quinta-feira, 29 de setembro de 2016

TÚNEL DO TEMPO – PUBLICADO HÁ 20 ANOS


OS HOMENS DO ANO

Muita gente tomou por ironia a nossa indicação do palhaço Tiririca como “O Homem do Ano no Ceará em 1996”. Bem… foi ironia, e não foi. Quer dizer – se foi, não foi de nossa parte.

De fato, durante o ano passado, nenhum cearense teve mais destaque no País do que aquele artista circense, para desespero de uma certa ala de sudestinos, dos mesmos que abominam Ciro Gomes, e que procuraram por todos os meios dinamitar o sucesso do Tiririca, conseguindo apenas fazer o oposto.

Agora… que de fato faltou um nome de maior destaque entre os pró-homens do Estado, lá isso também é verdade. 

E talvez isso se deva à esmagadora força da dinastia Jereissati, convertendo os grandes líderes locais em meras balizas semafóricas, para orientar com bandeirolas o seu imenso trator de obras, que conta, inclusive, com impulso federal. Porto do Pecém, Castanhão, aeroporto internacional, energia eólica, tudo tem a mesma assinatura.

Mas, para que não haja ressentimentos, vamos mencionar alguns cearenses que se destacaram durante 1996, em suas áreas respectivas de ação.

Temos o mérito do Procurador da República, Dr. Francisco Araújo de Macedo Filho, que inaugurou prédio próprio (e muito próprio) na Aldeota, para o funcionamento da Procuradoria, a qual era instalada (e mal instalada) em imóvel improvisado para os lados do Jacarecanga.

Temos ainda Anselmo Mororó, jovem que há pouco tempo era surfista e que fundou um canal doméstico de televisão, a TV COM, para castigo das outras emissoras locais, repetidoras das grandes redes, e muito infensas a dar espaço aos valores regionais. Ele divide o mérito com o jornalista Nelson Faheina, que tem sustentado com heroísmo e poucas condições técnicas um jornalismo decente, e com a professora Adísia Sá, a qual avaliza a seriedade da emissora.

O prefeito Juraci Magalhães, que obteve das urnas maioria aclamadora nas eleições municipais. Este certamente merecerá um título de homem do ano se resolver em Fortaleza o apocalíptico problema do lixo e não esculhambar a Praia da Iracema com projetos faraônicos. A palavra “esculhambar” no seu sentido culto, o mesmo que “castrar”. A castração, ainda que cruel, mutiladora e aviltante, sempre encontrou justificativas éticas, estéticas e econômicas.

O mestre em jornalismo Ricardo Guilherme, fazendo o “Diálogo”, melhor show de personalidades da TV Cearense, que não comete nenhum dos dois tipos tão comuns de auto- entrevistas: aquele em que o entrevistador pergunta o que ele mesmo pretende responder, interferindo nas respostas, discordando delas, ou emitindo pareceres, e aquele em que o jornalista só pergunta o que o convidado precisa responder, para se justificar ou promover.

De resto, citamos o presidente do BEC, José Alencar, e o bancário Erotildes Teixeira, presidente da Associação dos Funcionários, que se digladiaram em praça pública, através da imprensa, na defesa de suas posições. No calor da refrega, excessos foram cometidos de parte a parte, o que produziu mágoas e contramarchas. Na verdade, ambos demonstraram-se aguerridos no cumprimento de suas missões, cada um visualizando método diverso para a defesa da Instituição. O que é fato é que a atividade bancária, como um todo, enfrenta percalços no momento e “em casa em que não tem pão, todos gritam e ninguém tem razão”.

Fica aqui também uma referência póstuma ao imortal da Academia Cearense de Letras, intelectual de peso e jornalista apaixonado, Geraldo Fontenele, que, em parceria com Maurício Xerez, fundou o jornal alternativo ABC Fortaleza, de muito boa qualidade, e que veio a falecer no último dezembro, vítima de um infarto fulminante.

Reginaldo Vasconcelos - JORNAL SCANDALUS - 1996



NOTA DO EDITOR:

A matéria foi publicada quando Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, despontava no cenário nacional com a canção burlesca "Florentina". Everardo é hoje deputado federal por São Paulo. 

O Jornal Scandalus o elegeu o cearense do ano de 1996, para demonstrar que os grandes personagens do Estado, mesmo os que brilhavam internamente, não tinham projeção Brasil a fora. Era um tempo em que ainda não existiam a telefonia celular, a fotografia digital, e em que o computador pessoal ainda não se popularizara. 

O Banco do Estado do Ceará ainda não fora extinto, mas Ricardo Guilherme já tinha seu programa de TV, em que aparece entrevistando o pesquisador, musicófilo e historiador Cristiano Câmara, falecido no dia 22 de maio último.

Enfim, a Praia de Iracema seria "esculhambada" anos à frente, pela prefeita Luizianne Lins, que aterrou a célebre "Piscininha" e transformou um espaço histórico, boêmio, romântico e acolhedor em um mero e despersonalizado calçadão para um mafuá de bicicletas e skates.   

    

    

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