quarta-feira, 19 de agosto de 2020

CRÔNICA - Recordações de um Promotor - II (GB)

 RECORDAÇÕES DE
UM PROMOTOR (II)

Jo Gu Bas*

 

 

REGRESSANDO a Pacoti, após um ano, convocado pela Procuradoria Geral da República, foi-me aberta “vista” de um inquérito policial que apurara o homicídio de uma senhora grávida e seus quatro filhinhos (o maior tinha seis anos de idade) encontrados sem vida, lado a lado, “dormindo” em pequenas camas. Bem perto, num papel de embrulho assinado pelo médico que atendia a toda serra, a causa mortis: envenenamento. Era acusado o marido, conhecido por “Cabo Neo”, assim nominado por prestar serviços à delegacia de Polícia. Tinha chaves da cadeia em mãos.


 

LEVADO a julgamento pelo Tribunal do Júri, insistiu na negativa dos crimes, tese que seu advogado, o deputado Antônio Barros dos Santos, teve que apresentar. Do julgamento, condenado a vinte e cinco anos, a defesa não recorreu. O réu após três meses fugiu da prisão, jurando vingar-se deste Promotor que “vos fala”. Foi parar no município de Crateús, juntando-se a seus colegas consumidores e vendedores das “ervas malditas”. Suas ameaças não se concretizariam, pois por eles foi assassinado.

 

OUTRO CRIME que causou revolta geral foi o do professor Samuel. Um aluno, revoltado pelas baixas e justas notas de reprovação, atocaiou o mestre numa das inúmeras curvas do serrote por onde costumeiramente passava, derrubou-o e desferiu-lhe vinte e quatro foiçadas. Dias, semanas, meses, anos se passaram, e o assassino nunca foi encontrado. Desta feita, o brocardo de que a “Justiça tarda, mas não falha”, não funcionou.

 

A ESCOLHA para exercer o múnus ministerial, nascida do desejo de fazer a Justiça chegar às classes menos favorecidas, serviria também para dar mais conforto à família, que estava se formando. O salário de jornalista e os poucos “biscates” do início da advocacia seriam substituídos pelos proventos da promotoria de Justiça. Ledo engano, pois vieram a atrasar o pagamento por seis meses, durante dois anos.

 

A VIDA dos serranos (muitos eram funcionários públicos) baseava-se na venda de frutas, em especial bananas, foi muito difícil, durante alguns anos. Necessitavam de um alento. Em conversa com o Juiz de Direito Adalberto Barros Leal, indaguei se teria seu apoio realizando um Festival de Banana, e que podia procurar o jornalista Stênio Azevedo, conhecido pelos concursos de Miss Ceará. A festa reuniu a população da serra e alegria voltou ao semblante de todos.

 

PRECISAMOS de festas para tentar esquecer, ou fazer de conta, dos Covids e assassinatos, em que se destacam os feminicídios que tanta tristeza e revolta trazem aos filhos desta outrora denominada Terra da Luz. E, principalmente, não esquecer dos Dez Mandamentos e obedecê-los.

 

DEUS não abandonará seus filhos.



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