segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

ARTIGO - Canalhice (HE)


CANALHICE
Humberto Ellery*

Nas últimas seis eleições eu votei no FHC, no Serra, no Alckmin e no Aécio, tendo em vista que as opções eram o Lula ou a Dilma. Por causa disso fui injustamente “acusado” de ser Tucano.

Entre um Tucano e um petista, mesmo o candidato Tucano, não sendo ab imo pectore, não tenho dúvidas, voto no Tucano. Mas o único partido ao qual fui filiado é o PMDB (observem o tempo do verbo: “fui”).

Após o “golpe democrático” derrubar a Dilma, esperei que os Tucanos entrassem no Governo Temer sem maiores traumas, pois “quem ajuda a derrubar ajuda a governar”. Não foi o que se viu. Os Tucanos se comportaram de maneira semelhante ao PT, quando do Impeachment do Collor (são mais parecidos com o PT do que admitem).

Obviamente, com aquelas vacilações típicas de quem fez o ninho em cima do muro. Mas não chegaram ao exagero de expulsar ninguém do partido, como o PT fez com a Erundina.

Confesso que fiquei incomodado, porque vi nos primeiros movimentos de Temer um Presidente comprometido com a superação do descalabro deixado de herança pelo (des)governo petista, adotando medidas que fazem parte do posicionamento doutrinário dos Tucanos, cujos resultados, de maneira paulatina e consistente, logo se fizeram notar.

Acreditava que se os tucanos entrassem firmemente no Governo Temer,  e o ajudassem na condução da agenda de reformas, estas  rapidamente se concretizariam, de maneira menos traumática do que estamos vendo, e em 2018 se apresentariam aos eleitores como credores da recuperação do País, e cobrariam a fatura ao Temer, em forma de apoio do Governo.

Imaginei então que mantinham um certo afastamento do Temer para evitar a “contaminação” de sua impopularidade, o que de certo modo se justifica, pois não se pode exigir de um partido que ele crie dificuldades eleitorais para si próprio. Mas isso seria uma burrice, pois o Temer poderia apoiá-los de forma velada, institucionalmente, com toda a força de que dispõe o Governo, o que seria facilmente negociado.

Contudo, quando, de modo incoerente,  trataram o “fator previdenciário” como um filho enjeitado, comecei a desconfiar de que se tratava mesmo de covardia, ainda mais quando Tasso se afastou acintosamente do Temer e propôs uma composição com Rodrigo Maia.

Agora, na convenção do dia 9, Alckmin, em seu discurso, quando piscou para Temer dizendo “registre-se o esforço do atual governo (não citou o nome do Temer) que, pouco a pouco, começa a reversão da tragédia econômica em que o País foi colocado”,  deixou bem claro o caminho que o PSDB escolheu trilhar: apoia as reformas, mas debilmente, sem apoiar o Temer, mesmo sabendo que esse seu posicionamento trava os trabalhos do Congresso, e prejudica enormemente a recuperação do Brasil, colocando seus interesses eleitorais acima dos interesses nacionais.
 

Faz parte da ética política agir sempre em busca dos votos, mas há uma ética maior que coloca o País sempre em primeiro lugar. Portanto, esse comportamento tucano não é incoerência, não é  covardia, nem é burrice. É canalhice.

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