CANALHICE
Humberto
Ellery*
Nas últimas seis eleições eu votei no FHC, no
Serra, no Alckmin e no Aécio, tendo em vista que as opções eram o Lula ou a
Dilma. Por causa disso fui injustamente “acusado” de ser Tucano.
Entre um Tucano e um petista, mesmo o
candidato Tucano, não sendo ab imo pectore, não tenho dúvidas, voto no
Tucano. Mas o único partido ao qual fui filiado é o PMDB (observem o tempo do
verbo: “fui”).
Após o “golpe democrático” derrubar a
Dilma, esperei que os Tucanos entrassem no Governo Temer sem maiores
traumas, pois “quem ajuda a derrubar ajuda a governar”. Não foi o que se viu.
Os Tucanos se comportaram de maneira semelhante ao PT, quando do Impeachment
do Collor (são mais parecidos com o PT do que admitem).
Obviamente, com aquelas vacilações típicas de
quem fez o ninho em cima do muro. Mas não chegaram ao exagero de expulsar
ninguém do partido, como o PT fez com a Erundina.
Confesso que fiquei incomodado, porque vi nos
primeiros movimentos de Temer um Presidente comprometido com a superação do
descalabro deixado de herança pelo (des)governo petista, adotando medidas que
fazem parte do posicionamento doutrinário dos Tucanos, cujos resultados, de
maneira paulatina e consistente, logo se fizeram notar.
Acreditava que se os tucanos entrassem
firmemente no Governo Temer, e o ajudassem na condução da agenda de
reformas, estas rapidamente se concretizariam, de maneira menos
traumática do que estamos vendo, e em 2018 se apresentariam aos eleitores como
credores da recuperação do País, e cobrariam a fatura ao Temer, em forma de
apoio do Governo.
Imaginei então que mantinham um certo
afastamento do Temer para evitar a “contaminação” de sua impopularidade, o que
de certo modo se justifica, pois não se pode exigir de um partido que ele crie
dificuldades eleitorais para si próprio. Mas isso seria uma burrice, pois o
Temer poderia apoiá-los de forma velada, institucionalmente, com toda a força
de que dispõe o Governo, o que seria facilmente negociado.
Contudo, quando, de modo incoerente,
trataram o “fator previdenciário” como um filho enjeitado, comecei a desconfiar
de que se tratava mesmo de covardia, ainda mais quando Tasso se afastou
acintosamente do Temer e propôs uma composição com Rodrigo Maia.
Agora, na convenção do dia 9, Alckmin, em seu
discurso, quando piscou para Temer dizendo “registre-se o esforço do atual
governo (não citou o nome do Temer) que, pouco a pouco, começa a reversão da
tragédia econômica em que o País foi colocado”, deixou bem claro o
caminho que o PSDB escolheu trilhar: apoia as reformas, mas debilmente, sem
apoiar o Temer, mesmo sabendo que esse seu posicionamento trava os trabalhos do
Congresso, e prejudica enormemente a recuperação do Brasil, colocando seus
interesses eleitorais acima dos interesses nacionais.
Faz parte da ética política agir sempre em
busca dos votos, mas há uma ética maior que coloca o País sempre em primeiro
lugar. Portanto, esse comportamento tucano não é incoerência, não é
covardia, nem é burrice. É canalhice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário