Bom dia Rainha,
Você sabe de uma coisa, Maria Luíza, eu nunca fui rainha de
nada, não sei, portanto, o que é dormir, acordar, falar e pensar como soberana
de qualquer coisa. Mas, não invejo o destino das majestades, nem mesmo das figurinhas
de papel colorido. Porque o peso da vida já é cansativo, imagine acrescido de
um título, seja real ou imaginário, temporário ou permanente.
Sempre me acostumei a vê-la, Maria Luíza, no alto de sua
fleuma, sempre segura de si, impenetrável e altiva. O magistério não nos
aproximou, a despeito de lecionarmos no mesmo colégio. Ficamos distantes uma da
outra, muito embora as classes fossem vizinhas e as matérias presas pelo
raciocínio e a lógica.
Assim mesmo eu acompanhava com simpatia o seu caminhar
pelos corredores do Justiniano de Serpa e sentia prazer – nunca rancor ou
despeito – em sabê-la estimada pelas meninas do primeiro ciclo. Você sempre
figura na lista do professor mais querido do Colégio.
Havia razão para ser assim: você trás na estampa a linhagem
de que descende, e a segurança que transborda de seu ser contagia, penetra até
mesmo nos mais velhos. Como eu, talvez. Tudo isto que disse agora, com um
pouquinho de orgulho – por senti-la mais minha do que dos companheiro de
profissão – me veio ao pensamento quando soube que seu nome figurava como
candidata à Rainha da Imprensa.
Não vou negar: surpreendi-me com o fato. Tinha você tão
trancada no seu mundo interior, tão isolada dos demais, que nunca pensei em
vê-la um dia compartilhando de uma ansiedade comum a jovens de sua idade: “Vitoriosa
ou não?
Você ganhou. O cetro é seu. A felicidade é nossa. Tenho confiança em você, Maria Luíza, e sei que o nome da
minha entidade – a ACI, está em mãos equilibradas e serenas. Você não pode
sofrer oscilações, não pode passar por indecisões, não será alvo de
inquietações e dúvidas. Você é perene demais, Maria Luíza, para deixar de ser
uma grande Rainha.
E disto nós precisamos. Há tanto que fazer, menina, tanto,
que só vendo. Palavra de honra: cheguei a acordar várias vezes pensando: “Quem
será a nova rainha? Será que as coisas não serão adiadas? Existirá um agora na
vida da futura soberana da Imprensa?”
Sabe por que eu me fazia estas perguntas? Porque amo a ACI,
como amo a Gazeta, como amo a Imprensa. Será mal de solteirona? Mas eu fui mais
jovem e foi na mocidade que esse amor nasceu.
Por amar tanto a ACI, o meu jornal, a Imprensa, é que eu
espero e confio em você, Maria Luíza. Não penso em decepções. Não acredito em
belas iniciativas, grandes movimentos, monumentais campanhas. Você é perene,
moça, e é capaz disto. Não me decepcionarei e comigo toda a classe.
Publicado por Adísia Sá na coluna Canto de Página, no jornal Gazeta, em 1962 – quando a jovem professora Maria Luíza Chaves, neta do Barão de Camocim, foi eleita Rainha da Imprensa, na ACI.
A futura Dra. Maria Luíza viria a fazer parte do Secretariado do Governo Ciro Gomes.
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