segunda-feira, 10 de junho de 2019

ARTIGO - Decodificável por Leigos (VM)


DECODIFICÁVEL 
POR LEIGOS
Vianney Mesquita*



A Ciência é o grande antídoto do veneno do entusiasmo e da superstição. (ADAM SMITH – filósofo e economista grão-britano – Escócia. Kilkcardy, 5.6.1723; Edimburgo, 17.7.1790 – 67 anos).


Transitei pela agradável experiência de deparar para ler os originais do livro Impactos Ambientais da Implantação de Parques de Energia Eólica no Brasil, constante de dezenove capítulos defendidos por um pugilo de investigadores das Ciências da Terra, em sua maioria docentes da Universidade Federal do Ceará, de projeção internacional.



O volume, organizado – e também escrito – pelos professores doutores Adryane Gorayeb Nogueira Caetano, Antônio Jeovah de Andrade Meireles e Christian Brannstrom (este visitante), do Departamento de Geografia da mencionada Academia, encontra-se no prelo, nas oficinas da Imprensa Universitária dessa Instituição, e vai ser editado com o sinete da legendária Edições UFC, como parte da Coleção de Estudos Geográficos dessa Universidade.



Os assinantes dos capítulos são pesquisadores de elevado renome no concerto de altos estudos da Ciência Geográfica e de seus variados ramos disciplinares, todos acreditados pelos órgãos de apoio no âmbito da investigação ordenada desse conjunto de saberes, como CNPq, FINEP, CAPES et reliqua.

Eles registram, a maior parte – consoante sucede com os organizadores há pouco referidos, que defendem, cada qual, volume superior a duzentas publicações – centenas de obras próprias e em parceria, ensaios, artigos, capítulos de livros, textos para eventos científicos, trabalhos técnicos etc., de modo a conduzir os experimentos da Ciência Geográfica na UFC, no Brasil e no Mundo, ao topo da glória científica. Este conforma, pois, fato orgulhosamente representativo do elevado estatuto do nosso estado d’arte na contextura da produtividade local no chamado saber parcialmente unificado (Herbert Spencer), evidentemente, procedendo às ligações naturais com outros ramalhos disciplinares, porquanto, como exprime a (ainda) muito acreditada Escolástica, non datur scientiae de individuo – não existe saber particular.

Não me anima nem se exprime cabível, neste passo, proceder a exame detido a respeito de cada segmento do livro, em especial, por não serem seus teores temas de meus tratos de arguição, bem assim, com vistas a não amatar a vontade, por parte do leitor especialista, de se abeberar dos seus conteúdos, pois ele intenta vê-los, antes que alguém expresse algo a respeito, à guisa de manchete.

Lícito a mim se perfaz, contudo, na qualidade de leigo alfabetizado no assunto, exprimir a ideia de que o volume sob nota empreende análises profundas e isentas acerca da Geografia da Energia, em diligências sobre a utilização de força eólica no País, nomeadamente no que respeita à implantação de parques sustentados por esta atmosphaerica fortitudinem em movimento, particularmente no Ceará, e, em alguns casos, recorrendo a procedentes cotejamentos com circunstâncias de Estados Unidos e México.


Dois Destaques da Configuração Textual

Quem opera com escritos do saber privativamente reunido entende que, conforme os ditames da Filosofia da Ciência e de suas manifestações conceituais afins, toda instrução transmissiva possui léxico próprio. De tal sorte, a Ciência Geográfica também resguarda o seu, representado por uma linguagem particular, mediante a qual transporta à comunidade leitora suas compreensões em curso e, principalmente, os achados sistematicamente deparados pelo incessante apetite de busca, peculiar ao investigador, sempre açulado pela sofreguidão da demanda por novos e intermináveis conhecimentos.

Em razão, pois, da infinidade de palavras, expressões, denominações, conceitos, medidas e percepções a respeito dos eventos da Terra e do Orbe inteiro, o que é válido para o complexo polimorfo da Ciência, a terminologia geográfica, também, se exprime multíplice, demandando dos estudiosos – até mesmo dos diletantes e curiosos – o controle correto e exato de suas conclusões, sob pena de as leituras (decodificações) escorregarem no liso solo da pretensa verdade para o lado da inautenticidade, sobrando, assim, absolutamente deformadas, conducentes, por conseguinte, à formação maléfica do erro e sua multiplicação até por séculos.

