimétrico que os idealizadores e
projetistas daquele empreendimento (leia-se Departamento Nacional de Obras de
Saneamento – DNOS com o apoio total da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado Ceará)
cometeram ao fazerem a simulação hidrológica do referido reservatório usando o
índice evaporimétrico como sendo de apenas 1700 milímetros, mas no seu "Eia Rima" vê-se citado como sendo 2.893,5 milímetros. Outro erro inacreditável e até
admite-se ter sido proposital para aumentar, ficticiamente, a vazão regulariza
do citado açude e, assim, justificar a sua construção. Por isso, afirmavam que
sua vazão regulariza era 30 m³/s (uma quimera) e hoje admite-se ser de apenas
10 m³/s, como já preconizava o saudoso Professor Theophilo Ottoni.
Tive a felicidade de
convidar o grande e saudoso Engenheiro pernambucano Jorge Staico, especialista
em recursos hídricos, um dos profundos conhecedores do vale do Rio São
Francisco, pertencente ao quadro de servidores do Departamento Nacional de
Obras de Saneamento – DNOS (entidade idealizadora e projetista da Barragem do
Castanhão), para prefaciar o meu Livro A FACE OCULTA DA BARRAGEM DO CASTANHÃO –
Em Defesa da Engenharia Nacional. Que extenso e belo Prefácio ele fez! Por este
prefácio vê-se que sempre esteve do meu lado figuras exponenciais da Engenharia
Nacional como o Professor Theophilo Benedicto Otoni Netto, Professor Emérito da
Escola Nacional de Engenharia do Rio de Janeiro e o Professor Paulo Afonso Leme
Machado, autor da obra “Direito Ambiental Brasileiro” que me concedeu a honra
de escrever as abas deste meu livro em sua primeira edição.
Quando a sede do Dnocs foi transferida do Rio de Janeiro para Fortaleza todo acervo da Seção de
Hidrometria que funcionava naquela cidade foi transferido para Recife-PE tendo
sido eu o responsável para abrir os dez ou doze (grandes) caixotes contendo
aquela preciosa documentação. Mais uma razão para eu me identificar com a
Ciência Hidrológica. E desde então,
passei a operar a Rede Básica de Hidrometria do Nordeste até o início da década
de 90, quando me aposentei.
Mas um dos mais
significativos trabalhos que fiz quando era de minha competência e
responsabilidade a operação e manutenção da Rede Básica de Hidrometria do
Nordeste foi na enchente excepcional no
Rio Jaguaribe, em 1985, quando, através das duas equipes de hidrometria do Dnocs no Estado do Ceará, fizemos medições de vazões em cotas altas no Posto
Fluviométrico de Peixe Gordo tendo à frente
os dedicados e competentes engenheiros Heitor Hugo da Silveira e José
Arnóbio de Souza Alves, juntamente com os experientes hidrometristas sediados
no Ceará na Segunda Diretoria Regional daquele Departamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário