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EM VEZ DE PEQUENAS DERROTAS, IMPORTUNOS
CONTRATEMPOS
(Para o Prof. Dr. Arnaldo Santos)
Vianney Mesquita*
Em muita guerra, foi o vencido e não o
vencedor que ficou com os melhores despojos. (Henry HAVELOCK ELLIS – médico, escritor e
psicanalista inglês, coautor do primeiro livro sobre homossexualismo – Croydon
– UK – * 02.02.1859 – + 08.07.1939).
Conquanto
já um pouco tarde, aprendi com os vaivéns e águas furtadas da existência apenas
a agradecer pelo que de propício me acontece, e, a igual tempo, relevo, até por
absoluta necessidade, os desfechos menos favoráveis.
Há
poucos meses, conversava com meu amigo, o Prof. Dr. Arnaldo Santos, figura
ímpar da inteligência coestaduana, a respeito de lances malvados ocorridos
comigo desde 2015, narrando para ele o que chamei de mínimas derrotas, já amatando, com esse entendimento mais pequeno (1), o
vigor de tais recepções, isto é, sem valorizar em demasia o pseudomal acolhido.
Eis
que, de chofre, ele me consertou, ao dizer que tais adversidades eu devia
contabilizar não na conta da derrota,
porém, na coluna da provação, pois
entende não assentar em mim, não se coadunar comigo, a tacha de perdedor, em
decorrência – no alcance do entendimento dele – do lugar por mim assumido como
pessoa bem postada no concerto cearense relativamente ao preparo intelectivo.
(Nem tanto ao mar, nem tanto à terra;
nem no auge, tampouco no rés. Não ator insuperável, muito menos bufão...).
Passei
a compreender que os desenlaces, na sua maioria, vêm à nossa conta credora para
aplicação no futuro – ligeiro, mais remoto ou mesmo longínquo – porquanto o
nosso tempo é distinto do calendário de Deus, porque Ele o guarda para oportunidade
que asar, enquanto somos imediatistas e não alcançamos, de logo, o que para nós
está escrito e armazenado a fim de ser convenientemente empregado pela Providência
no momento aprazado.
Parecido
com o que ora expresso ocorreu em 2015-16, porém, 2017, no seu ocaso, continua
sendo um ano pesado a todos os nacionais, bem assim para muitos infelizes dos
cinco continentes e ilhas de todo o Globo. Roncaram incontáveis trovões, coruscaram
malvados relampos (2), grassaram destrutores tsunamis, azucrinando os ouvidos de
nossa economia, nos encandeando a moral com os alcances do dinheiro público e,
em tese, levando de roldão os bons propósitos dos brasileiros.
Estamos,
agora, na expectativa, por exemplo, da reforma previdenciária, bem recepcionada
por uns e adulterina para outros; aguardamos a aplicação da nova ordem
eleitoral para os pleitos que vão acontecer, em circunstância de remover as
possibilidades de despudor de postulantes aos cargos executivos e legislativos,
useiros e vezeiros em lograr a legislação e enganar o povo; e, dentre centenas
de expectações para o 2018 entrante, os compatriotas esperam os julgamentos
faltantes da “lava-jato”, a fim de recuperar uma parte desses bilhões roubados
e recobrar um pouco da moral-ética nacionais, abalada em ultrapasse às
fronteiras do País.
Pensemos
em respirar um pouco melhor no ano que vem, arrimados na quadra natalina que
corre, com Fé e Esperança no Alto e praticando, mesmo que limitados, a outra
virtude teologal – a Caridade – na certeza de que, conforme leciona Arnaldo
Santos, não arrostamos pequenas derrotas, porém, fomos alvos de importunos
contratempos, pequenas provações, a nos creditarem valores na poupança a fim de
serem despendidos no tempo apropriado pela Divina Providência.
Embora
o 2017 (quase desfalecido) não nos vá deixar muita saudade, tenhamos na devida
consideração o fato de que toda descida traz a sugestão para nova subida.
A
derrocada é reforço para outra e mais segura escalada.
Andiamo, via!
1 Peço ao leitor, antes de opinar, que procure conferir nas fontes a propriedade ou não do emprego de termos e expressões divisadas. Lembro o brocardo de Públio OVÍDIO Nasão, na Arte de Amar III, v. 397: Ignoti nulla cupido = “Não se deseja o que não se conhece”.
2 Aprecio usar as palavras de uma língua extraordinariamente polissêmica, como é o Português. Este vocábulo tem registro, consoante anota Arrais, desde 1589, alt. De relâmpado. (Dicionário Houaiss, 2001, p. 2421).
COMENTÁRIOS:
Vianney Mesquita foi poético, filosófico e erudito, ao tempo em que externa uma substantiva reflexão sobre fases, e algumas vicissitudes da vida, assim internalizo os valores contidos no conteúdo do seu artigo. Mais do que sensibilizado e envaidecido, com o belo texto com o qual o amigo me homenageou nesse espaço, sinto-me engrandecido por saber que a forma com que percebo determinadas circunstâncias, que se nos interpõem durante a vida, coincidem com os valores que fundam parte da sua cosmovisão. Obrigado amigo! Espero continuar sendo digno de tamanha distinção.
Arnaldo Santos
Mesmo que a intervenção de meu pai Arnaldo Santos, no diálogo que tiveram, não tivesse sido tão eloquente, sensível, imprescindível a uma guinada perspectiva, Vianney assim a tornaria, com tão sensível e elaborado discurso. Escreve muito bem o Vianney. Digno de equiparação aos graúdos referenciais literários cearenses e brasileiros! Ele consegue ser poético, analista, sócio-político e erudito em uma construção só.
João Pedro Santos
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