DOIS
ESPIROÁS*
Geraldo
Jesuino**
Quem não conhece o caminho que conduz ao mar
convém que tome por guia um rio. (Tito Mácio PLAUTO –
dramaturgo latino).
Há um Espiroá passando
pelo Município de Caucaia, no Ceará. É riacho tímido que, quando as chuvas se
lembram, se esgueira em ritmo de preguiça por baixo de uma pontezinha, pouco
maior do que um bueiro, que emenda a Rodovia Pres. Juscelino Kubitschek. E
existe este outro Espiroá, da
literatura alteada do escritor piauiense, morador no Ceará, Augusto Rocha.
Aquele, naquela ponte (ícone),
é o local da última e perigosa dose de adrenalina a marcar o final da saga e a
impor reflexão e recolha ao aventureiro. Os riscos e os ganhos, as dores e os
prazeres, os recantos e os cantos do motor, do vento surfando na velocidade e
dos lugares – a exuberância e a grandeza da natureza – tudo está cuidadosamente
acomodado nos alforjes.
Um quase breviário – a prova
de que nada foi esquecido – este Espiroá
é mimo urdido com as precauções deste intelectual de alta envergadura que,
desvestido temporariamente de sua armadura de ousado viajor, o engendrou com o
cuidado e a paciência dos grandes talentos.
Aqui, muda de transporte,
habita o território da palavra e nos oferece, em linguagem esmerada e narrativa
cuidadosamente constituída, sem riscos, intempéries, dores ou desgastes de
qualquer natureza, a oportunidade de desfrutar consigo, nas páginas do seu Espiroá, cada detalhe desta sua mais
recente e formidável aventura.
Respaldado na experiência
dos milhares de quilômetros percorridos pelo Mundo e no domínio da escrita,
obtido nos seus Vou no Bombo, Sagandina e Carregadores
de Melancias, Augusto Rocha nos leva, sem perder ou omitir detalhes, por
caminhos de rude severidade ou rara beleza, até a BahíaLapataia, nos confins da
Antártida, e nos devolve esses pormenores da viagem, incólumes e felizes, mesmo
após o susto na chegada, quase sobre a ponte de um regato preguiçoso e
escondido que se fez título de mais uma obra de qualidade inconcussa.
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