A MORTE DE DOMINGOS NO RIO SANTO
Karla Karenina*
Morremos porque temos um corpo físico. Ponto. Todos precisamos parar de
vez um dia. Não morremos porque deixamos de fazer isso ou aquilo ou porque
fizemos isso ou aquilo outro.
Mas nossa visão ocidental da morte quer racionalizar tudo. Quer o
porquê, o culpado, a explicação científica e a mistificação da morte. Precisamos de algo que justifique e amenize a dor e a comoção causadas
pela morte.
Desde quinta-feira, dia da morte de Domingos Montagner, tenho tentado perceber
meus sentimentos, os sentimentos dos colegas da novela, das pessoas na rua...e
chego a algumas constatações acerca desse fato.
O medo da morte nos provoca uma catarse coletiva e individual que nos
une. O gênero humano com todas as suas complexidades está sempre às voltas com
o fenômeno da morte. Convivemos o tempo todo com ela, sabemos que estamos todos
sujeitos a ela e mesmo assim ainda não sabemos lidar com isso de forma natural.
Quando uma figura pública morre de forma tão trágica como o Domingos, ou
como Airton Senna para citar apenas mais um exemplo, sentimos a realidade da
morte mais perto e criamos empatia com o fato. Uns sofrem como se tivessem
perdido um ente querido, uma pessoa próxima, outros talvez por não saberem
lidar com seus sentimentos mais profundos de dor e medo, fazem piadas (maldosas
e sem graça), outros reagem com indignação e protesto à falta de elementos que
pudessem ter evitado o fato... O fato é que a pessoa morreu e ainda assim, está
presente nos sentimentos de todos.
E para quem, de fato, conheceu, conviveu, esteve fisicamente muito perto
de quem se foi? No meu caso, em particular, conheci Domingos quando ele gravava
a novela "Cordel Encantado" e eu gravava a novela "Morde &
Assopra". Andávamos pelo Projac em 2011, nos arredores dos estúdios e nos
detivemos por alguns minutos numa conversa informal com uma produtora conhecida
de ambos. Ele era um homenzarrão com cara de nordestino, mas com um jeito de
menino, característica inerente dos palhaços. Falava manso e me pareceu um homem
extremamente comum, para não dizer humilde (não gosto desse atributo dirigido
às pessoas públicas – pessoas são pessoas).
Nas minhas participações em Velho Chico não tive contato com Domingos,
éramos de núcleos diferentes, mas, na história toda, ele estava muito presente,
especialmente porque Camila Pitanga estava em algumas cenas que gravei e ela
estava muito integrada a toda a trama! E foi com ela, Camila, que estabeleci
minha empatia no episódio real da morte de Domingos. A minha experiência mais
próxima com a morte me deu elementos para isso. Quem fica, quem não pode
salvar, quem experimenta a sensação é impotência diante da morte, é quem mais
se afeta com a morte. E, no entanto, encontra forças pra continuar existindo, para
consolar, pra contar dezenas de vezes o acontecido...
Todos passamos, ou havemos de passar por isso, nos dois lados da
história; como Camila ou como Domingos. Mas nem todos têm que se submeter ao
julgamento e catarse coletivos. Claro que esse episódio real, em particular,
tem uma série de componentes que nos instigam a curiosidade e reflexão, pois
que se assemelhou à ficção do folhetim das nove, mas o fato é que Domingos
morreu e merece respeito. Quem esteve mais próximo, como Camila, que perdeu o
amigo de forma traumática merece o nosso respeito.
Pela empatia profunda com o caso, quero pedir que se me for antes de
vocês que me leem, por favor não digam que fui porque fiz o que fiz ou porque
não fiz o que não fiz. Deixem-me seguir para a paz!
Fiquemos aqui com nossas elucubrações e emoções às voltas com o medo da
morte, mas vivamos com a certeza de que ela nos chegará, inevitavelmente, e
deixemos seguir em paz o Domingos.
Segue em paz, colega palhaço, ator, pai... que no personagem de Santo,
nas águas do rio se consagrou. O rio com o nome de Santo que a tantos já levou,
mas também a tantos dá vida!!!
COMENTÁRIOS:
Provoquei a confreira Karla Karenina a comentar o
morte trágica de seu colega, artista cênico da TV Globo, Domingos Montagner, e
ela o fez brilhantemente nesta bela crônica, a qual reverencio, embora ela vá
em sentindo oposto às considerações que eu mesmo faço.
Ela fala como atriz, como mulher, como poetisa, como
filósofa aplicada. Falo eu como advogado, que tudo examina pelo viés da culpa e da inocência, e também como militar frustrado, condição em que se considera a
obrigação do homem de se preservar vivo, para servir, e até para morrer quando lhe
chamar a grande causa.
