quinta-feira, 3 de novembro de 2016

TÚNEL DO TEMPO – PUBLICADO HÁ 20 ANOS


REAGE RIO,
 REFORÇA FORTALEZA


Ciro Gomes ficou famoso como o governador que fez um rio, enquanto Leonel Brizola se notabilizou como aquele que destruiu outro – o Rio de Janeiro, cidade que, aliás, nunca teve rio algum. Trocadilho infame que o “Ceará Moleque” vem propalando. Bairrismo de lado, antibrizolismo à parte, fica de tudo uma verdade: desgraçaram a Cidade Maravilhosa.

Mas a conta não pode ser debitada somente às excentricidades do método Brizola, tampouco aos governos dos que o antecederam, muito menos ao que se seguiu ao dele. A culpa dos padecimentos atuais do Rio de Janeiro é do seu povo como um todo, do político ao barnabé, do empresário ao favelado, com as honrosas exceções de praxe.

A culpa é dos que promovem o jogo e jogam no bicho, contravenção que alimenta o crime; dos que traficam e usam drogas, pelas quais se mata e se morre; dos que corrompem e se deixam corromper pelas esquinas, pelos balcões, pelos birôs dos órgãos públicos.

Grandes civilizações ruíram – guardadas as proporções – pela exaustão de certas práticas sociais e pelo esgotamento de convicções ideológicas. O liberalismo caótico que caracteriza a cultura carioca é a verdadeira causa de todos os seus males.

O “jeitinho” de tudo resolver com uma boa conversa, que isoladamente pode parecer simpático, ao se generalizar se torna institucional, corrompe todas as normas e deturpa as suas finalidades. Ademais, cria espaço para a propina e para o tráfico de interesses.

É verdade que os dramas que afetam o Rio de Janeiro são comuns a todas as capitais brasileiras, e às grandes metrópoles do mundo, porém na capital carioca eles estão fora de controle. É que os problemas da modernidade encontram um ótimo caldo de cultura onde nada é mais importante do que praia, samba e futebol. Parece que as condições geográficas paradisíacas da cidade favorecem a um certo hedonismo, que induz à descontração e à malandragem.

Senão, vejamos: um baiano, ou um pernambucano, jamais chutaria um símbolo católico diante das câmaras de TV; no Piauí ou no Rio Grande do Sul um delinquente truculento jamais seria transformado em “animal” de estimação. E em nenhum outro Estado foi tão difícil apurar os votos das últimas eleições quanto no Rio, pela ação escandalosa de escrutinadores corruptos.

Enfim, enquanto Brizola tem sido acusado pela elevação dos índices de criminalidade no Rio de Janeiro, um conterrâneo seu, Moroni Bing Torgan, tem reduzido esses índices aqui no Ceará, o que nos autoriza a dizer que o nosso gaúcho é mais esperto do que o deles.

No entanto, é preciso reforçar a vigilância, evitando que ambições políticas se misturem com questões de segurança pública. Que o SINDES, criado por Moroni, seja uma bandeira de luta e não apenas um instrumento eleitoral. Quem pede paz está sofrendo, e quem precisa reagir está por baixo. Queremos guerra. Guerra sem trégua a todo tipo de crime, em todos os quadrantes do Estado.

Reginaldo Vasconcelos - JORNAL SCANDALUS - 1996




NOTA DO EDITOR:

A matéria foi publicada quando a Cidade do Rio de Janeiro começava a perder o controle sobre o crime organizado, movido pelo jogo do bicho e pelo tráfico de  drogas, na época principalmente a maconha e a cocaína, envolvendo o financiamento do seu milionário carnaval.

O Ceará, como o resto do Brasil, ainda vivendo relativa paz social, começava a receber o influxo sudestino do banditismo mais pesado – os primeiros crimes de sequestro, os primeiros assaltos a bancos, a fuga espetacular de presos do Instituto Penal Paulo Sarasate em Fortaleza, ocorrido em 1994, com o sequestro de autoridades, dentre elas o Cardeal Aloíso Lorscheider, ação atribuída ao Comando Vermelho, operação que se repetiria em 1997. Lá no Rio um pastor da Igreja Universal escandalizava o País aos espancar em público uma imagem de Maria.

Na data da publicação Ciro Ferreira Gomes governava o Ceará, fizera o Canal do Trabalhador, e tinha Moroni Torgan (eleito agora Vice-Prefeito de Fortaleza) como Secretário de Segurança. Com um discurso vigoroso e ações espetaculosas, como um desfile de viaturas policiais pela cidade, Moroni trazia a esperança de barrar a escalada do crime no Estado, por isso mesmo retratado no traço do cartunista Glauco como o personagem “Ramboroni”, fusão de seu rosto jovem com o corpo do herói dos filmes de Sylvester Stallone.

O articulista faz uma análise sociológica severa (e injusta) da cultura carioca, atribuindo-lhe a causa da violência urbana desvairada, que hoje se disseminou pelo País inteiro, inclusive pelas cidades interioranas de todos os Estados, que a cada semana são invadidas pelo cangaço moderno, com ataques bélicos aos batalhões de polícia locais e explosão de agência bancárias para saquear os caixas eletrônicos.

O Rio de Janeiro, talvez a cidade de geografia mais bela do Brasil, de povo alegre e receptivo, com o seu sotaque simpático e o seu espírito jovial, antiga sede da Corte Imperial Brasileira e primeira Capital da República, sem culpa alguma de seu povo ordeiro, tem de fato sofrido muito com altíssimos níveis de criminalidade violenta.

A paixão exacerbada do carioca pelo futebol tem ocasionado guerras campais entre torcidas, os royalties do petróleo encolheram, e as más administrações levaram a cidade à bancarrota, sem recursos sequer para pagar a folha de pagamento do seu funcionalismo.

Um Marcelo Crivela castigado por um aspecto envelhecido e doentio, que, aos 59 anos, nem lembra o jovem bispo da Igreja Universal que entrou na política, acaba de ser eleito Prefeito do Rio de Janeiro, prometendo o milagre da salvação. Que Deus o ajude e proteja.

                   

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