NA FARMÁCIA DO SEU ALMEIDA
Totonho Laprovitera*
Totonho Laprovitera*
Cidadão de bem, “Seu” Almeida vive na tranquilidade da sua moradia, posta no
sobrado de sua tradicional e bem estabelecida farmácia, no Conjunto Esperança,
em Fortaleza.
Pois bem, após trabalhar pesado o sábado inteiro, fazendo as vezes de balconista, caixa, farmacêutico e enfermeiro, “Seu” Almeida subiu para seus aposentos, onde banhou-se, jantou, aboletou-se na velha rede de dormir, assistiu um riliquim de televisão e caiu num sono ferrado. A noite cerrou-se e uma repentina e brusca chuva começou a cair, compondo um clima ideal para a boa qualidade da dormida de qualquer cristão.
Lá pelas tantas, Dona Mazé, sua esposa, ouviu o ecoar de um insistente toque-toque metálico na porta da farmácia.
– Almeida, Almeida...
– Que foi Mazé?
– Almeida, tão batendo na porta da farmácia...
– Ah, Mazé, essa não...
– Almeida, vá lá ver o que estão querendo...
– Mazé, tô morrendo de sono e não vou, não...
– Almeida, vá lá... Vai que é um pai agoniado, na precisão de algum medicamento para um filho com febre, sei lá... Vá lá, ômi.
– Mazé... Isso lá é hora de se ir à farmácia...
– Vá, meu filho... Deus está vendo e é até uma caridade que você vai fazer.
Aí, “Seu” Almeida decidiu largar o conforto de seu sono para atender ao “necessitado” cliente. Por riba do listrado pijama comprido vestiu-se de calça e camisa e, protegendo-se da chuva, desceu a escada externa da edificação.
No aguardo, Dona Mazé escutou o subir e descer da porta de enrolar dar-se de jeito avexado. Depois, o arrastar das alpercatas e o tibungar do marido na rede.
– Que que foi, Almeida?
– O que foi?
– Sim...
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