Para esquerda ou direita?
Edmar Santos*
Por uma análise
apartidária, pode-se verificar que nas vertentes políticas que destoam em seus
discursos, principalmente no critério econômico e de relações sociais; uns
pregando meritocracias outros assistencialismos, não se distam no que concerne
ao mesmo objetivo: o poder.
Tentam e esforçam-se
para demonstrar e convencer a opinião geral, ou pelo menos da maioria
garantidora de suas intenções, que a realidade ora vivenciada ao tempo de suas
retóricas – a depender do poder vigente – é melhor ser mantida, se é argumento
de quem está no poder ou, melhor ser descartada, se o argumento é de quem
representa a oposição. Tudo é ideologia em busca do poder – seja de denominação
esquerda, direita, situação, oposição, centro – por mais que nas ações de
afirmação do próprio poder uma parcela ou outra da sociedade seja beneficiada e
outra acalentada, alguma parte do todo social será descartada, a depender da linha
vencedora.
Ora, o próprio termo
ideologia, como se pode encontrar em Marilena Chauí (1980), foi usado primeiramente
em 1801 por um grupo ideólogos franceses que eram antiteológicos,
antimetafísicos e antimonárquicos, mas eram pertencentes a um partido de
vertente liberal. Os ideólogos foram partidários de Napoleão e apoiaram o golpe
de 18 Brumário, pois o julgava um liberal continuador dos ideais da Revolução
Francesa. (...) Enquanto Cônsul, Napoleão nomeou vários deles como senadores ou
tribunos. (...) Todavia, logo se decepcionaram com Bonaparte, vendo nele o
restaurador do Antigo Regime. Opõem-se às leis referentes à segurança do
Estado, são por isso excluídos do Tribunado, e sua Academia é fechada. Uma
oposição política.
Não é de causar
espanto que, nessa refrega de ideologias, fatos sociais sejam utilizados como
propaganda de ratificação das benesses que supostamente estão sendo oferecidas
ao corpo social. Podem surgir, para ratificar a política de algum “grande irmão”,
nas palavras de George Orwell (1903 – 1950), manchetes de um filho de cortador
de cana, negro, que “por mérito” próprio conseguiu se formar em medicina e se destacar
da realidade dos que com ele compartilham a pobreza, porém, o “sistema está
aberto a todos”; ou conseguiu, não obstante seu esforço individual, acessar à Universidade
em um curso elitista, “graças a um programa de cotas oferecido pelo governo”
porque a *dívida social com população
negra é histórica. O referencial é de quem escolhe.
De fato, em relação
a políticos e política com suas vertentes ideológicas, sempre apoiados por
ideólogos que formatam conceitos com base científica e propõem tendências, o
que se constata é que quase não há uma perspectiva das palavras de Platão (428/427
– Atenas, 348/347 a.C.) em seu A República, quando narra um
ensinamento de Sócrates aduzindo que “um governante autêntico não deve visar ao
seu próprio interesse, mas ao do governado”. Frente às realidades vivenciadas
na sociedade exposta nas páginas da história, muito mais comum de se verificar
é sua outra lição que diz: “os homens honrados não querem governar, nem pela
riqueza nem pela honra; porque não querem ser considerados mercenários exigindo
abertamente o salário correspondente à sua função, nem ladrões, tirando dessa
função lucros secretos.
Regimes políticos
atraem adeptos de acordo com a manutenção de suas zonas de conforto e alienação
através das propagandas apresentadas nas mídias como na “teletela” de Orwell. São
acalentados com a manutenção do status
quo que lhes garante a conservação do “seu quadrado”. Aos contrários
fomenta-se o combate, a “fiscalização do pensamento” e o expurgo, nesse caso a
prisão e, em alguns casos e lugares, até a morte.
As transformações das relações sociais dos últimos séculos direcionam
as pessoas ao mergulho nos acontecimentos do agora (reality shows, programas
policiais, etc.), amplamente e intencionalmente – talvez em nome do mercado, ou
da política, ou de ambos – e distancia a maioria dos membros da sociedade das
reflexões sobre os acontecimentos passados e das perspectivas sobre futuro.
Na atualidade se presencia uma liquidez das relações e a criação de
um contexto de ignorância provocada, como constata Slavoj Zizek (2009) se tem
hoje “a sociedade capitalista que vive numa era de incentivo à satisfação
de todos os possíveis prazeres, onde o
imperativo é “Goze, você deve gozar!”, onde a política perdeu seu caráter
ideológico e preocupa-se apenas com a regulação da jouissance (gozo) e o sujeito corre perigo de
desaparecer, seja por causa da ideologia capitalista, seja por causa das
possíveis descobertas cientificas. E a complexidade do mundo virou disciplina
para os dominantes escolhidos. Capitalistas ou não.
O fato é que, no que
aponta Yuval Arari (2018), o mundo está ficando mais complexo, e as pessoas não
se dão conta de quão ignorantes são. E prossegue: “Pessoas raramente contemplam
sua ignorância, porque se fecham numa câmara de eco com amigos que pensam como
eles e com feeds de notícias que se
autoconfirmam, fazendo com que suas crenças sejam constantemente reiteradas e
raramente desafiadas. Tudo que os que controlam o poder querem e precisam para
manipular.
No que concerne à
equidade social, ser uma “utopia” de muitos (a maioria) sem representatividade, não importa a vertente política, ou a
ideologia, ou a lógica administrativa dominante da sociedade. Se prevalecer a
teoria da evolução de Charles Darwin (1809 – 1882) os mais fortes é que se
adaptarão aos novos tempos, suas tecnologias disruptivas e suas novas formas de
fazer política e controle social. O futuro dirá.
Muito bom seu texto meu amigo!!!
ResponderExcluirMestre !👏👏👏👏
ResponderExcluirExcelente!
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