quarta-feira, 30 de novembro de 2016

ARTIGO - Muita Fumaça (RV)


POUCO FOGO
E
MUITA FUMAÇA
Reginaldo Vasconcelos*


Em todo esse episódio envolvendo o IPHAN e os dois ministros demissionários, o Presidente Temer teve dois erros de origem. E, politicamente, ele está pagando caro.

Primeiro, errou ao compor o seu Ministério com um tipo como Geddel Vieira Lima, ex-ministro petista, um político que procura estar sempre junto ao poder, não importando que o cetro esteja com Anás, com Caifás, com ferrabrás, com satanás.

Segundo, errou Michel Temer quando convidou para o Ministério um tipinho como esse Calero, o qual montou uma arapuca para prejudicar o Governo, que o acolhera em sua equipe. Um sujeito com status de Ministro de Estado que se comportou como um escoteirinho. Gravou conversas com seus pares, e com o Presidente da República, e disse que foi orientado a fazê-lo por amigos da Polícia.

O problema é que o Brasil continua funcionando com o “presidencialismo de coalizão”, de modo que o presidente precisa conviver com as raposas velhas da política, para garantir a governabilidade.

Por isso Geddel Vieira Lima no Governo; por isso Romero Jucá no Governo; por isso Henrique Alves no Governo, gente envolvida em escândalos, mas que, administrada de perto, se acredita não poderia fazer um grande estrago. O que não se sabe é o que esse Calero estava fazendo no Planalto.

Sim, Geddel teve força política na Bahia para desembaraçar o seu empreendimento, que, no entanto, foi vetado no nível federal – e ele, sendo do Governo Federal, imaginou que também nessa seara iria conseguir ter influência. Não teve. E não deveria ter.

Não estamos falando em desvio de verba pública, nem em fraude a licitação, nem em prática análoga a escravidão, nem em crime ambiental irreversível, nem em aprovação de projeto de prédio com areia da praia na argamassa. Não. Apenas se tinha um cidadão inconformado, exercendo o jus esperniandi. Teve enorme prejuízo em empreendimento imobiliário, em virtude da conveniência estética de uma região de importância histórica, o que autorizou o IPHAN a embargar a obra, com base na lei.  

Por acaso, o prejudicado era um ministro, que adotou um comportamento impróprio, ao dar “carteirada” em um colega de Ministério. A pretensão foi negada, a conduta foi denunciada à instância superior, que recomendou ao ministro pressionado se desincompatibilizasse, passando o pleito para a área jurídica do Governo, que certamente não transigiria com a lei. Pronto. Nada de mais. Fogo apagado.

Mas o Calero, feito um bebê chorão, pediu para sair do Governo, e saiu produzindo uma coluna de fumaça, fazendo crer que desde o princípio ele fosse um oposicionista infiltrado. Ora bolas! O País luta para superar uma crise enorme, para vencer um momento gravíssimo, e não pode estar se detendo com questiúnculas banais. Mas o episódio todo teve como saldo positivo a saída dos dois ministros trapalhões. Toca adiante, Brasil!



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