O ENIGMA DA
PREVIDÊNCIA
Rui Martinho Rodrigues*
Debate-se
a reforma da previdência. Mas não é disso que se trata. A seguridade social é
parte do problema e o nó górdio é o equilíbrio fiscal. A desvinculação das
receitas da União (DRU), relativamente à Previdência e à Seguridade, é o objeto
da reflexão. O constituinte de 1988 optou pela solidariedade entre a
previdência e a assistência social.
O
sistema previdenciário tripartite, criado no governo conservador do Chanceler
Otto Eduard Leopold Von Bismarck (1815 – 1898), reuniu contribuições do segurado,
do empregador e do Estado visava apenas aposentadorias e pensões. Hoje temos
outros benefícios, entre os quais serviços de saúde cada vez mais caros; além
da assistência social.
A
solução encontrada foi vincular vários tributos à Previdência e assistência. O
déficit do sistema previdenciário estaria resolvido. Mas restam dois problemas:
as despesas do sistema crescem constantemente há cerca de trinta anos. Ainda
que haja, com os tributos vinculados à previdência e à seguridade, um
equilíbrio momentâneo de contas, a situação tende a se deteriorar com o crescimento
das despesas do setor. A vinculação dos tributos apenas transfere o déficit da
previdência e da assistência para o Tesouro, que está com um desequilíbrio de
159 bilhões este ano, devendo chegar 179 bilhões em 2018.
Então o
problema é o equilíbrio fiscal. A carga tributária foi aproximadamente
duplicada desde o advento da CF/88 e, com tamanho aumento de receita, o
endividamento do Tesouro cresceu exponencialmente. A DRU foi defendida pelos
governos FHC, Lula, Dilma e Temer.
Governando, todos defendem a DRU; na oposição, se opõem a ela. Finanças se curvam à contabilidade e à matemática financeira. Norma jurídica não paga contas. Os direitos, porém, são postos como argumento no debate sobre o tema. É o fetichismo da norma jurídica.
Governando, todos defendem a DRU; na oposição, se opõem a ela. Finanças se curvam à contabilidade e à matemática financeira. Norma jurídica não paga contas. Os direitos, porém, são postos como argumento no debate sobre o tema. É o fetichismo da norma jurídica.
A
legitimidade para reformar deveria passar pelas urnas, dizem alguns. Quem se
eleger terá legitimidade para fazer o que prometeu. Mas vencerá o candidato que
prometer apertar o cinto? As lendas dizem que sobra dinheiro. Temos a lenda dos
créditos previdenciários, ignorando que a cobrança se faz com a lentidão da
justiça, nem todas elas serão integralmente acolhidas pelo Judiciário e
algumas, de massa falida, sem fundos nem patrimônio, são irrecuperáveis.
Nem é
preciso dizer que cobrança de dívida é receita ocasional, não assegura
equilíbrio de caixa a longo prazo. A mais ingênua é a lenda do regime de
capitalização, como se houvesse uma carteira de investimentos para cada
segurado, cujos rendimentos pagariam as aposentadorias e pensões. Não existe
tal investimento e as despesas não são só as aposentadorias e pensões. O
conjunto das lendas é a ilusão do tratamento sem dor para a crise fiscal.
O
problema é o Estado provedor antes de sermos desenvolvidos, tendo produtividade
baixa, economia informal, proporção desfavorável entre a parcela próspera e a parcela carente da população, elevados índices de acidente do trabalho, de trânsito, de
homicídios e prisional, tudo onerando a previdência e a assistência social. Tudo ao
contrário das experiências europeias do Estado provedor. Tendo vantagem em tudo
isso os europeus não estão suportando o ônus do welfare state.
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