sexta-feira, 1 de novembro de 2013

LÍNGUA DE CAMÕES



DOIS ENGANOS DE ACEPÇÃO
 Por Vianney Mesquita*


Alternativa

Em razão do largo quanto inadequado uso da dicção alternativa e de suas variações vocabulares, com acepções diversas daquelas que realmente conotam, é de bom alvitre se tome em consideração a ideia de que alternativa provém de alter (latim)  outro, outra.

Por conseguinte, existe, tão-só, UMA alternativa. Diz-se, em português correto, a alternativa é esta, de sorte que se não cogita em diversas alternativas, num "leque" de alternativas (Proh pudor!), pois, por definição, o vocábulo corresponde à sucessão de duas coisas reciprocamente exclusivas, isto é, uma opção entre ambas.

Com efeito, a opção não sendo uma coisa será a outra (alter), a alternativa. Opção será, pois, a alternativa para eliminar as elaborações frasais equivocadas, feitas, amiúde, ao contrapelo das regras da Língua, desprezando, in casu, a procedência glossológica da palavra.


Nascer Morto

Talvez seja inglória esta luta contra composições de tal jaez. Todo o mundo, até o escrevinhador da língua culta, suporta, aceita e até emprega palavras e expressões sem qualquer consistência glotológica; pouco se lhe dá se está ou não depauperando a extraordinária língua de José Rogério Fontenele Bessa.

As vezes, são expressas até antíteses violentíssimas, como na consagrada  e universalizada nas línguas românicas  expressão, a terrível dicção NASCER MORTO, utilizada pela Bioestatística (como, exempli gratia, o SISNAC - Sistema de Nascidos Vivos - MS/Brasil) e por todo o ecúmeno.

Se nascer significa, conceitualmente, começar a ter vida exterior, vir à luz, ver a luz, como pode alguém nascer morto?  Nascer, então, é o mesmo que morrer ?

Diga-se, por conseguinte, a mulher pariu um feto sem vida, delivrou um corpo morto ou coisa-que-o-valha; entretanto, nascer foi, é e será, indefinidamente, o antônimo perfeitíssimo de morrer.

Lamentavelmente, contudo, com alternativa, ainda temos esperança, porquanto esta outra "guerra" parece definitivamente perdida.


*Vianney Mesquita
Professor da UFC
Escritor e Jornalista
Membro da Academia Cearense 
da Língua Portuguesa
Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ

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