DECODIFICÁVEL
POR LEIGOS
POR LEIGOS
Vianney Mesquita*
A Ciência é o grande antídoto do veneno do entusiasmo e da
superstição. (ADAM SMITH – filósofo e economista grão-britano – Escócia. Kilkcardy,
5.6.1723; Edimburgo, 17.7.1790 – 67 anos).
Transitei pela agradável experiência de deparar para ler os
originais do livro Impactos Ambientais da Implantação de Parques de Energia Eólica no
Brasil, constante de dezenove
capítulos defendidos por um pugilo de investigadores das Ciências da Terra, em
sua maioria docentes da Universidade Federal do Ceará, de projeção
internacional.
O volume, organizado – e também escrito – pelos professores
doutores Adryane Gorayeb Nogueira Caetano, Antônio Jeovah de Andrade Meireles e
Christian Brannstrom (este visitante), do Departamento de Geografia da
mencionada Academia, encontra-se no prelo, nas oficinas da Imprensa
Universitária dessa Instituição, e vai ser editado com o sinete da legendária Edições UFC, como parte da Coleção de Estudos Geográficos dessa Universidade.
Os assinantes dos capítulos são pesquisadores de elevado renome no
concerto de altos estudos da Ciência Geográfica e de seus variados ramos
disciplinares, todos acreditados pelos órgãos de apoio no âmbito da
investigação ordenada desse conjunto de saberes, como CNPq, FINEP, CAPES et
reliqua.
Eles registram, a maior parte – consoante sucede com os
organizadores há pouco referidos, que defendem, cada qual, volume superior a
duzentas publicações – centenas de obras próprias e em parceria, ensaios,
artigos, capítulos de livros, textos para eventos científicos, trabalhos
técnicos etc., de modo a conduzir os experimentos da Ciência Geográfica na UFC,
no Brasil e no Mundo, ao topo da glória científica. Este conforma, pois, fato orgulhosamente
representativo do elevado estatuto do nosso estado d’arte na contextura da
produtividade local no chamado saber
parcialmente unificado (Herbert Spencer), evidentemente, procedendo às
ligações naturais com outros ramalhos disciplinares, porquanto, como exprime a
(ainda) muito acreditada Escolástica, non
datur scientiae de individuo – não existe saber particular.
Não me anima nem se exprime cabível, neste passo, proceder a exame
detido a respeito de cada segmento do livro, em especial, por não serem seus
teores temas de meus tratos de arguição, bem assim, com vistas a não amatar a
vontade, por parte do leitor especialista, de se abeberar dos seus conteúdos,
pois ele intenta vê-los, antes que alguém expresse algo a respeito, à guisa de
manchete.
Lícito a mim se perfaz, contudo, na qualidade de leigo alfabetizado
no assunto, exprimir a ideia de que o volume sob nota empreende análises profundas
e isentas acerca da Geografia da Energia, em diligências sobre a utilização de
força eólica no País, nomeadamente no que respeita à implantação de parques sustentados
por esta atmosphaerica fortitudinem em
movimento, particularmente no Ceará, e, em alguns casos, recorrendo a procedentes
cotejamentos com circunstâncias de Estados Unidos e México.
Dois Destaques da
Configuração Textual
Quem opera com escritos do saber
privativamente reunido entende que, conforme os ditames da Filosofia da Ciência
e de suas manifestações conceituais afins, toda instrução transmissiva possui
léxico próprio. De tal sorte, a Ciência Geográfica também resguarda o seu, representado
por uma linguagem particular, mediante a qual transporta à comunidade leitora
suas compreensões em curso e, principalmente, os achados sistematicamente
deparados pelo incessante apetite de busca, peculiar ao investigador, sempre
açulado pela sofreguidão da demanda por novos e intermináveis conhecimentos.
Em razão, pois, da infinidade
de palavras, expressões, denominações, conceitos, medidas e percepções a
respeito dos eventos da Terra e do Orbe inteiro, o que é válido para o complexo
polimorfo da Ciência, a terminologia geográfica, também, se exprime multíplice,
demandando dos estudiosos – até mesmo dos diletantes e curiosos – o controle
correto e exato de suas conclusões, sob pena de as leituras (decodificações)
escorregarem no liso solo da pretensa verdade para o lado da inautenticidade,
sobrando, assim, absolutamente deformadas, conducentes, por conseguinte, à
formação maléfica do erro e sua multiplicação até por séculos.
