terça-feira, 26 de novembro de 2013

CRÔNICA DE ADÍSIA SÁ


Bom dia Rainha,

Você sabe de uma coisa, Maria Luíza, eu nunca fui rainha de nada, não sei, portanto, o que é dormir, acordar, falar e pensar como soberana de qualquer coisa. Mas, não invejo o destino das majestades, nem mesmo das figurinhas de papel colorido. Porque o peso da vida já é cansativo, imagine acrescido de um título, seja real ou imaginário, temporário ou permanente.

Sempre me acostumei a vê-la, Maria Luíza, no alto de sua fleuma, sempre segura de si, impenetrável e altiva. O magistério não nos aproximou, a despeito de lecionarmos no mesmo colégio. Ficamos distantes uma da outra, muito embora as classes fossem vizinhas e as matérias presas pelo raciocínio e a lógica.

Assim mesmo eu acompanhava com simpatia o seu caminhar pelos corredores do Justiniano de Serpa e sentia prazer – nunca rancor ou despeito – em sabê-la estimada pelas meninas do primeiro ciclo. Você sempre figura na lista do professor mais querido do Colégio.

Havia razão para ser assim: você trás na estampa a linhagem de que descende, e a segurança que transborda de seu ser contagia, penetra até mesmo nos mais velhos. Como eu, talvez. Tudo isto que disse agora, com um pouquinho de orgulho – por senti-la mais minha do que dos companheiro de profissão – me veio ao pensamento quando soube que seu nome figurava como candidata à Rainha da Imprensa.

Não vou negar: surpreendi-me com o fato. Tinha você tão trancada no seu mundo interior, tão isolada dos demais, que nunca pensei em vê-la um dia compartilhando de uma ansiedade comum a jovens de sua idade: “Vitoriosa ou não?
  
Você ganhou. O cetro é seu. A felicidade é nossa. Tenho confiança em você, Maria Luíza, e sei que o nome da minha entidade – a ACI, está em mãos equilibradas e serenas. Você não pode sofrer oscilações, não pode passar por indecisões, não será alvo de inquietações e dúvidas. Você é perene demais, Maria Luíza, para deixar de ser uma grande Rainha.

E disto nós precisamos. Há tanto que fazer, menina, tanto, que só vendo. Palavra de honra: cheguei a acordar várias vezes pensando: “Quem será a nova rainha? Será que as coisas não serão adiadas? Existirá um agora na vida da futura soberana da Imprensa?”

Sabe por que eu me fazia estas perguntas? Porque amo a ACI, como amo a Gazeta, como amo a Imprensa. Será mal de solteirona? Mas eu fui mais jovem e foi na mocidade que esse amor nasceu.

Por amar tanto a ACI, o meu jornal, a Imprensa, é que eu espero e confio em você, Maria Luíza. Não penso em decepções. Não acredito em belas iniciativas, grandes movimentos, monumentais campanhas. Você é perene, moça, e é capaz disto. Não me decepcionarei e comigo toda a classe.


Publicado por Adísia Sá na coluna Canto de Página, no jornal Gazeta, em 1962   quando a jovem professora Maria Luíza Chaves, neta do Barão de Camocim, foi eleita Rainha da Imprensa, na ACI. 

A futura Dra. Maria Luíza viria a fazer parte do Secretariado do Governo Ciro Gomes.


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