CHICO PADRE
Totonho Laprovitera*
Acolhido pelos meus tios
Zuleica e Dedé Brasil, na Parangaba, Chico Padre tornou-se amigo de infância de
Geraldo, meu pai. Quando ficou adulto, sem estudo, simples e humilde, realizava
serviços de limpeza lá por casa. De quebra, ainda era rezador e, para
qualquer provável mal, ele pegava um galhinho de planta e em
movimentos de sinal da cruz, rezava na gente. Ao que me lembre, nunca
constatamos se a reza funcionava ou não, porém, jamais a dispensamos. Uma
curiosidade: Chico copiava os nomes dos filhos de Geraldo para os seus, em
homenagem ao amigo doutor de quem ele tanto gostava, e que admirava e respeitava.
Negro, alto, seco e de
esguia postura, Chico também era um desportista. No futebol, sem ter um tostão
no bolso, presidiu um time chamado Onze Vingadores que, segundo ele, não perdia
para seu ninguém nos campos de poeira dos desprovidos subúrbios de Fortaleza
nos anos 60.
Ainda era namorador. Dava o
maior valor às “crucas”, como ele se referia às namoradas. Em certa ocasião,
como de costume escondido de sua santa mulher batizada Medalha, conquistou o
coração da empregada doméstica Marié, que era a cara da Zezé Macedo ,piorada e
fazendo careta. Marié se inventava de difícil para Chico, mas não resistia aos
gracejos do conquistador. Quando ele chegava perto da moça, e entre finos
assobios de soim, com todos os erres, gracejava “está correndo um vento pela
minha retaguarda”... Aí, ela se derretia todinha e se entregava.
Muitos anos depois, Chico
trabalhou de vigia na empresa do Gera Teixeira e Chiquinho Aragão. Como se
pelava de medo de alma, ele espalhava copos d’água pelo prédio para espantar as
assombrações.
Depois disso, o Chico sumiu
do mapa, até que, por acaso, o avistei passando em frente ao edifício em que eu
morava. Acenando, chamei e o convidei para partilharmos a refeição matinal.
Tomamos café com pão com manteiga e jogamos muita conversa fora. Peguei uma
camisa minha, o presenteei e quando foi embora, feliz e satisfeito, assim ele
despediu-se de mim: “Esse Toinho gosta duma esculhambação...”
Nunca mais vi o velho Chico
Padre. Provavelmente, ele nem esteja mais entre nós. Pois é, tem pessoas com
quem nos reencontramos e mal sabemos que estamos é nos despedindo delas, pela
última vez e para sempre.
É a vida...
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