Dentre as centenas e centenas de patranhas “científicas” ocorrentes por desentendimento do real expresso, em todo o tempo, tem ressalto como célebre, exempli gratia, a ideia ptolomaica da Terra como centro do Universo – o Sistema Geocêntrico, de Cláudio Ptolomeu – aceita durante 1.400 anos, quando desmentida pelos estudos de Nicolau Copérnico (Teoria Geocêntrica), Galileu Galilei e Johannes Kepler, determinando, até hoje, o Sol como fulcro do Sistema Planetário.

Primeira evidência

Após esse parêntese (talvez excessivo), muitas ocorrências me conquistaram no texto, do qual evidencio duas, a primeira das quais repousa na determinação natural dos assinantes dos capítulos (que não tiveram, decerto, a atenção chamada para tal), com vistas a facilitar ao extremo a interpretação de suas opiniões, por parte do leigo bem aprestado de informações, mesmo sem deixar de empregar os léxicos necessários, isto é, o repertório peculiar a este ramo disciplinar do ensino preceituado, em que se inclui a Geografia, com a) objeto material devidamente configurado, b) escopo formal definido e c) corpo de doutrina estabelecido e ordenado – rol de circunstâncias requerido para o estabelecimento de um saber em Ciência, o terceiro elemento do Mundo Três, de Karl Raimund Popper: a procura e descoberta de fatos científicos.

Esta decisão consequente de facilitar a decodificação decorre, certamente, do constante aprendizado dos autores no recorrente exercício de escrever para periódicos científicos, dos quais recebem instruções nesse sentido, bem como no diuturno trato com seus pares na Academia e nos eventos de sua lavra, onde se completam e aperfeiçoam à medida do decurso temporal, nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, consoante os ditames da Lei 5540/1968, ao prescrever a indissociabilidade dessas atividades.

A referência aqui, manifestamente, não diz respeito àquelas pessoas totalmente jejunas nos argumentos expendidos nos dezenove segmentos de Impactos Socioambientais da Implantação dos Parques de Energia Eólica no Brasil, porém, concerne a consulentes que ultrapassam o mero trio alfabetizador, este concertado nas ideias de recepção dos códigos do letramento insertos nas Ciências da Educação – ler, escrever e contar.

Segunda evidência

Outro aspecto de honroso destaque neste excepcional conjunto dissertativo-instrucional atinente à instalação de parques eólicos no Brasil está na mais absoluta isenção dos investigadores no referente à obediência rigorosa às exigências morais impressas pela Epistemologia e matérias correlatas no decurso de uma demanda científica.

Não se divisa nos dezenove artigos da obra sob escólio qualquer tendência, nenhum pendor que leve à simpatia velada por módulos individuais e empresariais componentes e objetos de suas demandas, a despeito dos chamados esquerdismos ou direitismos festivos e “antropologices”, tão em voga nos dias fluentes, quando têm vez os exageros e ilogismos detratores da verdade, em favor de pessoas e instituições, os quais, nos fins das buscas, a estas aportam resultados totalmente dissimulados, denotando a irresponsabilidade e a indiferença de pseudopesquisadores, que só empanam a atividade das investigações verdadeiras e vazadas nos ditames sadios e esmerados das disciplinas que cuidam das saudáveis práticas de pesquisa.

Tampouco se desvelam, também, aversões dirigidas, de caso pensado e sem prova, a comportamentos avessos ao que é correto, mostrando-se, todavia, por meio de comprovações escritas e com fonte indicada, racionais e sensíveis ao leitor, por exemplo, os defeitos e manias, pouco responsáveis e deseixados da ética, das organizações  executoras dos projetos, muitas vezes, mascarando situações com o viso de, jeitosamente, ao repetir e copiar dados dispares em relação à realidade da peça projetada, iludir os órgãos de certificação do Governo e lograr o documento final de implantação, em prejuízos incalculáveis à Natureza e às populações dos entornos dos parques eólicos.

Não fossem as instituições e pessoas comprometidas e se não existisse essa literatura de tanta qualidade e que se esmera, a cada dia, no Brasil, do quilate desta sob comento, o que seria da Sociedade?

Por fim, o fato é que experimentei uma vantagem enorme ao ler obra de tão alçado ­valor. Uma graça!


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