sábado, 17 de setembro de 2016

ARTIGO - O Rei Está Nu (RV)


O REI ESTÁ NU
Reginaldo Vasconcelos*



Aprovei o ato, mas não avalio bem como foi feito. A entrevista coletiva de imprensa convocada pelos Procuradores da República, liderados pelo Dr. Dallagnol, com apoio presencial de Delegados da Polícia e da Receita Federal, todos integrantes da Operação Lava Jato, na última quarta-feira dia 04, foi muito boa no conteúdo, mas, no meu julgamento, deixou a desejar no seu formato.


Tudo o que foi dito ali, apresentado como novidade, já era “segredo de polichinelo” para a população esclarecida, para as pessoas de mediana inteligência, psiquicamente saudáveis e ideologicamente manumissas, desde o clamoroso “mensalão”.  Os procuradores chamaram o povo para declarar a nudez do rei, como naquela fábula em que todos constatam que o rei está nu, mas não podem revelar, porque foram convencidos de que só os honestos veem as vestes, feitas de um tecido mágico.  


Então, noticiar o oferecimento da denúncia penal de Lula da Silva, para torná-lo réu e, na sequência, condenado e preso, foi o único advento a merecer alvíssaras, porque todo o mais que foi dito já era de domínio público e de geral conhecimento. Ninguém é bobo de acreditar que alguém tão esperto, que saiu do nada para a Presidência da República, tenha sido enganado pelos amigos “aloprados” que ele mesmo trouxe para dentro do Governo.

Aliás, alguns são mesmo bobos de acreditar nisso, outros duvidam, mas se aferram à dúvida, outros sabem de todos os crimes, mas preferem ignorá-los. Para estes míopes morais, saquearam a Petrobras e a Eletrobrás sem que Lula soubesse, sem que ao menos sonhasse a sua pupila principal, Dilma Rousseff.

Roubaram nos Correios, nos Planos de Pensão, nos empréstimos consignados, sem que o principal ícone do PT e seu títere de saias tomasse qualquer conhecimento. Para esses crentes do absurdo, José Dirceu e José Genuíno, pernas do Partido, braços do Governo, agiam sozinhos e por absoluta conta própria. Quanto a Lula: “Sabe de nada, inocente!”.

Delúbio Soares e João Vacari Neto cobravam “pixulecos” para sua furtuna própria. Lula e Dilma não têm nada a ver com isso. Eduardo Cunha, base do Governo, nomeava diretores da Petrobrás e negociava contratos com empreiteiros, em troca de propinas, sem conhecimento de ninguém.

Delcídio do Amaral, por sua vez, líder de Dilma no Senado, foi propor mundos e fundos pelo silêncio de Nestor Cerveró assumindo despesas do próprio bolso, e prometer grandes favores jurídicos a serem obtidos com o seu único prestígio. Ora, me compre um bode!

Diante de todo esse quadro, ocultação do patrimônio do apartamento de luxo e do sítio em Atibaia é “fixinha”; decretos e pedaladas também são delitos simbólicos. São apenas como aquele crime fiscal pelo qual a Corte norte-americana condenou o mafioso Al Capone, à míngua de provas cabais de mil e um crimes maiores que o gangster praticou.

Lula e Dilma, conscientes de que cada alma vale um voto, colocaram no curral do bolsa-família e de outros programas de assistência todo o numeroso proletariado brasileiro, garantindo assim eleições de cabresto para toda a eternidade, segundo imaginavam.  

E saíram alardeando ter rebaixado a zero a linha de pobreza, quando na verdade favor pontual do Governo não promove a redenção de ninguém, pois somente pelo ensino de qualidade e a expansão da economia e do emprego, do salário, da renda, as pessoas podem ter elevado de fato o seu status econômico e social.

Pretensamente garantidas, por esse ardil, as eleições e as reeleições, e a consequente perpetuidade do partido no poder, Lula e Dilma aparelharam a máquina pública e sodomizaram a Nação sem pudor e sem caridade, por meio do mais desvairado esquema de corrupção e de propinas.

Cabia, pois, aos Procuradores da República, sem mais delongas, anunciar ao povo que finalmente denunciaram o Lula, de forma bem fundamentada, e que se a denúncia for recebida e julgada procedente ele vai ser condenado. Quem vai apreciar as provas é o Juiz Sérgio Moro, não é o povo, nem o próprio Lula, muito menos os seus advogados, de quem não se poderia esperar menos do que pugnar em seu favor.

Mas a própria jararaca apareceu na TV no dia seguinte, com o rabo em carne viva, desta vez muito mansa, para contestar a denúncia em discurso político e emocional com direito a algumas lágrimas, reclamando por provas cabais do que se suspeita contra ele. Mas de nada adianta, juridicamente, a esta altura, o que ele diga ou o que ele cale fora do mundo do processo. Quem vai decidir é o Juiz Moro, e depois o Tribunal Federal de Porto Alegre.

De todo modo, a mim me parece que o próprio Lula (“a alma viva mais honesta deste mundo”, o Getúlio Vargas em versão operária e o único concorrente de Jesus Cristo no Brasil), já não acredita mais que vai prosperar a sua estratégia de defesa, diante do que ocorreu com Dilma Rousseff e com Eduardo Cunha.

Inclusive, exposto o seu calcanhar de Aquiles, que é o envolvimento da família em suas patacoadas federais, tive a impressão de que Lula já ensaiou, em sua fala, uma confissão qualificada – quando o acusado admite a conduta réproba para justificar o ato e tentar elidir sua ilicitude. 

Ao alegar que os concursados da Procuradoria são “analfabetos políticos”, porque não sabem o que é “presidencialismo de coalizão”, e por desconhecerem como é difícil a governabilidade sem base no Congresso, Lula parece reiterar o absurdo que confessou ao Presidente do Uruguai, José Mujica, no sentido de que a única maneira de governar o Brasil seria cometendo indignidades.


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