quarta-feira, 9 de outubro de 2019

POESIA - Expurgo (AI)


EXPURGO
Akemi Ito*

Que saia de mim essa saudade
Que me invade
Deixando um gosto de aspirina derretida.

Que saia de mim o toque teu
Que arrefeceu
Meu corpo quente, despido e suado
De cheiro doce e sabor almiscarado.

Que saia de mim essa vontade
De beber pela Cidade
Cantando A Palo Seco
E pensando obscenidades se te beijo.


Expurgue de mim a falsa decência
Que esconde essa carência
De querer-te sempre aqui.

Afasta de mim todo o desejo
De dizer sem nenhum pejo
Que te amo por amar.

Tira de mim a poesia
Que martela noite e dia
Sua vontade de voar
E que usa meus dedos pra melhor se expressar.

Então...
Traz pra mim a melancolia
A tarde de domingo
O véu negro da viúva
O desespero da mulher abandonada
A dor do enfermo... Assim não direi mais nada!


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