SARAU VIRTUAL
DA ACLJ
(09.08.2020)
A Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ) promovia, nas noites de terça-feira, na casa de bebidas finas Embaixada da Cachaça, um poetry slam, consistente em um pequeno sarau de poesias, prosa poética e performances musicais acústicas ao vivo, segundo uma prática que começou nos EUA e se difundiu pelo Planeta.
Mas essa rotina cultural saudável foi interrompida pela pandemia de Covid-19, e então grupo de habitués passou a se reunir virtualmente nas manhãs de domingo, em que acadêmicos, artistas, intelectuais e poetas em geral, frequentadores daquele reduto boêmio e cultural, matam a saudade e mitigam a carência de convívio, mantendo em atividade a ACLJ, apesar do isolamento social obrigatório.
Na sessão virtual deste domingo (09.08.2020), para declamações em prosa ou verso, e para discussões e comentários sobre a cultura cearense, o tema central foi a paternidade, com diversas performances literárias e comentários sobre o pai de cada um, em virtude de coincidir a data com a que é consagrada aos genitores.
Estiveram reunidos 12 participantes, nomeadamente o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, 0 Agrônomo e Poeta Paulo Ximenes, o Procurador Federal e Professor Edmar Ribeiro, o Prof. Doutor Rui Martinho Rodrigues, Presidente Emérito da ACLJ.
A reunião deste domingo foi dedicada aos pais, razão pela qual a sessão foi aberta com a leitura de uma crônica do Presidente Reginaldo Vasconcelos, intitulada "Ser Pai", publicada no jornal Tribuna do Ceará em agosto de 1981, e em seu livro Traços da Memória - Laços da Província, de 1992. Abaixo, a sua transcrição.
Também disseram presente o Ambientalista João Pedro Gurgel, o Dentista Marcos Gurgel, o Físico e Professor Wagner Coelho, a Atriz, Poetisa e Psicoterapeuta Karla Karenina, o Marchand Sávio Queiroz Costa, o Filósofo e Terapeuta Júlio Soares, todos da ACLJ – e, como convidados especiais, o Músico Marcelo Melo e o Jornalista Almir Gadelha, ambos comendatários da ACLJ.
SER PAI
Nem todo homem tem a fibra de uma amansador de cavalos. Tampouco o gênio aveludado dos cavalos, docemente másculo, ou, por outra, rudemente fêmeo. Os meninos costumam esperar de seus pais todo o heroísmo e toda pujança.
Não são todos heróis. Nem os heróis o são de fato, quando por detrás do gesto grande está o nanismo que o moveu, a miudez do medo ou do ódio. Mas, qualquer um pode ser magnânimo, e garimpar as almas à cata da virtude. Qualquer um pode ser bom. Ser como o suave licor que aquece o coração do aflito, alegra o do triste, anima o do apático. Qualquer um pode ser pai.
Nem todos os pais sabem ser pais. Não é fácil sê-lo, e prestar um amor sem misturas, sem a idiossincrasia do tempo, sem a mesquinhez dos costumes. Um pai deve ter a grandeza dos astros, para relevar todos os pequenos desgostos. A pequenez das estrelas; sobranceiras, prestantes e guias. E não se postar no caminho como as pedras obstantes. Render ideias maduras sem jamais se opor aos fatos, como um estorvo da felicidade filial.
Não foi o amor dos filhos, mas o mercantilismo semítico que instituiu o dia dos pais. Porém, uma inspiração gentil. Felicitações aos pais. Não pelos filhos que fizeram parir. Felicitações aos que sabem ser pais, sentinelas avançadas da felicidade progênita.
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