Folhas Mortas
Inspirações em Versos
Ecléticos (I)
Vianney Mesquita*
Se o poeta não pode iludir, não é poeta; e falar em
poesia com raciocinio é igual a se referir a um animal pensante. (G. LEOPARDI. Poeta e
filólogo italiano. Recanati, 29 de junho de 1798; Nápoles, 14 de junho de
1837).
1
INTRODUÇÃO
Embora
coetâneo de Santiago VASQUES FILHO e conhecedor de sua obra artística, não
experimentei a ventura de privar do seu convívio.
Dado
às coisas do espírito, o Rapsodo piauiense cultuou vigorosamente a arte da
Pintura, havendo deixado copiosa produção em variados gêneros, registados em
guaches, óleos e aquarelas. Jornalista colaborador de periódicos do Ceará,
Paraíba e Estado do Rio de Janeiro (Niterói), frequentou movimentos culturais
dos mais diversos jaezes, como, exempli gratia,
no exercício da logogrifia, discurso em prosa escrita e aplicação na atividade
de composição e decifração de palavras cruzadas.
No
século, hic est, em contraposição aos
exercícios da cultura incorpórea, o Poeta foi magistrado e advogado competente,
creditando, ainda, ao seu currículo, a pertença à vida castrense.
Dessa
atividade multímoda, nos misteres seculares e fora destes, destaca-se em motos
literários do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo,
Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, e até do Exterior, feito titular
de uma cátedra do Instituto de Cultura Americana, do México.
Ao
atestar a grandiloquência de sua produção na senda das letras, com destaque
para a poesia, o Autor de Bronzes e
Cristais granjeou muitos prêmios, em concursos de poesia, trova e soneto,
representados por diplomas, medalhas e troféus, consoante registam Girão e
Sousa (1987 p. 231), em cidades das diversas unidades federadas há pouco
mencionadas.
A
despeito de sua obra multifária, foi o metro a socializá-la no País inteiro,
mercê dos trabalhos de rara beleza, como o prefalado Bronzes e Cristais (1975),
Cantigas de Três Patetas, em parceria com Aloísio da Costa e César Torraca
(1985), e o Folhas Mortas (glosado no
meu Fermento
na Massa do Texto -
Apreciações – MESQUITA, Vianney -2001), dado ao público em 1985, em edição princeps, numericamente limitada e
artesanal, com o sinete das Academias Espirito-santense de Letras e Brasileira
de Literatura, reeditada, desta vez industrialmente, em 2000, pelas Edições
UVA, de Sobral-CE.
Caminhos sem Fim, romance de 1984, O Testamento e outros Contos, e O Azarado e outros Contos pertencem à
prosa de ficção do Autor, assinante, também, de Três Ensaios Literários, todos eles de apreciável valor artístico e
didático, não editados.
2
TRÊS ASPECTOS DA PRODUÇÃO
Sem
qualquer pretensão ensaística para cobertura de toda a obra desse Autor,
evidencio três aspectos de suma relevância em qualquer escritor e em todos os
seus produtos, nomeadamente no de feição poética, o qual, além do gosto
estético a infundir nos leitores, solicita outras tenções autorais a fim de
conferir às composições do gênero verdadeira axiologia de conteúdo, tornando-se
resistentes a modismos, épocas e escolas.
Neste
passo, apraz-me remeter o leitor à ideia do crítico de nomeada nacional, o
cearense Pedro Lyra, sustentada na segunda edição de Utiludismo – a Socialidade da Arte (1982:39, acerca dos conceitos
de a) a forma como eficácia, b) o
conteúdo como interesse e c)a fusão
de ambos como condição de permanência da obra de arte, pressupostos
habitantes dos trabalhos de Vasques Filho.
Três
requisitos, conforme o Autor de O Reduto Ontológico do Poema, são indescartavelmente requeridos
para configurar a verdadeira obra de arte: eficácia,
interesse e transcendência.
O
argumento da eficácia está na capacidade de um sistema para alcançar os
objetivos constituintes de sua razão de ser, enquanto o interesse se vincula à capacidade
de atrair o outro e mantê-lo indefinidamente em contato. A seu turno, a
transcendência, conforme a ideação de logo conota, está na capacidade de
ultrapassar os limites espaçotemporais de origem, para permanecer no convívio
das sucessivas gerações. Pedro Lyra ainda explica:
[...] a transcendência reside
na sua substância ideológica, a sua eficiência reside na maneira como essa
substância é preparada e apresentada ao público, ou seja, na FORMA como é
considerada concluída pelo autor. (LYRA, op. cit,
p. 40. Versal meu).
Convicto,
pois, estou do fato de os trabalhos de Vasques Filho resguardarem essas
características, coerentemente divisadas por Lyra, constituindo teores
transcendentes.
Então,
inventario os aspectos há pouco mencionados, intrínsecos aos escritos de
Vasques Filho:
– detenção de sólido e apurado aparelhamento intelectual;
– conhecimento e domínio das técnicas de métodos de
versificar;
e
– saber, domínio e emprego vasto e correto da Língua Portuguesa.
(Continua,
oportunamente, com o módulo II).
Observação
Conforme
é de costume, vez por outra, o autor deste trabalho seriado de crítica literária
experimenta abandonar a partícula quê,
a fim de demonstrar o fato de seu emprego não fazer – ou fazer pouca – falta
numa escrita, aplicando recursos substitutivos oferecidos pela extraordinária
“última flor do Lácio”.
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