CARREGADOR DE MELANCIAS
Por Vianney Mesquita*
Em
enunciado interessante, Rui Esteves RIBEIRO de Almeida COUTO (Santos,
12.03.1898; Paris, 30.05.1963) expressou este pensamento: “Todas as viagens são
lindas, mesmo as que fizeres nas ruas do teu bairro. O encanto dependerá do
teu estado d’alma”.
Carregadores de Melancias, do piauiense e admirável escritor de Sagandina, Augusto Rocha, encerra, permutatis,
permutandis, essa ideia do jornalista e diplomata
santista, pois perseverante no seu continuamente alevantado estado de espírito.
Não somente pelas jornadas nas vias do seu bairro, mas também pelo Brasil afora
– e até pelo Polo Norte – o autor realiza maravilhosos périplos na sua montaria
de “aço” (acompanhado de um pugilo de amigos de naipe igual ao seu), dos quais
aufere para a literatura deliciosas passagens, contadas com a sedução e o
encantamento de quem é senhor da habilidade de narrar.
Com
recorrência, expresso a ideia de que não me afiz, de estudo, adiantar lances
acerca do que comento para quem ainda não experimentou a ventura de deparar uma
obra de qualidade, ou mesmo experienciou o infortúnio de se haver com um
escrito medíocre, insosso e desenxabido, a fim de lhe não suprimir o ânimo da
leitura.
De
efeito, sem dizer do entrecho maquinado, antecipo, entretanto, o fato de que a
excursão empreendida por Augusto Rocha, Sáris Pinto e seus companheiros foi
daquelas cujos protagonistas, antes de a terem efetivado, poderiam haver
concedido audiência ao grandioso Johann Wolfgang Goethe (Frankfurt-Meno,
28.08.1749; Weimar, 22.03.1832), na ideia de que, para se entender que o céu é
azul em toda parte, não é preciso percorrer o Mundo.
Vai
ter ciência o leitor das jornadas de um quase padecimento dos excursores
motociclistas, ao arrostarem dificuldades de muitas sortes, com raros ou nenhum
momento de aprazimento e júbilo, circunstâncias demarcatórias do status de uma
boa viagem de férias.
A
desventura, porém, costuma representar o trampolim para o gênio, repositório
para o homem destro, com estado d’alma alevantado, consoante sugeriu Ribeiro
Couto, no início mencionado.
E
eis, pois, este escrito narrativo do passeio – longo e remoto – de um grupo em
sofrimento de férias, expresso na fecundidade de um Português bem tratado por
quem lhe conhece as regras de compor com graça e vigor, da parte de um narrador
ilustrado acerca das técnicas e ambages desta língua onde estão contidos “o
trom e o silvo da procela”, bem como “o arrolo da saudade e da ternura”. (Bilac).
Augusto
Rocha – o qual se acompanhou de Sáris Pinto e demais corajosos viajores – é um
“carregador de melancias” de alto padrão comunicacional e literário, no mesmo
grau de quem domina a motocicleta e sabe consumir de bom grado o cansaço físico
e absorver o abatimento anímico, para depois, uma vez digeridos, trazer esta
peça lítero-narrativa de valor inquestionável, quer sob o espectro da contagem
da história ou no referente a tornear com exatidão e minudente grau de
detalhamento.
Mais
um livro de qualidade aufere a historiografia motociclística brasileira, com o
sinete de um produtor sazonado na constância de suas viagens e no exercício de
sua pena, transmudada, por enquanto, no teclado do computador.
Isto
significa regozijo no Ceará culto e gáudio para o Brasil ilustrado.
Fortaleza, 25 de outubro de 2013.
*Vianney Mesquita
(Docente da UFC, jornalista
e escritor.
Titular da
Academia Cearense da Língua Portuguesa e da
Academia Cearense
de Literatura e Jornalismo).
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