AS ARMAS E A GASOLINA
Reginaldo Vasconcelos*
Neste
dia 02 de setembro, dez rifles automáticos se hospedaram no 32º andar do hotel
Mandalay Bay, na cidade americana de Las Vegas, e dispararam contra a multidão que
assistia a um show de música country a céu aberto. O massacre produziu mais de
quinhentas vítimas, sessenta delas fatais.
Segundo
a grande mídia, que é politicamente correta, a culpa dessa tragédia seria dos
chineses que inventaram a pólvora, e produziram a primeira arma de fogo
confeccionada com bambu, no Século IX da Era Cristã, bem com da 2ª Emenda da
Constituição Americana, editada em 1791, que garante aos estadunidenses plena liberdade armamentista.
Coincidente
e tragicamente, apenas três dias depois, um galão de gasolina adentrou na
Creche Gente Inocente, na cidade de Janaúba, em Minas Gerais, entrou em ignição
e imolou em torno de cinquenta pessoas, e dentre elas produziu cerca de dez
mortos, a maioria criancinhas de quatro anos.
Porém,
neste segundo caso, não se atribui a culpa ao inventor da gasolina, o alemão
Nicolaus Otto, pelos idos de 1860, nem se culpou à Petrobrás, que fabrica o produto e o distribui nos postos de combustíveis pelas esquinas do País.
Aliás,
caminhões andaram atropelando pessoas de propósito, no ano passado, na França e
na Alemanha, e não se viu nenhum protesto contra os inventores desses monstros semoventes,
Karl Benz e Gottlieb Daimler (esses alemães...!).
Muito
menos se disse algo contra Alberto Santos Dumont por inventar o avião, quando
três deles, repletos de inocentes, se precipitaram contra as Torres Gêmeas em
Nova Iorque e sobre um bosque na Pensilvânia, no fatídico 11 de setembro de
2001, vitimando milhares de pessoas.
O
que se quer evidenciar com essa sarcástica ironia é o seguinte: armas de fogo não
foram inventadas, e não são produzidas, tampouco vendidas, para vitimar gente de bem.
Assim
também com os combustíveis, os veículos terrestres e os aviões, os quais, malgrado sua nobre função, também podem ser eventualmente usados para produzir
carnificinas.
Sendo
assim, é inútil aos pacifistas inglórios tentar “desinventar” a arma de fogo,
como se isso fosse possível, para evitar que, caindo em más mãos, ela possa
causar tragédias. É aquela velha ideia do marido traído que quer vender o sofá da sala, em que a mulher recebe o amante, para evitar o adultério.
Quando
ocorreu o massacre em Los Angeles, esses insensatos arautos da paz voltaram à
carga contra os instrumentos da barbárie, como se a causa do evento funesto não
tivesse sido o louco suicida que os instrumentalizou contra o seu povo.
Mas
logo em seguida veio o holocausto de Janaúba, para mostrar que quando um maluco
não tiver acesso aos fuzis automáticos, e tiver a pulsão patológica de produzir mortes em massa, ele
usará dinamite, um avião, um caminhão, um galão de gasolina...
Em
suma, a sociedade internacional precisa centrar seus esforços no controle dos
sociopatas, isso sim – entendendo que as armas de fogo foram inventadas, inclusive, para auxiliar
nessa tarefa. Elas existem para que os justos frágeis e os solitários pacíficos
se protejam contra os agressores mais fortes e contra os facínoras numerosos.
São, portanto, um instrumento de equilíbrio de poder e de garantia de justiça.
Na Idade da Pedra, os homens de maior compleição física barbarizavam os mais franzinos; os grupos mais numerosos massacravam as tribos menores. Na antiguidade e no medievo já prevalecia a astúcia dos imperadores, manobrando com os números e os músculos de seus exércitos atrozes, que escravizavam os vencidos, lhes estupravam as mulheres, decapitavam doentes, velhos e crianças.
Foi a partir do advento da arma de fogo que a justiça foi possível, que a democracia se tornou viável, e é apenas em função delas que os pacifistas de hoje podem agitar suas bandeirolas.
Na Idade da Pedra, os homens de maior compleição física barbarizavam os mais franzinos; os grupos mais numerosos massacravam as tribos menores. Na antiguidade e no medievo já prevalecia a astúcia dos imperadores, manobrando com os números e os músculos de seus exércitos atrozes, que escravizavam os vencidos, lhes estupravam as mulheres, decapitavam doentes, velhos e crianças.
