MORRE FIDEL
UMA BOA CAUSA
COM UM MAU
RESULTADO
Reginaldo Vasconcelos*
A
data é imprecisa – final dos anos cinquenta, início dos sessenta – eu menino caminhava
com meu pai por uma estrada sertaneja, nas proximidades da fazenda em que assistíramos
de perto à miséria de uma seca. Perguntei a ele o que era a tal revolução de
que eu ouvia falar pelo rádio e nas conversas dos adultos.
Meu
pai me respondeu simplificando, mas, por acaso, sendo muito fiel ao que de fato
acontecia: “Um sujeito sai perguntando às
pessoas do povo se estão satisfeitas com o Governo, e vai reunindo um grupo de
insatisfeitos para enfrentar o Exército e tomar o poder”.
Ele,
que nunca foi marxista, e sempre foi muito libertário, passava uma certa
simpatia na voz pelo que acontecia então em Cuba. Certamente, fosse um jovem
cubano, teria meu pai subido a Sierra Maestra com os revoltosos de Fidel, e teria
apoiado a “faxina moral” que justificou o “paredon”.
Mas,
seguramente, teria se revoltado contra a implantação da ditadura, e se
insurgido contra o alinhamento à Rússia, que Fidel Castro a princípio negava
pretender, mas que levou a cabo logo na sequência e assim permaneceu
perpetuamente.
Morreu
meu pai octogenário em janeiro, morre agora Fidel Castro, que era seis anos mais
velho. Aquele seguiu inimigo da corrupção
e das injustiças sociais até a morte, porém sempre pela via democrática da
direita. Este último partiu de uma causa nobre e em seguida ficou refém da
conjuntura mundial, obrigado a manter a ditadura sob pena de ver ruir a
revolução e assistir à desgraça de sua causa.
O
preço foi o isolamento e a indigência do seu povo, que ele tirou da miséria e
da ignorância, lhe garantindo educação, saúde e segurança (calcanhares de aquiles do capitalismo), mas que não pode acompanhar a evolução tecnológica e econômica
do Planeta, permanecendo onde parou no Século XX.
Nas exéquias de El Comandante dou vivas aos que foram vítima do regime, aos que foram condenados à pobreza digna,
aos que se exilaram, aos que foram exilados, às filhas que o execravam, aos que perderam a liberdade de pensar e de ir e vir, aos que foram justiçados… e as minhas
condolências ao irmão Raul, aos que tentaram seguir o exemplo em seus países e fracassaram inteiramente. Aos que em vão investiram toda a sua vida pela causa, que infelizmente tomou caminho errático, mas que continuam apaixonados.
COMENTÁRIOS:
Camarada
Reginaldo, parabéns pelo comentário desapaixonado e livre de qualquer
patrulhamento ideológico, sobre o que o velho comandante Fidel representou
para o seu povo, com suas contradições e bravura, ainda que o modelo político,
e os métodos autoritários, aos olhos do mundo e de parte dos seus concidadãos,
anulem alguns dos resultados positivos alcançados, como nas áreas de saúde,
educação e esporte, reconhecidos até por aqueles que o condenam.
Arnaldo
Santos
Sobre Fidel:
Penso que, ao fim e ao cabo, foi um tirano a mais.
Conquistas? Todos os países tiveram as suas, até o Brasil...
O preço que os cubanos pagam ainda hoje é altíssimo.
Estão muito mal. Um médico ganha 30 dólares por mês.
Um cambista ganha mais, lá. O regime apodreceu há
muito. Ele quis aguentar o tranco e deu no que deu: totalitarismo, à moda anos
50... Atraso.
Luciano Maia
Caro Reginaldo.
Parabéns pelo excelente artigo sobre Fidel Castro. Mas de quem são as fotos mostradas no artigo?
Abraços.
Cássio
Caro Reginaldo.
Parabéns pelo excelente artigo sobre Fidel Castro. Mas de quem são as fotos mostradas no artigo?
Abraços.
Cássio
Estimado
Cássio, prezado confrade, as fotos são de meu pai e de Fidel. As primeiras, os
dois na década de 50, com o mesmo bigode, que certamente era moda.
Nas
duas abaixo são o meu genitor, logo que faleceu na UTI, em janeiro deste ano, e
a segunda seria do grande ditador cubano, no leito de morte, segundo vazou na Internet.
É a única cuja autenticidade é questionável.
A
crônica é um gênero de prosa poética que pressupõe fatos verídicos, embora alguns
cronistas fantasiem e ficcionem. Não é o meu caso.
Reginaldo
Camarada Reginaldo, parabéns pelo comentário desapaixonado e livre de qualquer patrulhamento ideológico, sobre o que o velho comandante Fidel, representou para o seu povo, com suas contradições e bravura, ainda que o modelo político, e os métodos autoritários, aos olhos do mundo e de parte dos seus concidadãos, anulem alguns dos resultados positivos alcançados, como nas áreas de saúde, educação e esporte, reconhecidos até por aqueles que o condenam.
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