domingo, 25 de setembro de 2016

ARTIGO - A Donzela do Bordel (RMR)


A DONZELA DO BORDEL
Rui Martinho Rodrigues*


Uma mulher sedutora, persuasiva e envolvente trabalha em um grande bordel por longo tempo, desde a sua fundação; reside no alcoice; desfruta dos favores dos seus clientes. Grande é o companheirismo entre a sedutora senhora e as prostitutas do lupanar, que são lideradas por ela.

Mas a líder das meretrizes alega não saber que elas exercem a antiga profissão; nem que ali é uma casa de prostituição. A líder daquela casa não sabe nem jamais suspeitou ou ouviu falar a respeito do que se praticava na sua casa, sob sua liderança, entre os clientes que lhe prestigiaram tanto. Suas amigas íntimas e lideradas jamais lhe confidenciaram nada sobre as “tenebrosas transações” – como diria o grande poeta da MPB.

É pouco? Tem mais: a sedutora senhora, que conta inúmeras primaveras na casa e na vida, afirma que é donzela e não existe virgem tão pura quanto ela!

Qualquer semelhança com a política não é mera coincidência.

O ex-ministro da Casa civil, José Dirceu; um tesoureiro do PT, Delúbio Soares; um segundo tesoureiro do PT, João Vaccari; o ex-deputado e destacada liderança do PT, José Genuíno; o ex-deputado João Paulo, do PT e tantos outros petistas foram condenados no mensalão e/ou no petrolão.

A senadora Gleise Hoffmann e o marido, que é ex-ministro do governo petista; Delcídio do Amaral, ex-senador do PT e ex-líder do governo do PT; o governador Pimentel, de Minas Gerais; o senador Luiz Lindbergh Farias, do PT fluminense e uma relação interminável líderes próximos do ex-presidente Lula, se ainda não foram condenados já viraram réus ou estão sendo investigados em face de um dilúvio de indícios de autoria de crimes cuja materialidade já está comprovada.

O próprio ex-presidente se acha na condição de réu.

Morando no PT, liderando o PT, sendo intimamente ligado ao PT, o líder do partido não sabe e jamais ouviu falar das atividades ilícitas dos companheiros. Petrobrás, mensalão, fundo de pensões da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, dos Correios. Eletrobrás, BNDES. Ligaram-se aos maiores escândalos da história contemporânea, sempre sem que o ex-presidente sequer desconfiasse.

O filho dele tornou-se milionário subitamente. Rios de dinheiro inundaram as campanhas do PT. O experiente líder do ABC desfruta de largos favores dos maiores empreiteiros do país. Mas não desconfia de tanta generosidade nem de nada disso, embora veja as elites como a personificação da torpeza e seja um homem vivido e “passado na casca do alho”.

Amigo íntimo da “elite torpe” que frequenta o lugar das “tenebrosas transações”; líder dos agentes políticos que negociam com a “elite torpe”, o experiente líder não sabe, não viu, nem desconfia de nada e mete a mão no fogo pelos companheiros. Não falta desenvoltura ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva para proclamar a sua própria pureza, declarando-se a pessoa mais honesta do Brasil.

Merece tanto crédito quanto a sedutora senhora que mora no bordel do qual é fundadora, lidera as “meninas” da casa, recebe favores dos seus clientes, mas jura ser donzela e a mais pura das virgens do Brasil.




COMENTÁRIO:

É perfeita a analogia que faz Rui Martinho Rodrigues entre os pretensos titulares inocentes do governo deposto e a “madame” de um bordel que alegue nada saber sobre a atividade das prostitutas que abriga em sua casa, e que lidera e explora, para assim se eximir do lenocínio que pratica.

Mas, ainda que não existisse um crime intelectual de patrocínio da prostituição a escrutinar, existe a responsabilidade objetiva do pai de família sobre a conduta de seus filhos menores, e isso aqui se presta para uma comparação ainda mais trágica.

Imagine-se um pai, ou uma mãe, cujos filhos sejam ladrões, e com o produto do roubo ajudem a sustentar a família, propiciando vida boa a si aos genitores – mas que estes, flagrados aqueles, aleguem desconhecer inteiramente a sua atividade criminosa.

Só um idiota acreditaria nisso, mas, ainda que acreditasse, esse pai (ou mãe) não poderia escapar da obrigação moral que pesa sobre um sujeito negligente que nem desconfia da origem duvidosa dos benefícios materiais que produz a sua prole, até mesmo em seu proveito.

Mas nem todos os que dizem acreditar nessa alegada inocência são idiotas realmente, pois muitos conhecem bem os fatos, que preferem desculpar por interesses fisiológicos, já que de alguma maneira tiraram proveio pessoal da corrupção, ou porque suas convicções ideológicas justificam a bandalheira, o sacrifício do povo, e até o homicídio, se necessário à sua sanha.

Reginaldo Vasconcelos  


  

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