terça-feira, 31 de outubro de 2017

ARTIGO - A Crise Suprema (RMR)


A CRISE SUPREMA
CHEGOU AO SUPREMO
Rui Martinho Rodrigues*



Os brasileiros dividiram-se entre o punitivismo e o garantismo penal, sabendo ou não o que sejam tais coisas. Com habilidade retórica, juristas alternam argumentos garantistas e punitivistas, ao sabor das conveniências políticas.

O ativismo judicial afastou princípios amadurecidos ao longo dos séculos. Deixou de “aplicar a lei” para adotar a “concreção da norma abstrata”. O juiz passou de “aplicador” a “operador do Direito”. Adotou a “interpretação conforme [o entendimento do STF]”. Criou a “mutação constitucional”. Tudo fundamentado na “Nova Hermenêutica Constitucional” de doutrinadores alemães e tupiniquins.

Negou que a clareza da norma afasta o intérprete, alegando que toda compreensão envolve complexos mecanismos da fisiologia da cognição. Confundiu neurofisiologia com interpretação. É óbvio que uma norma do tipo “velocidade máxima 60 km” não enseja interpretação. O que passa disso é sofisma, a serviço do que Nietzsche (1844 – 1900) chamou de “vontade de potência”.

Assim, a magistratura usurpa a função legislativa, sem ter representatividade. É a tradição dos “Reis filósofos”, de Platão (427 – 347 a.C.), para quem a política deveria ser conduzida pelos filósofos (por acaso ele era filósofo), como se juízo político fosse juízo de fato, que é juízo técnico. Política é juízo de valor.

Saber o sexo de um passarinho (juízo de realidade) é uma questão técnica. Decidir se é importante reconhecer o sexo do passarinho é um juízo de valor, não precisa de técnico, pode ser resolvido por eleição. A essência da política não deriva de eleições. Eleições derivam da natureza política (juízo de valor). Lei é juízo de valor, não escolha técnica. Cabe ao Legislativo fazer leis, não ao judiciário.

O STF legalizou o aborto; sem previsão legal, restringiu direitos do presidente da Câmara e de um senador, afastando-os do mandato, admitindo que era uma “excepcionalidade superlativa”; rasgou o Regimento Interno da Câmara (art. 188, inc. III), modificando a eleição dos membros da comissão que faria o parecer sobre impeachment; admitiu embargos infringentes, no processo do “mensalão”, passando por cima da lei 8.038/90 (por coincidência, beneficiou o Dirceu).

Entendeu que participação em organização criminosa exigiria dedicação exclusiva ao crime, excluindo os criminosos de colarinho branco do dito tipo penal (por coincidência, beneficiou o Dirceu). Luís Barroso, líder da bancada petista do STF, foi o mentor de tudo isso, reprova a leniência com os crimes de colarinho branco, exceto se o réu for petista.



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