Dentre as centenas e
centenas de patranhas “científicas” ocorrentes por desentendimento do real
expresso, em todo o tempo, tem ressalto como célebre, exempli gratia, a ideia ptolomaica da Terra como centro do Universo
– o Sistema Geocêntrico, de Cláudio Ptolomeu – aceita durante 1.400 anos,
quando desmentida pelos estudos de Nicolau Copérnico (Teoria Geocêntrica),
Galileu Galilei e Johannes Kepler, determinando, até hoje, o Sol como fulcro do
Sistema Planetário.
Primeira evidência
Após esse parêntese (talvez
excessivo), muitas ocorrências me conquistaram no texto, do qual evidencio
duas, a primeira das quais repousa na determinação natural dos assinantes dos capítulos (que não tiveram, decerto, a
atenção chamada para tal), com vistas a facilitar ao extremo a interpretação de
suas opiniões, por parte do leigo bem aprestado de informações, mesmo sem
deixar de empregar os léxicos necessários, isto é, o repertório peculiar a este
ramo disciplinar do ensino preceituado, em que se inclui a Geografia, com a) objeto
material devidamente configurado, b) escopo formal definido e c) corpo de
doutrina estabelecido e ordenado – rol de circunstâncias requerido para o
estabelecimento de um saber em Ciência, o terceiro elemento do Mundo Três, de Karl Raimund Popper: a
procura e descoberta de fatos científicos.
Esta decisão consequente de
facilitar a decodificação decorre, certamente, do constante aprendizado dos
autores no recorrente exercício de escrever para periódicos científicos, dos
quais recebem instruções nesse sentido, bem como no diuturno trato com seus
pares na Academia e nos eventos de sua lavra, onde se completam e aperfeiçoam à
medida do decurso temporal, nas atividades de ensino, pesquisa e extensão,
consoante os ditames da Lei 5540/1968, ao prescrever a indissociabilidade
dessas atividades.
A referência aqui,
manifestamente, não diz respeito àquelas pessoas totalmente jejunas nos
argumentos expendidos nos dezenove segmentos de Impactos Socioambientais da Implantação dos Parques de Energia
Eólica no Brasil, porém, concerne a consulentes que ultrapassam o
mero trio alfabetizador, este concertado nas ideias de recepção dos códigos do letramento
insertos nas Ciências da Educação – ler, escrever e contar.
Segunda evidência
Outro aspecto de honroso
destaque neste excepcional conjunto dissertativo-instrucional atinente à
instalação de parques eólicos no Brasil está na mais absoluta isenção dos
investigadores no referente à obediência rigorosa às exigências morais
impressas pela Epistemologia e matérias correlatas no decurso de uma demanda
científica.
Não se divisa nos dezenove artigos
da obra sob escólio qualquer tendência, nenhum pendor que leve à simpatia
velada por módulos individuais e empresariais componentes e objetos de suas
demandas, a despeito dos chamados esquerdismos
ou direitismos festivos e
“antropologices”, tão em voga nos dias fluentes, quando têm vez os exageros e
ilogismos detratores da verdade, em favor de pessoas e instituições, os quais,
nos fins das buscas, a estas aportam resultados totalmente dissimulados,
denotando a irresponsabilidade e a indiferença de pseudopesquisadores, que só
empanam a atividade das investigações verdadeiras e vazadas nos ditames sadios e
esmerados das disciplinas que cuidam das saudáveis práticas de pesquisa.
Tampouco se desvelam,
também, aversões dirigidas, de caso pensado e sem prova, a comportamentos
avessos ao que é correto, mostrando-se, todavia, por meio de comprovações escritas
e com fonte indicada, racionais e sensíveis ao leitor, por exemplo, os defeitos
e manias, pouco responsáveis e deseixados da ética, das organizações executoras dos projetos, muitas vezes,
mascarando situações com o viso de, jeitosamente, ao repetir e copiar dados
dispares em relação à realidade da peça projetada, iludir os órgãos de
certificação do Governo e lograr o documento final de implantação, em prejuízos
incalculáveis à Natureza e às populações dos entornos dos parques eólicos.
Não fossem as instituições
e pessoas comprometidas e se não existisse essa literatura de tanta qualidade e
que se esmera, a cada dia, no Brasil, do quilate desta sob comento, o que seria
da Sociedade?
Por fim, o fato é que
experimentei uma vantagem enorme ao ler obra de tão alçado valor. Uma graça!
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