GOLVAVÁ
Totonho Laprovitera*
A
tradicional macarronada italiana da família Laprovitera, faz-se acompanhar de bracciola
(enrolado de carne recheada) e polpette (bolinho frito de batata, às
vezes recheado de salsicha).
Lá
em casa existia a “cozinha do povo”, um amplo cômodo de serviço nos fundos da
residência, para apoio aos habituais festejos da família. E foi onde a bracciola
virou “brajola” e polpette “propeta”, pelas afetuosas cozinheiras
e copeiras que aportuguesaram as palavras da língua italiana.
Em
1962, no Chile, Vavá foi um dos artilheiros da Copa do Mundo com cinco gols e
bicampeão mundial. Na época, aos 5 anos de idade, eu dava um trabalho danado
para comer. Aí, no almoço, a Maria (minha segunda mãe) espetava uma propeta com
o garfo e, imitando o locutor do rádio, gritava: “Gol, Vavá!”. Encantado, eu
abria a boca e me deixava alimentar.
A
partir de então, lá em casa, a propeta, que era polpette, passou a ser
chamada de “golvavá”!
COMENTÁRIO
Zélia
Gatai lançou um livro que denominou “Códigos de Família”. A obra trata dessas
expressões curiosas nascidas de fatos singelos, porém marcantes, que se tornam
corriqueiras entre pais e filhos, entre irmãos, entre familiares, às vezes
perfurando gerações do mesmo clã.
Totonho
traz nessa sua saborosa croniqueta a evolução na terminologia culinária
italiana, no seio de sua família de oriundi,
com afetuosas inflexões na cultura brasileira – a gentil criadagem multiétnica
e a proverbial paixão futebolística.
Dou
dois exemplos pessoais, ambos no campo alimentar, para não dissentir do tema em
que Totonho trefegou com galhardia.
Traficamos
para a nossa família uma expressão dos Coelho Ximenes, célula familiar com cujas últimas gerações a minha gente se irmanou.
Contam
eles que uma tia, de finanças modestas, visita a casa da cunhada pecuniosa em
reunião familiar, e, a certa altura, na roda feminina, ansiosa por oportunizar um
pequeno luxo que a sua dispensa não fornece, ela indaga à anfitriã: “Emília,
tem queijo? Pois vamos a ele!
Por
isso, aqueles, e depois os meus, passamos a solicitar que algum acepipe venha à
mesa com essa frase, na direção de quem esteja no serviço: “Emília, tem queijo?”.
Um
segundo código de família de minha casa, também culinário, teve início no Sítio
Nirvana, lá pelos anos 60, entre irmãos e primos da prole de minha mãe e de
minha tia, reunidos para as férias.
Elas
costumavam mandar ferver as roubas lavadas, creio que para obter melhor limpeza
ou para evitar contaminação de qualquer ziquizira que o ambiente sertanejo transmitisse às crianças,
no convívio com os bichos e com os simples.
Uma
certa manhã os meninos percebemos a grande lata cheia de panos fumegando entre
as panelas do fogão, e quando ao meio dia foi servida uma travessa com “arroz Maria
Izabel”, conhecido no sertão como “arroz de atoleiro”, este ganhou imediatamente, entre
nós, o apelido de “sopa de roupa”, assim até hoje conhecido esse prato por meus
netos, primos-terceiros, sobrinhos-netos.
Reginaldo
Vasconcelos
COMENTÁRIO
Muito me causa saudades essa referência do
Reginaldo a esse pitoresco fato havido em minha casa, pelos idos dos anos 70. A
Emília do “Emília tem queijo?” era minha mãe. A outra interlocutora era a minha
tia Cotinha. Faz tanto tempo que os nosso estoque de queijos sofriam aquelas
avarias...
Paulo
Ximenes
Muito me causa saudades esse referência do Reginaldo a esse pitoresco fato havido em minha casa pelos idos dos anos 70. A Emília, do "Emília tem queijo?" era a minha mãe. A outra interlocutora era a minha tia Cotinha. Faz tanto tempo que os nossos queijos sofriam aquelas avarias...
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