QUEM VEM LÁ (3)
Rui Martinho Rodrigues*
Quem vem lá? A exacerbação dos ânimos favorece
candidatos afirmativos e aguerridos. É o perfil de Jair Bolsonaro, 63, militar
da reserva; e de Ciro Gomes, 60, advogado e político de carreira.
Bolsonaro, sete mandatos de deputado, o mais
votado em 2014 no Rio de Janeiro, contrário ao establishment, sem envolvimento com a corrupção. Militar da Reserva,
situação que atrai e afasta eleitores de segmentos distintos do público. Defende
os seus pares da caserna, e o regime por eles dirigido, das acusações de
tortura. Iniciou a carreira política com um perfil de representante sindical
das corporações castrenses.
Dado a declarações polêmicas, tem uma verve da
qual emanam tiradas admiradas por uns e repudiadas por outros, sugestivas de
desprezo pelos maneirismos e sofismas da política, hoje em descrédito. Evoluiu
de um perfil estatizante para posições liberais em economia, permanece
conservador quanto aos costumes. Não tem envolvimento com corrupção, mas responde
a ação penal por motivo de declarações fortes, podendo enfrentar problemas para
registrar a candidatura.
Integrante do pequeno PSC, se eleito terá
dificuldades para compor a base parlamentar, situação mitigada por ser comum a
todos os candidatos. Sem experiência administrativa, não demonstra habilidade
para a convivência com o mundo político. Suas ideias não são claramente
conhecidas, salvo pela intolerância diante da corrupção e o conservadorismo
quanto aos costumes. Sua equipe terá militares e um economista liberal. Está bem
nas pesquisas, mas não cresceu desde que alcançou o atual patamar. Não tem apoio
de máquinas governamentais, com as vantagens e desvantagens daí decorrentes.
Ciro Gomes, PDT, que foi deputado estadual e
federal, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro do governo Lula,
tem larga experiência administrativa e grande eloquência. Há tanto tempo na
política, filho de político e com os irmãos na política, integra a mais larga
aliança partidária da História do Ceará e de todo o Brasil.
Ciro pertence ao establishment, o que afasta alguns votos. Polemista dado a
declarações incisivas, poderá ganhar alguns eleitores que acreditam no
voluntarismo de líderes fortes. Discorre com desenvoltura sobre os problemas
nacionais, deve levar vantagem nos debates, embora deva enfrentar questões
espinhosas, como as alianças com grupos
contra os quais fez as mais graves acusações.
Tem uma equipe qualificada. Mas aproximou-se dos
defensores do socialismo do Século XXI, da Venezuela, adotou um discurso
assemelhado ao velho desenvolvimentismo, embora o seu governo e os do seu grupo
político no Ceará sigam a ortodoxia econômica. Chegará ao segundo turno com os
votos órfãos do Lula, se for aceito pelas forças do lulopetismo.
Jair e Ciro, por suas diferenças e
semelhanças, poderão chegar ao segundo turno. O Congresso ainda mais
fragmentado; a necessidade das reforma necessárias, mas difíceis de executar;
vindos de partidos pequenos; sem liderança pessoal no Parlamento; a crise
econômica marcada pelo endividamento dos entes públicos, das empresas e
consumidores; os serviços públicos precisando de mais verbas e necessitando
cortá-las; privilégios de grupos poderosos; contexto internacional com
agravamento da relações comerciais de importantes nações. Por fim, a alta dos
juros nos EUA e do dólar, tendendo a desviar investimentos do Brasil, é o que
aguarda o vencedor, seja ele quem for.
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