SÃO FRANCISCO
DE ASSIS MAGNIFICAMENTE REVISITADO
Maria Célia
Mesquita Molinari*
Confesso que, ao receber o
convite para fazer a matéria inaugural deste livro, Francisco de Assis – Alegria e Santidade na Pobreza, de Socorro
Lima Mesquita, senti um misto de timidez, insegurança e talvez fraqueza.
Veio-me, então, espontaneamente, a vontade de parafrasear a nossa querida Regina Elisabeth Jaborandy de Mattos Dourado
Mesquita, e responder: não posso, não sei, meu
estudo é pouco.
Depois, concordei com o
autor da Teoria da Relatividade, Albert Einstein, para quem Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos. Fazer ou
não fazer algo só depende da nossa vontade e perseverança.
Senti, então, que não me
podia furtar a essa tarefa, ainda mais ao me reportar a São Francisco de Assis,
de quem me confesso apaixonada.
Na verdade, todas as vezes
que reflito sobre bondade, humildade, piedade e tantas outras virtudes, penso em
Francisco, que, na minha maneira de entender as coisas do Alto, foi figura fiel
do próprio Cristo.
Enche-me de alegria saber
que Socorro Mesquita decidiu escrever um livro sobre a vida de um santo,
especialmente numa época de permissividade como a que vivemos, quando valores
morais, religião, oração, pureza, respeito a Deus e ao próximo são coisas
“ultrapassadas”, que significam agir na contramão dos ensinamentos terrenos.
O ser humano parece
completamente alheio à sua finitude e se preocupa somente com o que é material
e passageiro. A fragilidade da vida terrena semelha que atinge somente os
outros.
A santidade de Francisco
de Assis, tão bem reconfigurada pela Autora, foi radical, uma graça do Espírito
Santo, tendo ele recebido e assumido esse favor divino com todas as forças.
Depois da vida mundana que
levara, São Francisco abriu os ouvidos e o coração somente para a voz de Deus, a
Palavra, o Cristo e nEste para o irmão, amando-o de coração e tendo assim a
dignidade de receber no próprio corpo as chagas de Jesus.
Quem tiver a graça de ter
nas mãos este volume deixe-se guiar por esta mercê de Cima e medite com
profundidade na obediência de Francisco à Palavra, fruto de suas reflexões do
Evangelho.
Esta aquiescência
franciscense é cópia da atitude de Maria que, ante o anúncio do anjo de que
seria mãe do Salvador, em profunda obediência – fruto de oração e
interiorização – se lançou nas mãos de Deus e, sem temer o que lhe pudesse
acontecer, respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua
palavra” – a célebre expressão escritural Ecce
ancilla Domini Fiat mihi secundum verbum tuum, expressa no Evangelho deSão
Lucas, capítulo 1, versículo 38.
Ainda se pode louvar na
vassalagem de São José Operário, então seu prometido em casamento, que
renunciou incontinenti aos seus planos de um consórcio comum, uma família
(Jesus, Maria e José), sua oficina de carpinteiro, enfim, um sonho normal de
todo jovem.
São José, então, ao ser
avisado em sonho, por um anjo de que o Filho gerado em Maria o foi pela ação do
Espírito Santo, abandonou tudo e a conduziu para sua casa. Passou, também ele,
por todas as vicissitudes experimentadas pela mãe e assumiu essa paternidade
com responsabilidade e amor ímpar. E, por último, é salutar a prática de
meditar na obediência do próprio Jesus que, mesmo
[...] sendo
de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas
aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos
homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais se
tornando obediente até a morte, e morte de cruz.
Por isso
Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os
nomes para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos
infernos. E toda língua confesse, para a gloria de Deus Pai, que Jesus Cristo é
Senhor. (Fl2, 6-11).
Muitas vezes, ao evocar
São Francisco, eu imaginava como conseguiria um ser humano alcançar a salvação,
por não serem as pessoas capazes de imitá-lo em suas virtudes. A certeza da
misericórdia do Pai, entretanto, que ama infinitamente a todos os seus filhos e
distribui a cada um os seus dons, nos faz ter esperanças e confiar na Sua
imensa bondade conhecedora de nossas fraquezas e limites.
