ÁGAPE
Reginaldo
Vasconcelos*
Nós, sós, a cama, e o
banquete está servido.
A renda pilosa do teu suave tegumento exposto
atoalha e
suporta os acepipes e iguarias corporais.
De entrada, o
oloroso consommé dos teus humores
somáticos,
alhos e aspargos, o salmão e o camembert,
as olivas dos teus olhos.
À flor da pele trescala no
mesmo buquê apetitoso o sabão da costa,
em comandita com o sudorinho da
excitação e da ansiedade.
No exórdio aperitivo do
apetite, o Porto mavioso do teu hálito de Afrodite,
o teu plexo arfante como nas
evolações do repasto que fumega.
Protela-se e
antegoza e logo voraliza a opção de resistência,
a proteína da paixão, a grande
deglutição carnal,
o prato principal, na
baixela argêntea da luxúria.
Em guarnição da
esculência, a promessa pueril das lactantes,
dupla, fremente, de topografia
delicada,
e as hastes substanciosas das coxas firmes, além das nalgas gulosas.
O vinho
inebriante do prazer harmoniza a natureza do festim
e, por fim, resta a compota do
pospasto, o pudim, o último espasmo do licor e do café.
Os eflúvios do champanhe, o brinde ao amor,
as bolhas gentis dos ósculos mil
que
escalam o cristal manso dos encantos complacentes e servis.
Anunciado o torpor pós-prandial,
que venha a merecida letargia gozosa e dramatúrgica de Morfeu.
COMENTÁRIOS
Belíssima essa crônica
poética e filosófica, densa e clássica, sutilmente erótica, de uma estilística
incomparável.
Arnaldo Santos
Fazia tempo que vadiava
pela minha cabeça a produção de um texto que fizesse uma analogia interessante
entre uma relação sexual e uma experiência gastronômica. Como a intenção não era
propriamente erótica, muito menos pornográfica, mas eminentemente literária, na vertente lírica, tive
que lançar mão de um vocabulário rebuscado. Fico honrado com o comentário elogioso do confrade Arnaldo Santos.
Reginaldo Vasconcelos
Eis a esplêndida polissemia da Língua Portuguesa, tendo por exemplo
o verbo alimentar-se. Deglute-se das mais diversas maneiras e, depois, os dois,
nos braços de Morfeu, deixam o leitor comprazer-se com uma poética singular; e,
a igual tempo, alteada pelas figuras e tropos magníficos da LP e estro
incomparável deste poeta, que é modelo de pessoa e paradigma de compositor
transitado pela magnificência dos pés da Arte Poética. Que segunda-feira, heim?
Vianney Mesquita
A apreciação literária positiva de Vianney Mesquita é um laurel,
que me gratifica e me estimula. Rigoroso filólogo, esteta da palavra, sonetista
virtuoso, para quem a Língua Portuguesa é matéria-prima da beleza no dizer, seus encômios são recebidos por mim com respeito e reverência – ressalvada a suspeição da amizade e do afeto que mutuamente nós nutrimos.
Reginaldo Vasconcelos
Eis a esplêndida polissemia da Língua Portuguesa, tendo por exemplo o verbo alimentar-se. Deglute-se das mais diversas maneiras e, depois, os dois, nos braços de Morfeu, deixam o leitor comprazer-se com uma poética singular; e, a igual tempo, alteada pelas figuras e tropos magníficos da LP e estro incomparável deste poeta, que é modelo de pessoa e paradigma de compositor transitado pela magnificência dos pés da Arte Poética.
ResponderExcluirQue segunda-feira, heim?
VM.