O MEU DEUS
Karla Karenina*
Já faz tempo que meu
Deus saiu de dentro de um livro de capa preta!
Faz tempo que meu
Deus desceu da nuvem, saiu do trono e não tem mais forma de senhor de barbas
longas!
O meu Deus se fez
canção, se fez poema... se fez arte!
O meu Deus aquece a tudo
num amarelo incandescente a que chamam de sol, tem ondas e sal e também é
feminino. É mãe generosa e faz brotar tudo que há. Tem tantas formas, cores e
nomes...
Bate suas asas num voo
rasante, chamando a atenção da sua porção felina que se espreguiça em minhas
pernas e segue cantando, por cima das flores, dizendo que me viu!
O meu Deus corre
leve pelas águas em suas penas brancas impermeáveis.
O meu Deus gargalha
em corpo de criança quando o pai lhe beija a barriga, me aparece nos longos
dedos da filha amada e bate dentro do meu peito!
Ah! O meu Deus
conversa comigo nas palavras dos amigos e nos livros…
Meu Deus está agora
florindo aos borbotões, exalando seu cheiro pelo ar... Ao mesmo tempo ouço o
ruído das rodas do seu carrinho de colher sucata. Sim, ele vem cedinho recolher
o que descarto e faz disso maravilhas! As maravilhas que não vemos e existem
mesmo assim. Anonimamente ele passa e cumpre sua missão de transformar.
Depois toma nova
forma, agora mais atlética, corre, pula, sobe e desce de um caminhão e pega, em
sacos, meus restos, tudo aquilo que não me serve mais e é podre e desprezível e
leva consigo no caminhão do lixo. E se não fosse ele?
Pois é! O meu Deus
faz isso tudo!
Está aqui e aí onde
o seu olhar se põe e às vezes toma banho de sol deitado no meu jardim, abanando
o rabo quando me vê!
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