segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ARTIGO - Caminhos da Radicalização (RMR)


CAMINHOS DA 
RADICALIZAÇÃO
Rui Martinho Rodrigues*



A Espanha está dividida e radicalizada. As eleições nos EUA resultaram em radicalização e não aceitação de resultados. A Argentina, Venezuela, Reino Unido, França, Itália, Bélgica, Brasil, vivem divisionismos, cada um a seu modo, com alguma radicalização. Flamengos e valões vivem um antagonismo cultural com tempero econômico.

Britânicos e europeus dividiram-se por motivos semelhantes, como os italianos do norte e os catalães. O Reino Unido está desunido. Não só separatismo radicaliza as sociedades. Brasil, Venezuela, EUA e Argentina vivem polarizações resultantes da ideia de uma cidadania agressiva, na defesa do supostamente justo, esclarecido ou politicamente correto.

O outro é sempre alienado, analfabeto político, preconceituoso ou padece de algum distúrbio psiquiátrico. Não se fala mais em moral conservadora, mas em preconceito ou fobia. A discussão da viabilidade de propostas “do bem” foi substituída pela discussão das suas intenções. Uns são “favoráveis ao bem”, atribuindo as piores intenções aos seus críticos.

A base disso é a convicção de superioridade moral e intelectual, flagrantemente falsa, fundada na adesão da maioria esmagadora dos intelectuais – estes que são os mais vulneráveis às ilusões. Vivem no mundo das ideias, não dos fatos.

Intelectuais não são os mais estudiosos físicos, biólogos ou matemáticos, dedicados à solução dos mais complexos problemas. Estes raciocinam com base nos fatos. 

Na verdadeira acepção, intelectuais são poetas ou estudiosos do campo humanístico, que elaboram ideias contrariando os fatos, sob o pretexto da repulsa ao conformismo, elaborando uma pretensa ciência normativa, mergulhando no mundo onírico, dizendo de como a sociedade deveria ser, sem compreender a sincronia e a diacronia histórica e social que a caracterizam.

A presunção de superioridade moral ignora que abundam intelectuais degenerados e com uma percepção seletiva dos fenômenos sobre os quais pontificam em suas elucubrações, que pretendem submeter a realidade às suas ideias.

A presunção dos novos gestores da moral – e o projeto de uma moral oficial para a vida privada, regulando a intimidade, a alimentação e a consciência – levam ao radicalismo, por ser uma imposição normativa tão democrática quanto o círculo é quadrado. É servidão mental. Incapacita para a crítica, invocando a criticidade. Usa o relativismo, para o qual tudo é mera perspectiva, mas tem certeza do “politicamente correto”. É irracionalidade. Os anos 30 do Século XX foram assim. Em boa coisa não deu.

Porto Alegre, 23 de outubro de 2017.


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