INQUIETUDE
E
GRATIDÃO
Edmar Santos*
A qualquer que
enverede pelos caminhos à busca do conhecimento, cabe a certeza de que sem os
que por experiência de vida e sabedoria acumuladas ao logo da existência lhe
sirva de instrutor, ainda que indiretamente, não se logrará êxito em tal
empresa.
Tomando o acima dito
como premissa, se torna oportuno expressar a gratidão aos mestres e doutos Rui Martinho e Reginaldo Vasconcelos, pela aplicada atenção dada aos textos de
minha lavra, que por benevolência do corpo de ilustres que habitam esse jornal
eletrônico, me permitem frequentar com minhas expressões textuais.
Notadamente, seria
eu péssimo pupilo e de ralo entendimento se, não obstante aos ensinamentos,
alertas e questionamentos dos mais sábios, não lhes apresentasse, por oportuno,
meus posicionamentos e convicções de aprendiz por mais que, ao próximo passo,
deva reconhecer que alguns mereçam ser abandonados pela refutação convincente.
Isto posto,
considerando os diálogos com Dr. Reginaldo Vasconcelos e a análise proferida
pelo Dr. Rui Martinho, em relação aos últimos textos de minha autoria
publicados no espaço eletrônico da ACLJ, sigo em comentar.
Dr. Reginaldo, mui
perspicazmente nos apontou, segundo entendi, a permanência de questões sociais
imutáveis que em nada, ou quase nada, influenciam nas questões da realidade
criminal e no fato de mais representantes das classes desassistidas caracterizarem
o maior número de membros encarcerados nas prisões. De contínuo, mostrou que as
disposições sociais de acesso ou queda aos níveis sociais, hodiernamente, tem
mais haver com desenvoltura meritória do que por sorte, ou outros fatores.
De forma lógica,
concisa e com fatos exemplificativos, alertou que a vertente da criminalidade
está muito mais atrelada à sociopatia do que às realidades sociais e suas
classes, inclusive, por sua imutabilidade, não obstante a possibilidade de
acesso ou descendimento aos variados níveis piramidais em que essas estão
distribuídas.
Apresentou o
reconhecimento da inutilidade da prisão, corroborando com a realidade de que o
Estado e a Sociedade se tornaram reféns da situação, pois, no arcabouço legal e
moral, não há como substituí-la.
Dr. Rui Martinho,
experto, entre outros, no ramo do Direito, nos leciona quão benéfico é o nosso
arcabouço jurídico punitivo em relação aos delinquentes, principalmente em comparado
ao de outras nações. Demonstra as inúmeras possibilidades recursais, que por
vezes protela a pretensão punitiva.
Aponta benesses do
sistema econômico vigente, ainda que, demonstrando que em todas as classes, apesar
dos diferentes tipos e correlacionalidade com as classes dos que delinquem, o
crime se expande por toda à pirâmide social.
Apresenta
posicionamento contrário ao cenário de lutas de classe proposto por Karl Marx (1818
– 1883) abordando outra visão, que aduz mais propícia ao contexto, colocada por
Weber (1856 – 1920). Corrobora com nossa colocação de que se precisa rever
alguns conceitos hegemônicos ligados ao tema abordado.
Sem mais delongas e,
de forma a abranger às análises dos dois mestres, sigo a linha cautelar de que,
por mais que a teoria de MARX tenha sido refutada por diversos outros teóricos,
o fato é que ela permanece firme e comprovada, tendo as demais teorias, por
certo, lhe causado modificações, ampliações, até melhoramentos, mas, creio, não
eliminação. Se não podemos resumir mais só em questão de bens capital
econômico, ampliou-se com Pierre Bourdieu (1930 – 2002), por exemplo, o capital
cultural, mas ainda assim, permanece a luta.
Como técnico em
estatística, me cumpre defende-la por antecipação, para adentrar no tema
aprisionamento massivo. A Estatística não mente, porém, é uma ferramenta por
demais utilizada pelos que intentam manipular a opinião pública, leiga ou
culta, principalmente quando o contexto é o pensamento coletivo. Palavras e
frases como: percentual, porcentagem, margem de erro, pesquisa de institutos,
são como que sedutoras e, junto com os números, gráficos e tabelas, fortalecem
argumentos, ainda que mentirosos.
Dito isso, o
aprisionamento massivo é um fato estatístico largamente publicado e presenciado
nos meios de comunicação e pesquisa que se debruçam sobre esse foco. A própria
expectativa da prisão por mandados não cumpridos reforça a crise apresentada
pela ferramenta presídio como solução de segurança pública, sem o ser. Outro
fato é o local geográfico alvo dessa ação prender, que resulta quase sempre nas
regiões de menor índice de desenvolvimento humano - IDH.
Não há como se falar
de prisão sem falar de sociedade, em face de que a primeira foi criada e existe
em função da última. Refletir sobre o modelo de prisão não é necessariamente um
grito de revolta, mas uma vontade cidadã participativa pela mudança; se não se
pode extinguir o modelo recrudescedor, ao menos buscar alternativas ao modelo é
mais que prudente ao objetivo da paz social.
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