Foi a partir do advento da arma de fogo que a justiça foi possível, que a democracia se tornou viável, e é apenas em função delas que os pacifistas de hoje podem agitar suas bandeirolas.
A
paridade de armas tem o poder de igualar anões a gigantes, proteger o
cidadão dos seus agressores, resguardar as famílias contra os delinquentes, de
modo que, na verdade, e Estado precisaria conter a arma bandida e estimular a
arma lícita, já que ele não tem o poder da onipresença, nem pode prever quando e onde as injustas agressões ocorrerão.
Mas, no Brasil, pressionado por esses sonhadores do Éden, o Poder Público faz o
contrário: não estabelece mecanismos eficientes de contenção do crime, não
controla o poder de fogo dos criminosos, e, ainda por cima, proíbe a arma cidadã, o que mais estimula a bandidagem.
Mas os nefelibatas do politicamente correto preferem que as pessoas de bem morram
aos magotes, como indefesos cordeiros, pelos campos e cidades, em vez de lhes serem concedidas condições eficientes para promover a autotutela, enfrentando os lobos sociais
em igualdade de condições.
Claro que é preciso haver controle sobre a venda de álcool e gasolina, de
explosivos e de armas, neste caso por meio de exame psicológico e do estudo da vida pregressa
dos pretensos compradores – inclusive dos que se queiram habilitar a dirigir e
a pilotar – mas também é óbvio que isso não evitará totalmente que os infaustos
aconteçam.
O
que a polícia não deveria fazer é ir à mídia pregar que a população não se defenda, não reaja aos
bandidos, que entregue tudo, que se deixe roubar e seviciar – depois de haver sido
proibido por lei que o cidadão de bem tenha a sua arma de defesa. O mote dessa política
pública se resume no seguinte: “Já que não podemos combatê-los, juntemo-nos a
eles”.
Enfim, não
é aceitável que o Poder Público venha fazer o discurso do bandido ("Quem usa arma é policial ou bandido"), legitimando o seu instrumento ilícito
e desarmando a sociedade. É preferível o axioma latino, abusus non tollit usum – “o eventual abuso de algo não deve inibir o seu correto uso”.
COMENTÁRIO:
Sou
absolutamente concorde em relação ao comentário lúcido e veraz do Dr. Reginaldo
Vasconcelos, não apenas relativamente ao conteúdo, como também, e
principalmente, no que toca ao continente de seus textos muito bem aquinhoados
de estilo, estrutura e fausto vocabular.
Não é à toa que sou seu consulente na seara jurídica e fã número um da sua literatura correta, lógica, sobradamente racional e plena de estro e beleza e sensibilidade.
Folgo com dizer esta verdade insofismável “para Roma e para o Mundo” – “urbi et orbi”.
Aliás,
esta é a Academia certa e este jornal eletrônico constitui um orgulho meu, por
acolher tantos escritores e intelectuais da mais alteada ordem, consoante são o
Mestre ora sob escólio, Arnaldo Santos, Geraldo Jesuino, Rui Martinho, Altino
Farias ... e todo mundo de lá. Todo mundo, de verdade.
Benedicamos Domino!
Vianney Mesquita
Sou absolutamente concorde em relação ao comentário lúcido e veraz do Dr. Reginaldo Vasconcelos, não apenas relativamente ao conteúdo, como também, e principalmente, no que toca ao continente de seus textos muito bem aquinhoados de estilo, estrutura e fausto vocabular.
ResponderExcluirNão é à toa que sou seu consulente na seara jurídica e fã número um da sua literatura correta, lógica, sobradamente racional e plena de estro e beleza e sensibilidade.
Folgo com dizer esta verdade insofismável "para Roma e para o Mundo" - "urbi et orbi".
Aliás, esta é a Academia certa e este jornal eletrônico constitui um orgulho meu, por acolher tantos escritores e intelectuais da mais alteada ordem, consoante são o Mestre ora sob escólio, Arnaldo Santos, Geraldo Jesuino, Rui Martinho, Altino Farias ... e todo mundo de lá. Todo mundo, de verdade.
Benedicamos Domino!