quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CRÔNICA

Outra história de WILSON IBIAPINA
Por Emerson Sousa*
 

Por três vezes, em curto espaço de tempo, encontrei no supermercado do Lago Norte o Wilson Ibiapina, sempre comprando lâmpadas.

Uma hora foi a queda de um disjuntor que queimou toda a iluminação da varanda. Outra hora um raio, a queda de energia e uma dúzia de lâmpadas queimadas etc.

Na terceira vez ele não me viu. Fiquei cismado. Observei o carrinho dele e tinha mais uma vez lâmpadas dentro. O que seria agora?

Enquanto ele encostou o carrinho e foi buscar algum produto que tinha esquecido de pegar, aproveitei e me aproximei da moça do caixa onde ele passaria suas compras e, com olhar sério e falando baixo, disse:

“Cuidado com esse moço que você vai atender daqui a pouco. O dono desse carrinho aqui do lado. Ele é maluco. É conhecido como o “Maníaco das Lâmpadas”. Age aqui no Lago Norte. Atenda-o com muito cuidado porque ele tem crises e é perigoso”.

Ela me olhou espantada e eu prossegui:

Nesse período de lua cheia então nem é bom pensar. Sabe, ele tem compulsão por lâmpadas. Cuidado na hora de passar as lâmpadas dele, pegue com carinho e diga que você também adora lâmpadas. Isso vai dar a ele confiança em você.

E ela:

Sério? Ele já teve aqui mais cedo e levou três lâmpadas.

Eu não tô falando! Ele é doido por lâmpadas. Até nos filhos ele colocou nomes como Edison, Osram, Philips e Silvania, esta a única menina da casa.”

E continuei:

Dizem que essa paixão por lâmpadas se deve a ele ter vivido muitos anos sob a luz de lamparina, lá no interior do Ceará onde nasceu. Quando viu uma lâmpada incandescente pela primeira vez ficou maravilhado. Depois, quando surgiram as fluorescentes econômicas, foi aí que pirou. Passou a noite e a madrugada inteiras olhando para elas embevecido.

E alertei a moça: “Ele é perigoso. Agrade-o dizendo que também adora lâmpadas, não esqueça. Eu sou psiquiatra e já tratei dele no Juliano Moreira, no Rio, onde ele ficou internado por dois anos.

Disse isso e saí de fininho, enquanto Ibiapina chegava. Ele não me viu. De longe observei a moça atendendo-o com o maior carinho. Pegou as lâmpadas uma por uma com o muito cuidado. Tinha medo de quebrar uma e ser estrangulada ali mesmo no caixa.

E enquanto passava as compras dele repetia: “sabe, eu também adoro lâmpadas. São uma paixão minha”.

E Ibiapina ficou com aquela cara de quem não estava entendendo porra nenhuma: Por que a moça insistia dizendo que adorava lâmpadas?

Na hora pensou: “Que mulher mais doida,
adorar lâmpadas, é cada uma!”

Depois, quando soube da sacanagem, até hoje quando me encontra cita a história das lâmpadas e conta que por longo tempo foi visto como o "doido das lâmpadas" pelas caixas do mercado.

*Emerson Sousa
Jornalista baiano
radicado em Brasilia

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