Karla entra em texto lindamente: “Morremos porque temos um corpo físico.
Ponto. Todos precisamos para de vez um dia”. É verdade. De fato, diante da
morte alheia, as pessoas se comportam como se morrer fosse excepcional, quando
morrer é regra comum. Todos vamos morrer – e nisso eu e a Karla não
dissentimos.
Mas a poetisa quer silêncio, quer oração, quer respeito.
O velho bruxo não vê na morte a extinção do ser, mas uma baixa física que não
importa na remição do espírito. Montagner continua vivo no concerto do
universo, e em cada um de nós, seus irmãos em Cristo, que não podermos
desprezar a sua memória, a sua experiência, o seu exemplo.
E Karla encerra a fala de forma ainda mais eloquente:
“Segue em paz, colega palhaço, ator, pai…”
– e eu aqui faço coro com ela, punindo também pela plena paz nos corações.
Reginaldo Vasconcelos
Reginaldo Vasconcelos
Caro amigo Reginaldo, sou uma grande
admiradora sua! Além de me "provocar" a escrever, me provoca lisonja
e surpresa com relação a mim mesma! Como é bom ler suas palavras! Sempre tão
bem colocadas em consonância com seu pensamento e caráter!!! Que bom tê-lo
nessa vida como um dos meus anjos da guarda! Avante, guerreiro do Bem e das
palavras!!! Obrigada por partilhar comigo dessa existência tão rica!!!
Karla Karenina
Querida Karla Karenina, ser sua amiga
é uma honra, sou solidária com o seu texto, que leva a uma profunda reflexão e
uma sabedoria além do entendimento.
Marleide Falcão
Obrigada, querida amiga! Bjs
Karla Karenina
Amiga me uno às suas palavras. Por
favor respeito às dores do nosso semelhante. Amor pelo outro acima de tudo... Valeu
Karlinha. Orgulho de você e partilho com todos as suas sábias palavras. Beijos
querida amiga!
Patrícia Gomes
Obrigada, minha querida! É uma honra
pra mim também ser sua amiga!
Karla Karenina
21.09.2006 - Fortaleza,
Meus cumprimentos e parabéns
ao Confrade Reginaldo Vasconcelos e Confreira Karla Karenina pelos conceitos
emitidos no episódio do ator global. A sensibilidade de ambos no tratamento do
fato, vale o Registro.
Vicente Alencar - Membro Titular da ACLJ
Gostei
da simplicidade da escrita sobre algo que ainda não trazemos para a
consciência, a morte. Importante e oportuno esse olhar pelo ângulo da Camila
Pitanga, empatia total. Nas entrelinhas a profundidade que transcende a
realidade, onde provavelmente o olhar do SENTIR deve pousar.
Clivânia
Teixeira
Querida Karla Karenina, ser sua amiga é uma honra, sou solidária com o seu texto, que leva a uma profunda reflexão e uma sabedoria além do entendimento.
ResponderExcluirObrigada, minha querida! É uma honra pra mim também ser sua amiga!
ExcluirObrigada, minha querida! É uma honra pra mim também ser sua amiga!
ExcluirObrigada, querida amiga! Bjs
ResponderExcluirCaro amigo Reginaldo, sou uma grande admiradora sua! Além de me "provocar" a escrever, me provoca lisonja e surpresa com relação a mim mesma! Como é bom ler suas palavras! Sempre tão bem colocadas em consonância com seu pensamento e caráter!!! Que bom tê-lo nessa vida como um dos meus anjos da guarda! Avante, guerreiro do Bem e das palavras!!! Obrigada por partilhar comigo dessa existência tão rica!!!
ResponderExcluirCaro amigo Reginaldo, sou uma grande admiradora sua! Além de me "provocar" a escrever, me provoca lisonja e surpresa com relação a mim mesma! Como é bom ler suas palavras! Sempre tão bem colocadas em consonância com seu pensamento e caráter!!! Que bom tê-lo nessa vida como um dos meus anjos da guarda! Avante, guerreiro do Bem e das palavras!!! Obrigada por partilhar comigo dessa existência tão rica!!!
ResponderExcluirObrigada, querida amiga! Bjs
ResponderExcluirGostei da simplicidade da escrita sobre algo que ainda não trazemos para a consciência, a morte.Importante e oportuno esse olhar pelo ângulo da Camila Pitanga, empatia total. Nas entrelinhas a profundidade que transcende a realidade, onde provavelmente o olhar do SENTIR deve pousar.
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