Rui Martinho Rodrigues*
Discordo que só o Trump
tenha acreditado nele mesmo. Nem ele acreditou. A derrota das redes de
televisão CBN, CBS, NBC, CNN; das universidades; dos grandes jornais como o
NYT; dos partidos Democrata e Republicano; da Casa Branca; dos artistas e
celebridades, este é um fato a ser estudado, que desmente a falácia da manipulação. A
maioria silenciosa repudiou tudo isso votando no Trump, apesar do Trump.
A
eleição do Marcelo Crivella; a derrota do PT, da Rede e de assemelhados; da Globo
e da Veja com toda a imprensa; o crescimento da Le Pen na França; é outro exemplo de repúdio à ideologia hegemônica.
Pesquisas erraram. Eleitores
não declararam corretamente em quem votariam. A explicação é um libelo contra a
turma “politicamente correta”: os eleitores temiam dizer que votariam no Trump.
O motivo de tal constrangimento é a agressividade da onda "politicamente
correta".
Tivemos uma resposta à agressividade dos que resolveram refazer os valores, tocando em temas como
aborto e família e que ampliaram o conceito de bem público, destruindo o espaço
da liberdade negocial, que é a liberdade individual. Publicizaram o Direito
Privado ao criar “Direito Civil Constitucional”, transformando-o em Direito
Público, e passaram a restringir o direito de defesa satanizando as armas, que são
os meios idôneos para tal fim. A maioria silenciosa reagiu aos que se arvoraram
em reis filósofos, assumindo o papel de diretores da consciência. Nos EUA, onde não
se fez passeata, ao contrário do Brasil, o voto contra os que querem impor a própria
vontade agressivamente foi a resposta.
A globalização era
satanizada pelos "esclarecidos". Agora está sendo repudiada no
primeiro mundo, não por grupos ideológicos cheios de preconceitos contra o
capitalismo, mas pela maioria silenciosa. Os "esclarecidos",
porém, passaram a defender a “famigerada globalização” sem o menor pudor.
A luta contra o
capital agora é indireta. Alega defender a natureza, as mulheres, as minorias,
culpando o capitalismo por todos os problemas ligados a estes grupos, porque o
proletário aburguesado (ao invés de pauperizado) não é revolucionário. É a
exploração das mágoas dos ressentidos. Deu certo. Mas incomodou, ao instigar o
ódio e a agressividade com o discurso da vitimização.
Uma jovem, em um
auditório, disse: sou mulher, negra, lésbica, prostituta e vou mandar em você”,
apontando o dedo para as pessoas mais claras.
A resposta veio no
mesmo estilo: Trump, Crivella e Le Pen. Os letrados foram seduzidos pelo ópio
dos intelectuais, que abrange mais do que o marxismo. Quem resiste é a parcela
não muito letrada, que por isso mesmo não se intoxicou com o “ópio”. Tal
parcela é lúcida, está certa, mas é despreparada. Faz escolhas ruins, agravadas
por falta de opção. Quem seria a alternativa aos santarrões “politicamente corretos”, além do tresloucado Trump ou o vigarista Crivella?
Os “esclarecidos” estão
empurrando o mundo para o abismo. Não só desemprego, globalização e imigrantes,
embora estas coisas sejam relevantes, explicam o Trump, o Brexit e as manifestações no Brasil.
Não faço previsões. Até
o passado é imprevisível. Mas a sensação é de estarmos nas vésperas de fatos
apocalípticos.
COMENTÁRIO:
Ousando dissentir do autor, mestre de todos nós, não me
parece ter havido fenômeno eleitoral, no caso do Trump, muito menos do Crivela.
Essa é a visão exclusiva dos que desejavam outro desfecho.
Para começar, o Trump não venceu no voto, mas no tal do “colégio
eleitoral”, uma excrescência consagrada no processo americano, método antigo
que se vem revelando esgotado, a cada vez que trai a maioria soberana do
sufrágio popular.
Na verdade, ninguém ama o Trump. Ele foi eleito pelos que não
aguentam mais o ramerrame retórico da política americana, que elegeu um negro
simpático para contestar a hegemonia branca, esperando uma revolução social, e
tudo continuou como antes.
Agora a política queria entronizar uma mulher, para
antagonizar o mundo masculino – e aquela nação está ansiando por alguém
vigoroso e enérgico, que ouse dar um murro na mesa, e não meramente por
símbolos das minorias sociais – aliás, no momento em que as “presidentas” do
mundo todo vêm caindo dos saltos.
Sim. Quem votou na Hilary não o fez em função do gênero, nem
pela sua notória capacidade, mas por medo, pois tê-la na Casa Branca seria mais
do mesmo, enquanto colocar o Trump lá é enfrentar uma incógnita aventura. E está
mesmo posta uma aventura tenebrosa.
Quanto ao Crivela, o Prof. Rui Martinho Rodrigues ignora que
Marcelo Freixo, candidato do PSOL, era representante das esquerdas, que foram
recentemente desmascaradas e caíram em desgraça popular. Os cariocas não elegeram
Crivela pelos belos olhos dele. Se do lado de cá havia um malando carioca, rico
e safo, e pretensamente ungido por Deus, não havia vida inteligente do outro
lado.
Em suma, temos aqui um Estado brasileiro arrasado, com a sua
Capital falida, cidade ícone de um Brasil lançado em crise por governos
esquerdistas.
Lá fora, por seu turno, a nação mais poderosa do mundo
travada por políticas tímidas, enfrentando problemas com insolvência pública,
como efeito da globalização industrial, com uma política exterior claudicante,
e com uma onda de imigração descontrolada, com desafiante inflexão étnica e
xenofóbica. A meu sentir, o que houve, em ambas as eleições, foi um grito por
mudanças.
Reginaldo Vasconcelos
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