sábado, 9 de junho de 2018

CRÔNICA - Coisas e Loisas (VM)



COISAS E LOISAS
  (Livro de Horácio Matoso)
Vianney Mesquita*



Acumulo regular experiência no mister de acompanhar a edição de livros, revistas e assemelhados, desde que, no começo dos ’60, na antiga Escola Industrial de Fortaleza, hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFCE, gerenciava a edição de periódicos dos estudantes. Abracei com vigor e profissionalismo esse ofício, já como professor da Universidade Federal do Ceará, exercendo em paralelo a função de editor das Edições UFC, a qual veio se tornar uma das maiores publicadoras oficiais do País.

Nessa ambiência acadêmica, já acostumado a apreciar a boa leitura, e com a vontade decidida de socializar os conhecimentos que produzia, amiudei a frequência de publicar meus escritos e, até hoje – 2018 – trouxe a público duas dezenas de livros de estudos, apreciações e crítica literária, além de muitos artigos de teores do saber novo, comentários acerca de volumes editorados, quartas-capas e guarnições, publicados por órgãos idôneos do Ceará e de outras unidades federadas.

Atravessa seu período de prelo, nas oficinas da Imprensa Universitária da UFC, o derradeiro rebento (vigésimo primeiro), intitulado Franciscos – Moradores do Céu, esforço de pesquisa bibliográfica a respeito de epítomes da vida de catorze santos canonizados pelo Tribunal Eclesiástico da Igreja Católica, Apostólica e Romana, quatro Franciscas e dez Franciscos, o qual sairá daqui a dois meses. (Santas Francisca Romana, Francisca e Xavier Cabrini, Francisca Fremiot de Chantal e (Leônia) Francisca de Sales Viat; e Santos Francisco de Sales, Francisco de Xavier, Francisco de Paula, Francisco Fernandez Capillas, (João) Francisco Régis, Francisco Régis Clet, Francisco Borja, Francisco Solano e Francisco de Jesus Marto este o Pastorinho das aparições da Virgem Maria em Fátima, em 1917, santificado pelo Papa Francisco em 13 de maio de 2017, no Santuário de Fátima/Portugal).

Na linha religiosa, publiquei, também, em 2004, pelas Edições UVA, de Sobral-CE, o livro ...E o Verbo se Fez Carne, atinente ao Evangelho de São Lucas, composto em versos de arte menor, os mesmos pés do chamado sonetilho, com sete acentos em cada um.

Na contingência da atividade editorial, cultivei o hábito, penso que salutar, de estimular outras pessoas a também assim procederem, isto é, trazendo a público suas ideias, por simples que sejam, por mais desataviadas de estilo que se mostrem, pois, à medida que adentram a ação de escrever, a arte vai penetrando, o feito se mostra e resulta em um bom projeto.

Guardo exemplos de escritores, até de fama, que estiveram sob a emulação de minha influência, da vibração manifesta, cujo primeiro trabalho publicado traz a marca desta estimulação. 

***

Certa vez, chegou ao meu local de trabalho, indicado por um amigo comum, o jornalista Horácio Matoso, de Russas-CE, com os originais, por ele próprio digitados, de umas lérias que despretensiosamente escrevera no curso de sua vida de homem simples e sobradamente feliz, felicidade, aliás, edificada no labor e na decência na sua mencionada Cidade-berço.

Veio ele contratar meus serviços profissionais de revisor de textos, com a ideia pequena de mandar fazer, artesanalmente, uma edição de 150 ou 200 exemplares, para distribuição com a família e os amigos.

Procedi à tarefa da revista, havendo, num átimo, me identificado com diversas – quase todas – as passagens de sua qualificada narração, porquanto, oriundo do interior do Ceará (Palmácia), eu conhecia de sobejo o vocabulário, os tipos exóticos, as excentricidades e manias de suas personagens. Identificara até o caráter não recomendável de pessoas com quem privou profissionalmente, e das quais ele soube, com descortino, se livrar muito bem, sem lhe haver ficado qualquer crosta, tampouco ressentimento algum, na qualidade de síndico do condomínio das boas criaturas.

Apreciei, sobremodo, seu estilo simples, comunicativo e correto, ao narrar os causos picarescos, enfeitados, mas reais, curtos e gostosos de ler, de uma assentada.

Então, arrefeci da ideia da edição mignon e lhe disse:

– Negativo! Como é que o senhor, que já não é nenen, havendo perdido tanto tempo com esses escritos na gaveta – e, além do mais, funcionário graduado do Banco do Brasil – extraordinária referência – quer cometer um desatino desses? Não senhor! Deve fazer uma publicação industrial, moderna, com boa tiragem e qualidade estética, que possa circular por qualquer lugar do mundo sem fazer vergonha. Se o livro tem bom conteúdo, esse há que estar capeado por um ótimo continente!

Eis que o homem quebrou o porquinho, pegou a minha corda e até conseguiu uma orelha do amigo Eduardo Campos – autor ecumênico, prolífico, polígrafo, de quem até hoje sou admirador (Deus o tenha!), pelo fato de constituir um dos maiores escritores do Ceará, que rivaliza com Gustavo Barroso, e nunca adentrou a Academia Brasileira de Letras porque não quis...

Então, veio à praça literária o escritor Horácio Matoso, fundador do Correio de Russas, ao batizar o Coisas e Loisas nas águas de sua felicidade e dos amigos, como o primeiro rebento literário, o início de uma série comprida, pois a literatura, desde então, é sua mania, sempre completada com a loura suada, de que tanto gosta.

Horácio Matoso, caríssimo: tenha certeza de que seu texto é bom, sincero, correto e singular. Você leva um jeito especial de narrar, ajudado, evidentemente, pela participação pessoal nas ocorrências. Prossiga no exercício de sua verve, mostre, constantemente, seu engenho. Seu público o quer escrevendo. Siga o conselho do excelso vate Luís de Camões, ao dizer que “[...] cantando espalharei por toda parte, se a tanto me ajudar engenho e arte”.

Continuo a dar-lhe parabéns por haver “caído na vida”, completado a missão que, consoante assinala a tradição, configura em plantar uma árvore, gerar um filho e publicar um livro...


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