NOÇÕES GERMINAIS DE
POLÍTICA
Reginaldo Vasconcelos*
Imagine que um povo numeroso se situe para
sobreviver em determinada geografia, em um certo espaço físico da Terra, em um
específico vale fértil do Planeta.
Esse povo que aqui imaginamos pode simbolizar a
população de uma cidade, de um estado, de um país, e pode também ser entendida
como toda a humanidade, que o resultado do nosso raciocínio não sofrerá alteração.
Entre os integrantes desse povo há homens e
mulheres, crianças e velhos, sadios e doentes, operosos e indolentes, valentes
e covardes, sábios e idiotas, como se verifica em qualquer grupo reunido em
sociedade.
Os naturalmente mais limitados em ideias se
acercarão dos mais astutos para emprestar mão de obra e colocar em prática os seus projetos de trabalho,
a fim de que haja produção de bens – alimentos, utensílios, tecidos,
edifícios.
Mas para que o povo do nosso exemplo
sobreviva e prospere é preciso organizar o trabalho, estipular direitos e
deveres, estimular o talento e a virtude e proteger os incapazes.
É necessário então que alguém seja
desincumbido de produzir riquezas para se dedicar unicamente a decidir e
administrar aquelas ações de interesse comum e coletivo: o fornecimento de água de que todos
precisam, a abertura e zeladoria das estradas que todos usarão, a assistência
humanitária dos desvalidos e a custódia compulsória dos transgressores sociais.
Então, na nossa alegoria, os que empreendem
e os que trabalham, produzindo riquezas no vale, sustentam às suas expensas
aqueles que são eleitos ou contratados e se situam no planalto para cuidar do interesse
público, para que o povo possa viver em ambiente organizado, de justiça e de paz
social.
Os empreendedores e trabalhadores da
planície simbolizam aqui os empresários e empregados, que
cuidam do agronegócio, da indústria, do comércio, dos serviços.
Esses grupos não são estanques nos regimes democráticos. Entre eles se opera a chamada "mobilidade social", que os faz subir e descer na escala social e econômica em seguidas gerações, com ricos netos de pobres e netos de ricos cuja família empobreceu.
Esses grupos não são estanques nos regimes democráticos. Entre eles se opera a chamada "mobilidade social", que os faz subir e descer na escala social e econômica em seguidas gerações, com ricos netos de pobres e netos de ricos cuja família empobreceu.
Todos eles, tirando da riqueza que
produzem, bens gerados pelas suas iniciativas, pelos seus conhecimentos técnicos, pelo seu saber científico, e pelo seu trabalho físico, pagam tributos aos que foram destacadas para manterem-se no planalto cuidando dos interesses sociais.
Os que são elevados ao planalto, ganhando
proventos mesmo sem produzir nada palpável, são os políticos, os
administradores e funcionários públicos, os militares, os encarregados das funções judiciárias.
Esse sistema funciona muito bem nas nações democráticas mais desenvolvidas do Planeta, em que se dividem as
funções dos que se situam no planalto em três poderes, cada cidadão cumprindo dessa
forma sua missão na sociedade.
Nesses lugares mais evoluídos, dentre os que estão na planície alguns reúnem patrimônio,
pela sua liderança empresarial e sucesso econômico das iniciativas que tomaram.
Outros, pelo seu preparo ou seu trabalho, alcançam estabilidade financeira
suficiente para a sua dignidade absoluta, enquanto alguns menos dotados ou menos disciplinados vivem sob assistência ou vigilância social.
Alguns desses, mentores de uma ideologia messiânica, pretendem devolver ao povo as
riquezas que ele mesmo produz de forma igualitária, elidindo a propriedade e o
capital privados, sob a presunção de que todos os que empreendem, os que dominam
o saber e os que trabalhem sejam iguais, não tendo méritos diferentes. Falo dos comunistas e socialistas radicais.
Uma variação dessa conduta dos guindados ao
poder que se tornam autoritários é considerar que as maiorias que trabalham
fisicamente devem ter supremacia como produtores de riquezas, pois os outros
que pensam, inovam e que ousam empresas e geram empregos seriam opressores dos
demais. Agora me refiro aos de vertente trabalhista.
Em outros lugares tem acontecido de líderes
principais dessas funções públicas, que são os chamadas "Poderes da República", mesmo
mantendo a aparência democrática, se arvorarem de repente em donos absolutos do
poder, e se apropriam de todas as riquezas dos que produzem na planície.
Tornam-se então reguladores, tributadores e
fiscalizadores implacáveis, induzindo o povo a acreditar que são eles, aqueles
do planalto, os legítimos detentores do poder e das riquezas produzidas na
planície, que aplicam ao seu bel prazer, passando a privilegiar os numerosos
que os reelejam e os mais abastados que os possam enriquecer.
No Brasil, há quinze anos, subiu ao
Planalto um grupo que sincretizava trabalhistas, comunistas, déspotas, gente
que cooptou toda sorte de delinquentes financeiros do planalto e da planície,
passando a iludir o povo para manipular os recursos públicos com as finalidades
mais escusas, terminando por exaurir a economia nacional.
NOTA:
O conceito de "noção germinal" indica a essência das coisas, que a dinâmica da vida, via de regra, não nos permite ter presente.
Quem vê um cavalo selado não enxerga o animal irracional domesticado e amestrado pelo homem para seu uso utilitário ou desportivo; quem vê um automóvel não o percebe como a carroça que se move por efeito de explosões controladas dentro de um bloco metálico, na ignição de um combustível.
Do mesmo modo, quem vê uma empertigada autoridade do governo sendo tratada de "excelência" imagina seja ele detentor de divinais poderes sobre a vida e a morte dos demais cidadãos, senhor de verbas bilionárias que pode a seu talante utilizar contra e a favor de qualquer causa.
Na verdade, tem-se ali um mero empregado do povo, o qual não produz víveres, nem insumos para a agricultura, nem implementos para a indústrias, nem utilidades para o conforto geral. Ele é sustentado pelos impostos de quem empreende e trabalha, para que utilize os recursos públicos no estrito interesse social.
Assim, ao discutir o regime, a forma de governo, a cláusula de barreiras, o voto distrital, o estado mínimo, achando que está tratando da essência da vida, pode-se não perceber a estrutura evolutiva a sustentar todo o sistema antropológico que precede às questões políticas que, no geral, são consideradas pela rama.
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