terça-feira, 4 de junho de 2019

ARTIGO - Os Intelectuais e as Forças Armadas (HE)


OS INTELECTUAIS
E AS FORÇAS ARMADAS
Humberto Ellery*

O ambiente político brasileiro ainda está muito conflagrado. Há muito ódio e estupidez no campo onde deveriam entrar em luta apenas ideias, argumentos, ponderações, críticas, sempre num ambiente de respeito, sem agressões pessoais e sem o insuportável argumentum ad hominem.

As duas seitas extremistas e absolutamente radicais, lulistas de um lado e bolsonaristas do outro, ficam a se agredir, atirando fartas porções de ódio uma na outra, na tentativa de aniquilação do inimigo (já não são mais apenas adversários), sem perceberem que na realidade estão fortalecendo uma à outra, pois o ódio é o alimento de ambas. Eu, que não sou lulista nem bolsonarista, quando tento “meter meu bedelho” no meio levo porrada dos dois lados.

Tenho fugido dessa lide, não por medo ou carência de argumentos para defender meus pontos de vista, mas por puro cansaço, “capacidade escrotal repleta”, como afirmou elegantemente o Senador Major Olímpio, líder do Bolsonaro na Câmara Alta (será que as senhoras Senadoras também estão com esse problema?). A verdade é que tenho me dedicado mais à Poesia, que não me dá tantos dissabores.

Hoje, no entanto, resolvi mudar um pouco o meu foco para o militarismo, tão presente em minha vida, desde meu pai, o General Ellery, até meus inesquecíveis anos de Marinha do Brasil, casa querida de onde saí em 1980, mas, pelo tanto que a amo, jamais saiu de mim. 

As Forças Armadas, instituições organizadas com base na Disciplina e Hierarquia (CF Art 142), constituem um sistema que, em última análise, garantem a sobrevivência do Estado. A relação da autoridade que ordena e o subordinado que obedece não deriva de um poder intrínseco de quem manda, mas da própria Hierarquia (do grego hierós: sagrado + arkhè: autoridade), cujo direito e legitimidade ambos reconhecem, pois a subordinação não deslustra, de forma alguma, a dignidade do militar. Obedecer é tão nobre quanto comandar.

Alguns intelectuais discorreram sobre o militarismo. Colhi alguns exemplos:

“A Disciplina Militar prestante / não se aprende, senhor, na fantasia, / sonhando, imaginando ou estudando, senão vendo, tratando e pelejando”.
Luiz Vaz de Camões, Os Lusíadas, Canto X, 153ª estrofe.


“Uma Nação que confia em seus direitos, em vez de seus soldados, engana-se a si mesma e prepara a própria queda”.
Ruy Barbosa


“É graças ao soldado, e não aos sacerdotes, que temos liberdade de Religião;

É graças ao soldado, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa;

É graças ao soldado, e não aos advogados que temos direito a um julgamento justo;

É graças ao soldado, e não aos professores, que temos liberdade de ensino;

É graças ao soldado, e não aos políticos, que temos Democracia.”
Charles Province

“Um país só tem Liberdade e Democracia se as Forças Armadas permitirem”
Jair Messias Bolsonaro

“Tente colocar bom senso na cabeça de um tolo, e ele dirá que é tolice”.
Eurípedes 






COMENTÁRIO

O caráter instigante dos artigos e Humberto Ellery sempre me estimula a comentá-los, pois é difícil ficar indiferente e passivo diante de suas colocações, via de regra argutas e incisivas.

Mas esse meu confrade, contraparente e amigo vive um dilema afetivo muito agudo, compelido que foi a votar em Bolsonaro, como ele mesmo confessou em outros escritos, por aversão ao petismo, porém sangrando na consciência ao fazê-lo, por sentir-se traindo os seus grandes ídolos e mitos – ele que foi discípulo de Ulysses, de Sarney, de Temer e que tais.

Ele acerta quando assevera que existe ódio político mútuo no País atualmente, mas se equivoca quando pontua que  esse sentimento ainda está polarizado entre a esquerda e a direita. Não. Presentemente a esquerda é um féretro canino, que embora incomode com o fécio cadavérico, ninguém desperdiça energia em chutar cachorro morto.

A grande polarização neste momento não é mais político-ideológico, mas político-filosófico. Os grandes antípodas nessa diatribe são a velha direita – aquela do Centrão, dos esquemas e dos conchavos, afeita à farsa republicana da “representação eleitoral” – e a direita nova, esta da franqueza e da transparência, da democracia direta pelas redes sociais.

Quando fala do militarismo, entretanto, Ellery fá-lo de cátedra – e aqui há outro conflito íntimo, pois a caserna que ele tão bem conhece e tanto ama está muito bem posicionada nos cânones da franqueza e da honestidade trazidas pela chamada política nova.

Bolsonaro é militar, seu vice também, vários ministros idem, e creio que se o seu Governo fracassasse o petismo não voltaria ao poder porque os generais impediriam.

Reginaldo Vasconcelos
    



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