PAIXÃO DE CRISTO
EM CAJAZEIRAS
Totonho Laprovitera*
Assuntando com o velho
amigo Gaubi, lembramos de que, em uma movimentada Semana Santa do ano de 1989,
Cajazeiras entrou definitivamente para a história geral do teatro religioso.
Foi quando lá se apresentou a primeira Nossa Senhora com braço engessado, na
peça “Paixão de Cristo”, encenada por moradores daquela cidade paraibana.
Tudo começou quando,
através da Secretaria de Cultura do Governo da Paraíba, a mitológica “Galera do
Mal” arrumou 50 mil cruzados novos para custear a peça. Porém, com o dinheiro
em caixa, a turma cresceu os olhos, gastou 45 e sobrou somente 5 para a atração
maior: a conterrânea Marcélia Cartaxo. Mesmo assim, a atriz, que na época fazia
o maior sucesso no cinema como Macabéa, do premiado filme “A Hora da Estrela”,
topou o cachê por amor à terra.
Então, com a grana
curtíssima, viram-se forçados a compor o elenco entre eles. Em destaque,
Gutemberg era José de Arimateia e Aguinaldo, seu irmão, Judas – que na hora de
se enforcar, foi um deus-nos-acuda, pois a corda puxou e quebrou o galho da
árvore de uma vez, deixando o Iscariotes pegar 14 pontos na mandíbula. Quanto
aos figurantes, a maioria foi selecionada pela periferia da cidade. Na base da
improvisação, por exemplo, os centuriões foram convocados pelos campos de
várzea e suas lanças eram feitas de cabo de vassoura enrolado com papel
metálico laminado.
Pois bem, na véspera da
estreia do espetáculo, quando do derradeiro ensaio, a dupla Gutemberg e Pepé
(no papel de José) arranjou um jeito de “dar pezinho” para Marcélia montar em
um acanhado e avantajado jumentinho, gentilmente cedido por um prestimoso
verdureiro cajazeirense. Aí, a cena foi desastrosa: “Um, dois, três, meio e já!” – a Nossa Senhora
passou direto, sobrou pelo lombo do animal, escorregou, foi bater lá do outro
lado e “tibum!”, caiu por riba do braço.
Acudida, Marcélia foi
levada às pressas ao Hospital Regional de Cajazeiras. Na Emergência, após
cumprido o histórico clínico e avaliados os sintomas apresentados, realizaram
os devidos exames. Batida a chapa de raio X, veio o diagnóstico médico: “Fratura
diafisária óssea do antebraço!” Encaixadas as partes da quebra, imobilizaram a
área afetada, prescrevendo à paciente analgésicos e anti-inflamatórios. Ainda,
recomendaram-lhe repouso.
No dia seguinte, os
produtores do evento pensaram em despistar o braço encanado da atriz,
encobrindo-o com o Sagrado Manto de Maria, mas mudaram de ideia. É que os
marqueteiros da “Galera do Mal” trataram de transformar aquela desdita em
proveito, qualificando e espalhando a peça como “Paixão de Cristo de
Cajazeiras, a única do mundo com Nossa Senhora do braço engessado!”.
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