segunda-feira, 9 de outubro de 2017

CRÔNICA - Cuspindo Bala (AF)


CUSPINDO BALA
Altino Farias*




Meados dos anos 80. Naquela manhã de domingo corria uma brisa fresca e o Sol brilhava num céu límpido, enquanto músicas populares soavam na sala de um novíssimo Philips “três em um”. De repente, estampidos de tiros vindos da cozinha!

Vizinhos assustados indagavam-se: assalto? Tragédia familiar? Acidente? Na dúvida, chamaram a polícia que, como sempre, tardou a chegar.

Para entender o que ocorreu, temos que voltar um pouco no tempo. Embora gostasse de uma boa briga quando adolescente, não era dado a armas. Casado e com filhos pequenos, acalmara-se. Guardava a sete chaves o três oitão que herdara do pai, falecido há anos e anos, juntamente com alguma munição. De bobeira no domingo, resolveu esquentar as balas para que elas não perdessem sua eficácia, seguindo a dica e a teoria de um amigo. 



Som ligado, tira-gosto pronto, uma cachacinha para acalmar a garganta, foi até o “esconderijo”, pegou o revólver e as balas. Arma limpa e lubrificada, chegou a vez das balas. Foi até a cozinha e arrumou as balas, todas de pé, fundo de espoleta na chapa da frigideira. Fogo alto acesso, pôs-se ao pé do fogão como quem frita um inocente ovo. Pouco tempo depois as balas detoram numa sequência frenética de tiros, digna de um filme de bangue-bangue.


Esposa em pânico, filhos chorando, ele agachado junto ao fogão esperando o fim do inusitado tiroteio. Quando a calma enfim voltou a reinar, podia-se ouvir Gonzagão no “três em um” e vizinhos em pequena balbúrdia, sem entenderem o que acontecera. A polícia? Ah, passou em frente uma hora depois, nada viu e seguiu adiante incontinente. E ele nunca mais tirou o três oitão do esconderijo novamente...


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