segunda-feira, 30 de outubro de 2017

DISCURSO - Posse na ACLP (VM)


POSSE DE TRÊS ACADÊMICOS
DA ACADEMIA CEARENSE 
DA
LÍNGUA PORTUGUESA

(Reprodução e Notas)
27.10.2017
Vianney Mesquita – Cad. 37



A sociedade Inteligente do nosso Estado, por intermédio da Academia Cearense da Língua Portuguesa, a qual perfaz, hoje, 40 anos de proficiente existência, mourejando em prol do desenvolvimento e defesa da Língua de José Augusto Bezerra, regista a satisfação imensa de acolher no seu quadro de imortais três paredros da intelectualidade do nosso Estado.


Os professores Maria Gorete Oliveira de Sousa, Raimundo Evaristo Nascimento dos Santos e Maria Margarete Fernandes de Sousa são ora guindados à circunstância de titulares da Instituição, eleitos pelos seus pares, com arrimo nos reconhecidos caracteres de intelectuais, transitados pelos mais destacados ambientes de conhecimento, devidamente comprovados nos seus curricula.

Complementam o conjunto das quarenta cátedras componentes desta Casa de saber linguístico, a qual, no decurso de quatro décadas, desenvolveu os planos de seus fundadores, alguns dos quais comparecentes (1) a esta solenidade. Não é, no entanto, o caso do meu paradigma de pessoa humana, protótipo de docente e que jamais deixou de me remover uma dúvida de Língua Portuguesa, de maneira incontinenti, figura inexcedível a me enobrecer com o fato de me assentar no romaneio de suas amizades – o acadêmico Myrson Melo Lima. Ele está de viagem à Europa, onde visita uma filha.

A tríada de imortais hoje empossada enriquece, com seus predicados de transmissores insuperáveis dos nossos conhecimentos linguísticos e produções de alçado valor nesta mesma seara, os cabedais e propósitos desde Silogeu, configurados na propagação, evolução e defesa do código lusitano, um dos mais esplêndidos mananciais glossológicos do mundo, sob o qual Camões [...] chorou no exílio amargo o gênio sem ventura e o amor sem brilho, para evocar a verve poética bilaquiana.

Discorro, sucinta e rapidamente – e também para ser agradável, como quis o movimento cristão da Escolástica (Esto brevis et placebis) – a respeito dos seus currículos de vida, os quais não cabem num livro pequeno.

A Professora Maria Gorete Oliveira de Sousa é graduada em Letras pela Universidade Estadual do Ceará, mestra pela Universidade Tecnológica do Paraná e obteve o título de Doutor (2) em Artes, em tese sustentada na Universidade Federal de Minas Gerais. Em complemento a tão faustoso capital, ela é formada atriz pelo Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará. Reformada por tempo de trabalho do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, onde mourejou por 21 anos dos 29 de magistério que exerceu, dedicados à Língua Portuguesa e produção de texto. Antes de operar escritos academicamente, escreveu a obra poética intitulada Na Galáxia da Estrela Ímpar.

O Professor Evaristo Santos nasceu em 1961, em Guaiúba, então Distrito de Pacatuba. Diplomou-se em Letras pela UFC e é especialista em Língua e Literatura pela UVA. Desenvolveu Programa de Grego Clássico, Koiné Intermediário e Koiné Avançado, também, pela Universidade Federal do Ceará, tendo recebido certificado em Latim, em curso promovido pela Associação dos Professores do Ensino Superior do Ceará- APESC. Lecionou em vários colégios de Fortaleza e no Colégio Ipuense, havendo integrado a equipe de docentes de Português do Colégio Geo-Studio, com atuação no Ceará e fora daqui, e do Colégio Tiradentes, de onde saiu para assumir vaga em universidade pública, aprovado em concurso em 2013. Nesse ano, integrou o Sistema Ari de Sá, na equipe de elaboração do livro de Português destinado ao Ensino Médio como coautor, obra essa adotada em muitas escolas do Nordeste. Hoje leciona nos Colégios Irmã Maria Montenegro, Luciano Feijão (Sobral), Sete de Setembro e Antares.

A Professora Maria Margarete Fernandes de Sousa nasceu em Jaguaruana, tendo se mudado para Fortaleza aos 15 anos, onde se graduou em Letras pela UECE, em 1983, e em Pedagogia, pela UNIFOR, em 1989. Especializou-se em Língua Portuguesa pela UECE e, na sequência, se fez mestra em Linguística pela UFC, em 1998, e doutora, também em Linguística, pela Universidade Federal de Pernambuco (2005). É docente associada da Universidade Federal do Ceará e coordenadora do Grupo de Pesquisa Gênero - Estudos Teóricos e Metodológicos. Constitui o GT da ANPOL de Linguística de Texto e Análise de Conversação. Tem publicações em análise de gêneros discursivos, com ênfase nas estratégias de construção de sentidos do texto.

Acolho, então, em nome da Diretoria, os três intelectuais com a maior satisfação, em virtude da certeza desta Arcádia em relação ao fato de que, dotados de tanta qualificação, o professor Evaristo e as professoras Margarete e Gorete vão reforçar a consolidação dos propósitos desta Academia. Estes descansam em conservar a elevação da Língua Portuguesa até o zênite do seu valor como codificação glotológica da mais alevantada significação na contextura das constituições linguísticas lácicas. Ajudarão a divulgá-la e defendê-la das falsas fulgurações que, às vezes, são postuladas pelos novos tempos, os modismos, os estrangeirismos, os aceites de novidades inconsequentes, o que somente destrui (3), sob o prisma da correção, aquilo estudado, perquirido e defendido como certo por estudiosos da Língua Portuguesa ao longo curso de sua existência. Bem-vindos, estimados acadêmicos-imortais, ao seu novo ambiente de trabalho.
Disse.


NOTAS
(1)              A despeito de nenhum dos empossados haver se reportado durante a solenidade de sua recepção – tampouco depois  a esta curta fala, ao seu final, um acadêmico estranhou, por desconhecer, devidamente dicionarizado, o vocábulo comparecente. Apliquei-o – com a devida correção, diga-se – primeiro, porque gosto de usar os recursos da Língua e, em segundo lugar, pelo fato de presente e presença terem, na atualidade, em especial no âmbito universitário, uso bastante abusivo, chegando a ser até vergonhoso. Não há a menor possibilidade de eu empregar termo não recepcionado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras!

(2)             Também fui (indireta e incorretamente) repreendido por um dos membros do Sodalício, pela aplicação, a uma das imortais empossadas, da dicção título de Doutor. Embora seja ela mulher, “de Doutor” é o título, o gênero deste, absolutamente correto o masculino.

(3)             Houve troca de olhares, desconfiados e impugnativos, quando conjuguei, também esmeradamente, no discurso, a terceira pessoa do singular, indicativo presente, do verbo destruir – “destrui” – que, a igual de construir (“construi - constrói”), concede a opção destrói .

Solicito, então, que os contraditores, antes de se manifestarem acerca daquilo onde veem impropriedade, levem na devida conta a frase de Públio Ovídio Nasão  Ignoti nulla cupido! (Arte de Amar, III, v. 397).



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