quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

ARTIGO - Um Bando de Generais e de Soldados (RV)


Reginaldo Vasconcelos* 


Há muitas entrelinhas nos primeiros discursos do Presidente Bolsonaro que não estão sendo percebidas pela mídia nacional, que ainda está meio atarantada diante da sua eleição “disruptiva”, agora que ele tomou posse e recebeu a faixa.

Estão especialmente tontos os jornalistas que torciam contra e ridicularizavam o candidato, mas também aqueles que desejavam ver o circo pegar fogo, mas se fingiam de neutros, para não dissentir da linha editorial da emissora.

Dizer o quê ao público espectador, agora que o mito ascendeu mesmo à Presidência da República, se até bem pouco tempo o tratavam como piada eleitoral, situado apenas um grau acima do outro candidato militar, o bizarro e caricato Cabo Daciolo?

Ninguém lembrou ainda, ou processou completamente, que feita a abertura política nos anos 80, com a tal da anistia, ampla, geral e irrestrita – repatriados e reabilitados os militantes da esquerda – cumpriu-se o que pensava o então Presidente Figueiredo.

Disse ele que queriam que fizesse a abertura, e ele a faria. Mas que o PT, “um sindicato reconhecido como partido político”, terminaria por chegar ao poder, e para tirá-lo de lá teria que haver derramamento de sangue.

Não, não houve ainda derramamento de sangue, ao contrário do que profetizou o último presidente militar e que preconizaram alguns petistas, no declínio da sigla, como Lula, por exemplo, ameaçando convocar o “exército do Stedile” para evitar a sua prisão, e como a Benedita da Silva, invocando a Bíblia para pregar uma guerra santa.


Pois a segunda parte da profecia do General Figueiredo agora se confirma: depois de longo e tenebroso inverno, as Forças Armadas, que Lula reduzira a “um bando de generais e de soldados” em seu discurso no Clube Militar,  conseguiram reverter a toada política de esquerda e proscreveram o PT.

E o derramamento de sangue, que Figueiredo previu e que alguns petistas defenderam? Bem, o atentado ao candidato de extrema direita faz evocar essa maldição. Mas, não somente isso, ela está subjacente nos gestos de empunhadura de armas, timbrados pelo candidato Bolsonaro, que ele repetiu, embora mais discretamente, na solenidade de posse.

Mas, além disso, apesar da franca e declarada intenção de manter o País dentro dos marcos da normalidade democrática e da regularidade institucional, Bolsonaro não teve nenhuma discrição para verbalizar do parlatório, ao lado do seu Vice-Presidente, a sua disposição de recorrer eventualmente às armas, na defesa do verde-amarelo da Bandeira Nacional.

Bolsonaro também deixou no ar um secreto pacto de sangue entre ele e o atual Comandante do Exército, General Villas Boas, preitesia que, nas palavras dele mesmo, “morrerá entre nós”. Certamente esse plácito refere a um soturno “plano B” – o compromisso de partir para o campo da honra, deflagrando o gatilho da força, caso não tenha sucesso pelos meios democráticos.

Tudo indica que a reação poderá ser violenta, caso o Congresso tente desfigurar o plano de governo de Bolsonaro, e frustrar a sua missão redentora”, entrevista na palavra empenhada na campanha, ou caso a resistência de esquerda recrudesça. Ou alguém imagina um bando de generais e de soldados, desmoralizados e resignados, deixando o poder com os rabos entre as pernas. Seria excessivamente disruptivo.



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