Erramos, vacilamos, mas,
se abrirmos o coração, tenhamos a certeza de que Deus jamais nos abandona, [...]
“nunca se cansa de perdoar-nos; nós é que cansamos de pedir perdão”, como diz o
Papa Francisco, verdadeiro arauto do Evangelho de Cristo.
É oportuno expressar o
argumento de que o nome deste novo Príncipe de Roma para designar o Pastor do Cristianismo,
o qual segue os passos de São Francisco, foi escolhido pelo próprio Espírito
Santo e, mais do que nunca, podemos sentir viva essa presença, convidando
à conversão, suscitando evangelizadores sacerdotes e leigos a ajudar esse
Embaixador da Santíssima Trindade a conduzir o rebanho para “verdes prados e
fontes de águas puras”, a fim de lhe restaurar as forças ( Sl 22, 2-3).
Percebe-se claramente no
mundo uma verdadeira batalha entre o bem e o mal: guerras, violência, crimes,
sexualidade exacerbada, filhos trazidos ao mundo de maneira irresponsável,
êxodo de populações em busca de paz em países estranhos de língua e cultura
diferentes. Não que isto seja uma novidade, pois é mesmo uma situação que se
repete ao longo dos séculos.
É notório, porém, o fato
de que, ao lado de tudo isto, há também um como que “aquecimento”
espiritual. Veem-se pessoas desejosas de aprender e viver a Palavra
de Deus, uma expressiva quantidade de jovens que procuram a Palavra (Jornada
Mundial da Juventude), muitas pessoas que ingressam em programas de
voluntariado para ajudar o próximo, e um grande número de santos
contemporâneos elevados à honra dos altares.
Temos a alegria de contar
entre os santos um João XXIII, João Paulo II, Tereza de Calcutá, Faustina
Kowalska, como também pessoas que, mesmo não tendo sido elevadas ao múnus da
santificação, restam por demais conhecidas as suas obras pelo bem comum, como
Helder Câmara, Zilda Arns, Chico Xavier, Irmã Dulce e tantos outros que optaram
por pautar suas vidas seguindo a pobreza do Evangelho tão amada por São
Francisco.
No contexto
evangélico, o pobre é a pessoa honrada, piedosa, espiritualizada, justa
(praticante da justiça, ajustado diante de Deus), aberto a Deus e por isso
feliz.
O Reino é deles porque,
vivendo assim, realizam o pedido de Jesus: Convertam-se,
porque o Reino do Céu está próximo (Mt 4,17). O mundo, todavia, faz uma
contraposição a essa mensagem e assinala: felizes os que têm dinheiro e sabem usá-lo
para comprar influências, comodidades, poder, segurança e bem-estar (MESQUITA,
2016).
Todos os escritos de São
Francisco, ele não os atribuía como de sua autoria e sim de inspiração divina;
por isso toda a sua obra é fundamentada nas Escrituras, sobretudo, nos
Evangelhos. São frutos da profunda vivência interior, do diálogo com Deus. Ele
próprio considera sua produção literária como palavra de Deus e solicita a
todos que leiam, conservem e divulguem, trata-se de uma leitura espiritual. (MESQUITA, 2016, citando FASSINI).
É
necessário, por conseguinte, aprendermos com o Santo a ter uma vida mais simples e regrada, evitando os
desperdícios, com vistas a debelar o consumismo. É possível viver com pouco;
amar bem mais o próximo, não ter preconceitos e buscar fazer algo de útil em
seu favor, sobretudo dos mais necessitados. É premente a ocasião de amarmos e
preservarmos a Natureza, desfrutando a vida em sintonia com o nosso Planeta (IDEM).
Meu desejo sincero é de
que muitas pessoas leiam este livro, escrito com o amor, a devoção e a bondade
característicos da Autora, e desfrutem dos ensinamentos do Santo tão querido,
buscando ao menos um pouco da sua simplicidade e dileção pelo próximo, ao
saborear a doçura de SER mais do que TER.
*Maria Célia Mesquita Molinari
é professora aposentada,
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