terça-feira, 12 de novembro de 2013

LÍNGUA DE CAMÕES





VENI, VIDI, VICI
Por Vianney Mesquita*


Dante Alighieri 
       Olavo Bilac
Mediante reforma adulterina procedida da educação brasileira, cujo mentor de bestunto tão estreito me escuso de referir, foi o ensino da Língua e Literatura Latina -- código glossológico, também, de Dante Alighieri (italiano) -- proscrito dos curricula do antigo Curso Ginasial, fato representativo de incalculável prejuízo ao culto, cultivo e aprimoramento da derradeira flor romana de Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac.

Quevedo y Villegas 
Júlio Laforgue 
Língua-mãe, ainda, de várias outras codificações glotológicas (línguas, dialetos, idioletos e patois), deriva do Latim, idioma matricial de Quevedo y Villegas (castelão), a maior parte das formações vocabulares e das mencionadas ordens linguísticas, motivo por que o estudo, entendimento e diacronia do nosso idioma têm como fonte inexaurível as sistematizações românicas, ora oficialmente inacessíveis à massa, porquanto banida das escolas, como matéria basilar, a expressão lingual herdada do Lacio, pela qual também Júlio Laforgue (uruguaio) e Vicente Blasco Ibañez (platino) escreveram suas obras.
Vicente Blasco Ibañez 
Alphonse Daudet
Há, contudo, no Brasil, alguns dos seus discípulos desobedientes à espúria determinação, embatendo-se diuturnamente pelo retorno da fala original de Alphonse Daudet (francês) às grades curriculares dos estabelecimentos de ensino secundário, no entanto, até agora, sem ressonância nas oitivas moucas das autoridades de instrução no País.

Frédéric Mistral 
Um desses poucos -- que conheço e de cuja amizade me ufano de privar -- é o Professor Antônio Carlos Dias Campolina, filho do mestre ubaense José Dias Campolina, coluna de retidão e sabedoria e que tem no seu rebento, cuja pátria é também Ubá-MG, o continuador de sua obra como lente da linguagem, na sua origem, usada por Frédéric Mistral (provençal ou occitano), em Minas Gerais e alguns estados do Nordeste.

Qual derradeiro abencerrage de Chateaubriand, Campolina se larga da sua BH por Minas Gerais inteira, pelo Ceará e Piauí, procurando, com os raros cursos que monta, sensibilizar as autoridades, mediante contatos pessoais, depois de longuíssimos chás de cadeira, e via imprensa, a reintroduzirem a matéria-base da literatura de Emil Cioran (romeno) na escola, num mourisco trabalho apostolar em favor de um concerto linguístico que jamais foi a óbito.

Professor Campolina
Somente ele sabe as necessidades por que passa, as evasivas e grosserias que ouve, os parcos dinheirinhos que às vezes nem recebe, o padecimento, enfim, em favor de uma disciplina propedêutica (com base na qual Rosalía de Castro de Murguia compôs O cavaleiro de botas azuis), das matérias de Língua, Literatura e Cultura lusofônicas (Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Timor Leste e Macau).
O livro S.P.Q.R. Latim Jurídico, em sexta edição, representa a exteriorização da sua peleja, na queda de braço desigual, porém na certeza de um dia atravessar o Rubicon. Ele até já pôde dizer como Júlio César: Alea jacta est; e depois poderá, decerto (não se sabe quando), falar para os Farnaces, reis do Ponto insensível brasileiro, perto de Zela (Brasília), no ano 47: Veni, vidi, vici.

Já veio, viu e haverá de vencer. É o que todos os seus amigos, ex-alunos e admiradores esperamos.


*Vianney Mesquita
Professor da UFC
Escritor e Jornalista
Membro da Academia Cearense 
da Língua Portuguesa
Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ

Um comentário:

  1. Meu caro conterrâneo palmaciano Vianney: Você, com seu relevante artigo remeteu-me ao tempo em que estudei Latim, no antigo Ginásio Municipal de Fortaleza (hoje sede do Instituto do Ceará). Era ministrado pelo saudoso Prof. Lacerda. Parabéns por enfocar, em profundidade, um tema tão importante.

    Jornalista e Prof. Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira

    PS: Estou nos Estados Unidos durante todo este mês de novembro em viagem de observação cultural...

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