PARADOXO:
POLITIZAÇÃO E
DESENGAJAMENTO
Rui Martinho Rodrigues*
As redes sociais tratam mais de política do
que de futebol, em plena copa do mundo. Todos conhecem os ministros do STF e a
“posição em que jogam” ou a “escalação” deles, como se diz no futebol. Ardem as
paixões políticas, prejudicando amizades e até dividindo famílias. Parlamentares,
em geral, não são conhecidos dos eleitores. Falta-nos a memória de quem
sufragamos. Mas parlamentares denunciados pelo Ministério Público ou acusados
por réus, em sede de acordos de colaboração negociada, estes são conhecidos.
Tudo isso revela um elevado grau de algum tipo de politização do povo
brasileiro, no presente momento.
A intensão dos eleitores, apuradas em diversas
ocasiões, por todos os institutos de pesquisas, indica elevado índice de votos
em branco e nulos, além de grande abstenção – e muitos eleitores que dizem
ainda não saber em quem votar. O contexto de tal situação está marcado pelo
elevado grau de interesse pela política, demostrado nas redes sociais, superior
ao que o futebol desperta; as paixões exacerbadas percebidas por todos; e a
grande quantidade de informações disponibilizadas pela Internet, demonstrada no
conhecimento revelado pelos eleitores a respeito do que se passa no STF, na PGR
e na Lava Jato.
Parece um paradoxo. Será, porém, real ou
apenas aparente? Como conciliar a suposta contradição? A politização atual não
é orquestrada por setores aparelhados. A informação em tempo real não enseja
oportunidade aos intelectuais de manipular o significado dos fatos. A Internet,
tribuna universal franqueada a todos, quebrou o monopólio da informação. Temos
contraditório, temos pluralidade e – principalmente – temos informação
constituída principalmente por dados brutos, não lapidados pelos profissionais.
Não há paradoxo. O povo concluiu que não temos
partidos dignos deste nome, no que está certo, e julgou que não temos líderes
merecedores do voto dos cidadãos, no que pode ter exagerado um pouco, mas não errou
tanto. Interpretou os fatos de modo a merecer a nossa reflexão. Afinal, temos
uma inflação de candidatos, mas não sabemos claramente quais são os seus
planos, acordos e negócios. Os candidatos à chefia do Executivo ocuparam os
espaços nos meios de comunicação, mas o povo sente falta de dados sobre como
aglutinará a sua base parlamentar, e sabe que voluntarismo não resolve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário