segunda-feira, 25 de junho de 2018

ARTIGO - Direita, Esquerda e Eleição (RMR)


DIREITA, ESQUERDA
E ELEIÇÃO
Rui Martinho Rodrigues*




O debate eleitoral usa as palavras direita e esquerda. Enclausura a pluralidade política em duas posições. Depois criou o centro, e inúmeras possibilidades em uma linha entre os extremos. Direita e esquerda demandam esclarecimentos. As duas posições teriam origem na Assembleia Nacional Francesa, na Revolução de 1789.


Direita, os monarquistas, que queriam manter a desigualdade entre os estratos sociais. Esquerda, os republicanos, que queriam a igualdade. A Revolução, porém, queria igualdade apenas perante a lei, não na lei. Não propunha a igualdade de todos em tudo, ou de resultados. Diferenças materiais não estavam da mira da revolução, e nem sequer a igualdade de alguns em tudo.

A hierarquia militar e as distinções havidas como meritocráticas persistiram. Não era, tampouco, a igualdade de alguns em tudo. Os revolucionários pretendiam apenas a igualdade de todos em algo mínimo: a obediência à lei com as suas desigualdades.


A igualdade da Revolução Francesa não era a de épocas posteriores, tendentes à igualdade de resultados ou de todos em tudo. Ademais, não só a igualdade separava os partidos da Revolução citada. Revolucionários eram universalistas, declararam os direitos do homem, não dos franceses.

Os seus oponentes aproximavam-se mais das posturas nacionalistas, tendência cada vez mais nítida nas gerações seguintes: Esquerda era internacionalista; Direita, nacionalista. Até que a II GM, as lutas pela descolonização e os primeiros tempos da globalização tornaram conveniente explorar o nacionalismo. A esquerda passou a nacionalista, até que os conservadores voltaram-se contra os globalistas. Aí tudo mudou novamente.

Textos bíblicos já usam direita e esquerda. Israel era uma teocracia. Apoiadores e transgressores da lei mosaica eram, respectivamente, direita e esquerda, favoráveis e contrários à tradição judaico-cristã. A Revolução Francesa se fez contra o trono e o altar. Esquerda e direita definiam as relações com a Igreja, não lugar das bancadas na Assembleia. A Igreja e os grupos políticos tornaram-se aliados e adversários, conforme a conveniência momentânea. Direita e esquerda seriam os defensores e opositores da lei e da ordem? Depende de quem esteja no poder.

Armas e liberdade negocial são direita? Liberdade negocial e casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou direito ao uso de drogas psicoativas, também são direita? Liberais e conservadores convivem juntos na direita? A pessoa pertencer a ela mesma é liberalismo? Pertencer a algo maior, à igreja, pátria e família; ou ao partido, à classe social e à humanidade são coisas de esquerda ou de direita? Esquerdistas são conservadores?

Socialistas instituíram uma nova classe com desigualdades profundas. Alguns regimes de direita suprimiram liberdades. Todo regime defende as suas leis e a sua ordem. Igualdade e liberdade parecem virtudes, mas seria preciso qualificar tais coisas. O que vemos é uma “ética” teleológica, mero pragmatismo e desinformação.

Porto Alegre, 25 de junho de 2018.



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