domingo, 13 de novembro de 2016

ARTIGO - O Fenômeno Trump (RMR)


O FENÔMENO TRUMP
Rui Martinho Rodrigues*


Discordo que só o Trump tenha acreditado nele mesmo. Nem ele acreditou. A derrota das redes de televisão CBN, CBS, NBC, CNN; das universidades; dos grandes jornais como o NYT; dos partidos Democrata e Republicano; da Casa Branca; dos artistas e celebridades, este é um fato a ser estudado, que desmente a falácia da manipulação. A maioria silenciosa repudiou tudo isso votando no Trump, apesar do Trump. 

A eleição do Marcelo Crivella; a derrota do PT, da Rede e de assemelhados; da Globo e da Veja com toda a imprensa; o crescimento da Le Pen na França; é outro exemplo de repúdio à ideologia hegemônica.

Pesquisas erraram. Eleitores não declararam corretamente em quem votariam. A explicação é um libelo contra a turma “politicamente correta”: os eleitores temiam dizer que votariam no Trump. O motivo de tal constrangimento é a agressividade da onda "politicamente correta".

Tivemos uma resposta à agressividade dos que resolveram refazer os valores, tocando em temas como aborto e família e que ampliaram o conceito de bem público, destruindo o espaço da liberdade negocial, que é a liberdade individual. Publicizaram o Direito Privado ao criar “Direito Civil Constitucional”, transformando-o em Direito Público, e passaram a restringir o direito de defesa satanizando as armas, que são os meios idôneos para tal fim. A maioria silenciosa reagiu aos que se arvoraram em reis filósofos, assumindo o papel de diretores da consciência. Nos EUA, onde não se fez passeata, ao contrário do Brasil, o voto contra os que querem impor a própria vontade agressivamente foi a resposta.

A globalização era satanizada pelos "esclarecidos". Agora está sendo repudiada no primeiro mundo, não por grupos ideológicos cheios de preconceitos contra o capitalismo, mas pela maioria silenciosa. Os "esclarecidos", porém, passaram a defender a “famigerada globalização” sem o menor pudor.

A luta contra o capital agora é indireta. Alega defender a natureza, as mulheres, as minorias, culpando o capitalismo por todos os problemas ligados a estes grupos, porque o proletário aburguesado (ao invés de pauperizado) não é revolucionário. É a exploração das mágoas dos ressentidos. Deu certo. Mas incomodou, ao instigar o ódio e a agressividade com o discurso da vitimização.

Uma jovem, em um auditório, disse: sou mulher, negra, lésbica, prostituta e vou mandar em você”, apontando o dedo para as pessoas mais claras.

A resposta veio no mesmo estilo: Trump, Crivella e Le Pen. Os letrados foram seduzidos pelo ópio dos intelectuais, que abrange mais do que o marxismo. Quem resiste é a parcela não muito letrada, que por isso mesmo não se intoxicou com o “ópio”. Tal parcela é lúcida, está certa, mas é despreparada. Faz escolhas ruins, agravadas por falta de opção. Quem seria a alternativa aos santarrões “politicamente corretos”, além do tresloucado Trump ou o vigarista Crivella?

Os “esclarecidos” estão empurrando o mundo para o abismo. Não só desemprego, globalização e imigrantes, embora estas coisas sejam relevantes, explicam o Trump, o Brexit e as manifestações no Brasil.

Não faço previsões. Até o passado é imprevisível. Mas a sensação é de estarmos nas vésperas de fatos apocalípticos.



COMENTÁRIO:

Ousando dissentir do autor, mestre de todos nós, não me parece ter havido fenômeno eleitoral, no caso do Trump, muito menos do Crivela. Essa é a visão exclusiva dos que desejavam outro desfecho.

Para começar, o Trump não venceu no voto, mas no tal do “colégio eleitoral”, uma excrescência consagrada no processo americano, método antigo que se vem revelando esgotado, a cada vez que trai a maioria soberana do sufrágio popular.

Na verdade, ninguém ama o Trump. Ele foi eleito pelos que não aguentam mais o ramerrame retórico da política americana, que elegeu um negro simpático para contestar a hegemonia branca, esperando uma revolução social, e tudo continuou como antes.

Agora a política queria entronizar uma mulher, para antagonizar o mundo masculino – e aquela nação está ansiando por alguém vigoroso e enérgico, que ouse dar um murro na mesa, e não meramente por símbolos das minorias sociais – aliás, no momento em que as “presidentas” do mundo todo vêm caindo dos saltos.   

Sim. Quem votou na Hilary não o fez em função do gênero, nem pela sua notória capacidade, mas por medo, pois tê-la na Casa Branca seria mais do mesmo, enquanto colocar o Trump lá é enfrentar uma incógnita aventura. E está mesmo posta uma aventura tenebrosa.

Quanto ao Crivela, o Prof. Rui Martinho Rodrigues ignora que Marcelo Freixo, candidato do PSOL, era representante das esquerdas, que foram recentemente desmascaradas e caíram em desgraça popular. Os cariocas não elegeram Crivela pelos belos olhos dele. Se do lado de cá havia um malando carioca, rico e safo, e pretensamente ungido por Deus, não havia vida inteligente do outro lado.

Em suma, temos aqui um Estado brasileiro arrasado, com a sua Capital falida, cidade ícone de um Brasil lançado em crise por governos esquerdistas.

Lá fora, por seu turno, a nação mais poderosa do mundo travada por políticas tímidas, enfrentando problemas com insolvência pública, como efeito da globalização industrial, com uma política exterior claudicante, e com uma onda de imigração descontrolada, com desafiante inflexão étnica e xenofóbica. A meu sentir, o que houve, em ambas as eleições, foi um grito por mudanças.   

Reginaldo Vasconcelos

      

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