COSI È SE VI PARE*
Humberto Ellery**
Humberto Ellery**
O teatrólogo italiano Luigi Pirandello criou uma peça teatral
cômica, “Assim é se lhe parece”, para tratar de um assunto sério (ele a
classificou como uma “farsa filosófica”), que é a discussão entre o que vemos e
o que é a verdade, entre o que realmente é, e o que parece ser.
Um exemplo muito claro dos enganos que nossos sentidos nos induzem
a cometer é que, se não fosse Nicolau Copérnico, autor do Heliocentrismo,
poderíamos pensar que a terra está parada e o sol fica orbitando em torno,
surgindo todas as manhãs no leste e desaparecendo ao entardecer no oeste. É
isto que vemos diariamente.
Aliás, a discussão entre o que é apenas uma opinião e o verdadeiro
conhecimento, já era uma preocupação dos filósofos pré-socráticos (Século IV
a.C), que Platão desenvolveu nos seus Diálogos e n´A República: Doxa e
Episteme.
Todos esses pensamentos ficaram ocupando meu cérebro a partir da
prisão preventiva do Michel Temer. Como não sou jurista fui pesquisar o que dizem
os doutores no assunto, e procurei ler não só a denuncia do MP, como também o
Despacho do Juiz Marcelo Bretas. Não sem antes ler e reler o Art. 312 do CPP, e
tendo em mente sempre o brado do pintor Apeles: ne sutor ultra crepidam!
Sem querer ir “além das sandálias”, mas como sei ler e interpretar
o que leio, fiquei estarrecido ao ler no despacho do Doutor Bretas coisas como “Não
há um decreto condenatório em desfavor dos investigados (nenhum é réu, nem
sequer indiciado) a análise a ser feita é ainda superficial, mas o fato é que o
crime de corrupção, numa análise ainda superficial” (repete a superficialidade
que embasou a prisão de um Ex-Presidente da República). Mais adiante afirma que
“...o chefe da suporta Organização Criminosa parece ser o Ex-Presidente Michel
Temer”.
Depois fiz uma releitura do Despacho contando quantas vezes o Juiz
se pautou pelo parece ser; em dezenove oportunidades foi utilizado o verbo “parecer”.
A cada duas páginas está lá o Doutor tomando a Doxa pela Episteme.
Depois de ler o Habeas Corpus exarado pelo Desembargador
Antônio Ivan Athié, que desmontou, peça por peça, a ficção do Doutor Bretas,
fui ler artigos de professores de Direito comentando o despautério, inclusive
um manifesto assinado por dezenas de juristas, e deparei com um artigo do
Professor Doutor João Paulo Martinelli (FSP 25/03/19) que, em apenas cinco
parágrafos alertou para um absurdo que grassa hoje em nossa sociedade: a banalização da prisão no Brasil!
Agora uma pergunta: será que o Juiz Bretas pretendia mesmo prender
o Michel Temer como parte de um implacável combate à corrupção? Não acredito,
creio serem outros seus objetivos, e ele atuou com invulgar maestria.
Em primeiro lugar, ele atuou num campo que ele conhece muito bem, o
meio jurídico, onde juízes são praticamente inimputáveis, praticamente fora do
alcance da Lei de Combate ao Abuso de Autoridade (Lei 4.898/65); em seguida, soube escolher o alvo perfeito: o Ex-Presidente Michel Temer, o mais impopular
presidente do Brasil, apesar de ter feito o mais profícuo e benfazejo governo
dos últimos trinta anos.
Quais eram então seus objetivos? O primeiro, e mais importante,
tomar para si a coroa que o Robespierre de Curitiba deixou sobre o trono quando
o trocou pelo Ministério da Justiça.
Com isso o Doutor Bretas sentou-se ao trono e pôs a coroa antes que algum aventureiro lance mão. Ninguém
o tira mais do trono, e o Caçador de Corruptos é sempre vivamente aplaudido até
quando eventualmente erra. Ou será que nunca erra?
O segundo objetivo, também importante, foi dar uma violenta
canelada no STF, que ousou mandar que se cumprisse a Lei, e determinasse que os
crimes conexos ao caixa dois sejam julgados também pelo TSE, (os primeiros
parágrafos do despacho são um ataque direto à Suprema Corte), retirando do parquet
o filé de prender políticos e os aplausos daí decorrentes.
O terceiro objetivo foi dar um “chega pra lá” nas pessoas que “querem
acabar com a Lava-Jato’; foi uma injeção de ânimo, mais que isso, uma
revigorante transfusão de sangue. Antes que os militantes do lavajatismo
queiram me colocar no rol dos “inimigos da Lava-Jato”, faço minhas as palavras
da Dra. Raquel Dodge: “Sou a favor da Lava-Jato, mas não de interesses
políticos na Operação”.
O quarto objetivo talvez não seja alcançado, que é inibir a
aprovação da Reforma da Previdência, uma vez que o Moreira Franco, meio sogro
do Rodrigo Maia, não é tão querido assim pelo Presidente da Câmara dos
Deputados. Mas o Rodrigo Maia, como um dos principais fiadores da Reforma,
talvez tenha entendido o recado: o Judiciário, com seus salários e
aposentadorias extravagantes, não quer a Reforma, e não vai poupar ninguém.
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