TRÊS LAPSOS DE ENTENDIMENTO
Vianney Mesquita*
Complemento aos excepcionais artigo de
Luciano Maia e comentário de Reginaldo Vasconcelos
Quando me enganares a primeira vez, a culpa será tua; na
seguinte, será minha.
(Anônimo).
Aproveito
o ensejo da apreciação dessas matérias lúcidas para comentar um trio de manias,
expressas de jeito absolutamente errado, já tornadas “oficiais”, consoante
passo a fazer.
As
significações equívocas, antes ocorrentes mais em circunstâncias de uso da
língua no universo coloquial, sem o escopo de socializar conhecimento e tampouco
de lecionar, também estão hoje nos espaços de emprego da linguagem culta, onde
se codificam, por exemplo, feitos e fatos científicos a se propagarem em livros
ou quaisquer suportes de informação.
Exibem-se
inumeráveis exemplos desses logros elocutórios até em legislações e documentos
de órgãos oficiais do Brasil, fato a se deplorar, pois conduzem o leitor à
arapuca do erro, desabilitando nosso código glossológico perante os demais do
ecúmeno linguístico, nomeadamente deste exercitado nos Estados lusofalantes – o
Português.
Reporto-me,
pois, a três eventos, os quais a mim me parece oportuno trazer à balha, pelo
emprego genérico e indiscriminado em textos de lições escolares, dispostos
legais, pronunciamentos formais, discursos e comunicações científicos e
literários, peças de doutrina e jurisprudência, Bioestatística governamental et reliqua.
ALTERNATIVA
Em
razão do largo e inadequado uso da dicção alternativa
e suas variações cognatas, com acepções distintas daquelas realmente conotadas,
impende se tomar em consideração a ideia de alternativa
proceder de alter (Latim) =
outro, outra.
Por
conseguinte, existe, tão-só, UMA alternativa.
Diz-se,
em Português correto, “a alternativa
é esta”, de sorte a não se cogitar em (cogita-se em) diversas alternativas, num “leque” de alternativas (Proh pudor!), porquanto, por definição, o vocábulo corresponde à “Sucessão de duas coisas reciprocamente
exclusivas”, isto é, uma opção
entre duas circunstâncias.
Efetivamente,
pois, a opção – não sendo uma coisa ou circunstância – será a outra (alter), a alternativa.
Opção constitui, pois, a alternativa para eliminar as construções
frasais equivocadas, feitas, amiúde, a contrapelo das regras da Língua,
desprezando, in casu, a procedência
histórico-linguística das palavras.
NASCER MORTO
Quiçá
inglória seja nossa luta em objeção a sintaxes desse gênero. Todo o Mundo, até
o escrevinhador da língua culta (como adiantado há pouco), suporta, aceita e
aplica vocábulos e dicções sem qualquer consistência glotológica. Pouco se lhe
dá se está ou não depauperando a língua do Dr. Aluísio Gurgel e
Geraldo Jesuino.
Muita
vez, são expressas até antíteses violentíssimas, como na consagrada (miserável consagração!)
e universalizada unidade de ideias NASCER MORTO, empregada pela Bioestatística,
até em mensagens de lavra e da responsabilidade estatais, no Brasil. Há, exempli gratia, um órgão do Ministério
da Saúde nacional denominado – SISNAC – Sistema Nacional de NASCIDOS VIVOS (de
estudo, aqui em caixa-alta).
Se
NASCER significa, conceitualmente, começar a ter vida exterior, vir à luz, enxergar
a luz, como pode alguém NASCER MORTO? Nascer,
então, é igual morrer?
Diga-se,
por conseguinte, a mulher pariu um feto
sem vida, delivrou um corpo morto, perdeu a criança, ou algo semelhante. NASCER,
então, foi, é e será, indefinidamente, o antônimo perfeitíssimo de morrer.
Lamentavelmente,
com alternativa, ainda alimentamos
expectativa; com relação a nascer morto, entretanto,
parece estar a “guerra” definitivamente perdida, a não ser, entre nós do Ceará,
com o adjutório da Academia Cearense da Língua Portuguesa, deste Sodalício e
dos demais silogeus guardiães da cultura e da nossa riquíssima fala oficial.
ENTRE XIS E ÍPSILON OU DEXIS A ÍPSILON?
Eis,
neste passo, a derradeira demonstração de emprego atrapalhado de sentenças, na
indicação de intervalos com duas grandezas ou coisas, notadamente sobrevindas
de trabalhos universitários, onde afloram, sem explicação admissível, os
desacertos mais rudes.
É
necessário enxergar-se a diferença bem visível nas duas articulações, no caso, verbi gratia, da indicação de intermitência
etária.
Ao
se exprimir a ideia de as pessoas ouvidas na pesquisa revelarem nas respostas
idades DE 28 A 40 anos, evidentemente, são depreendidos como
limites os números inferior e superior, onde estão contidos 28 e 40, correspondentes
a 27 e 41 anos. Aqueles indicados, pois, com o espaço etário ENTRE 27 E
41 anos, na realidade, contam DE 28 A 40 anos. Caso se aponte ENTRE
28 E 40 anos, há de se admitir o cinturão etário DE 29 A 39
anos.
Muitas
vezes, os pesquisadores informam haverem as crianças do seu experimento, por
exemplo, nascido ENTRE 2011 E 2012, tal significando dizer, pois,
o fato de ainda não terem vindo ao Mundo, porquanto ENTRE 2011 E
2012 nada existe. Decerto, intentaram expressar esse nascimento em 2011 ou
2012, ou seja, DE 2011 A 2012.
De
efeito, rematando o caso, ENTRE os anos de 1927 E 1946, estão os
períodos DE 1928 A 1945, não do modo como é constante e
equivocamente apontado. ENTRE (preposição) e E (conjunção aditiva)
são balizas de fora, razão pela qual não devem ser contadas, enquando DE-A
hão de acolher consideração.
De
tal sorte, a expressão DE XIS A ÍPSILON difere diametralmente da
construção frasal ENTRE XIS E ÍPSILON.
(Este
texto não traz a palavra que).
* Vianney Mesquita pertence à Academia Cearense de Língua
Portuguesa, à Academia Cearense de Literatura e Jornalismo e é membro fundador
da Arcádia Nova Palmaciana (Palmam qui
meruit ferat). Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Ceará.
Escritor e jornalista. Da Federação Internacional de Jornalistas
(Bruxelas-Bélgica - UE).
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