sexta-feira, 8 de novembro de 2013

CRÔNICA

ADMIRÁVEIS IRMÃOS
Por Paulo Maria de Aragão*


Na obra do Criador, os animais são nossos “irmãos inferiores”. Por certo, não é incomum que o homem use como sobrenome termos designantes de bichos, incluindo-se o de insetos.

Mas, com o sobrenome de cão, só se tem notícia do descobridor do Congo, em 1484, Diogo Cão; seria discriminação contra o maior amigo dos mortais, dignificado por Victor Hugo como “a virtude que, não podendo fazer-se homem, se fez animal”?

Humanistas, em todo tempo, lhe dispensaram afeto e respeito, como nesta feliz comparação: “Se recolheres um cão semimorto de fome e lhe deres novo alento, ele não te morderá. Eis a principal diferença entre o cão e o homem” (Mark Twain). Isso nem sempre ocorre entre humanos. A história pontilha-se de heroicas narrativas, seja como vira-lata, seja como puro-sangue. Talvez seja uma ofensa à raça canina chamarem-se, a qualquer pretexto, de cachorro aqueles que representam o pior da nossa a sociedade. 

Os cães falam outra língua, e quando se rendem por um osso ou um naco de carne, tornam-se fiéis a quem lhes deu. Não têm semelhança com os mamíferos bípedes que, pelo poder, matam, atraiçoam e, por qualquer vantagem, transacionam, naturalmente, a consciência. Não é fortuito dizer que mais vale um cachorro amigo do que um amigo infiel.


Histórias reais de cães comovem e os fazem merecedores do justo título de “o melhor amigo do homem”. No decorrer dos séculos, personagens ilustres dispensaram-lhes afeição, como os fabulistas Esopo e La Fontaine, o naturalista Charles Darwin e Walt Disney, produtor de fantásticos desenhos animados em que os bichos antropomorfizados ainda alegram todas as idades em todo o mundo.

Em “Vidas Secas”, Graciliano Ramos fala da família de retirantes, realçando a cadela Baleia, como a personagem mais “humana” da narrativa, ironicamente, solidária na caça com seus donos. O aclamado romancista reconhece a nobreza dos animais e, em particular, a do cão. Num realismo doloroso, traz-nos a cena do retirante Fabiano, que, em estado de desespero e sem alternativa, se obriga a abater a cachorrinha, sob suspeita de raiva. Aos primeiros tiros, Baleia – a altiva “leoa” e fiel amiga - agoniza ganindo e se esvaindo em sangue, sem saber o porquê do trágico desfecho.

Vale lembrar as lições de Cláudio Cavalcanti, ator e escritor, político, digno ser humano, sendo de sua autoria a lei que autoriza a Prefeitura do Rio a criar prontos-socorros veterinários gratuitos, normas proibitivas de rodeios, de instalação de criadouros e abatedouros de animais para a comercialização de peles. Devotou grande amor aos animais maltratados e foi de sua iniciativa coibir a exterminação dos abandonados como forma de controle populacional.

(*)  Paulo Aragão
Advogado, professor e
membro do Conselho Estadual da OAB-CE.
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ



Professor Paulo Maria de Aragão,

Sempre agradáveis e pertinentes suas opiniões no nosso medium acadêmico, máxime pelo seu estilo leve e inteligentes torneios. Folgo com lê-los.

Na crônica de hoje, faço adições, a modo de colaboração, acerca da ideia do vocábulo Cão feito sobrenome. Como sou quase jejuno nos meandros da informática, tentei fazê-lo na área de comentários e fui logrado na pretensão.

Cão, no caso agora, vem do turco kan, como informa o Lello Universal. E é a denominação conferida a um chefe ou príncipe mongol ou persa, como, digo eu, exempli gratia, o Cão de Bucara, a igual de o Preboste de Paris, o Dodge de Veneza, o Bei de Túnis, o Xá da Pérsia, o Tuxaua dos Paiacus (plural obrigatório), o Prefeito de Palmácia etc.

Cão, irmão de Sen e Jafé, filhos do patriarca Noé, teve seu nome modificado do português para Can, quem sabe, para retirar a parecença com o nome homógrafo do Encardido, como apreciava chamar o Padre Léo, da Canção Nova. Esse vocábulo, aliás, é de uma polissemia impressionante, com cerca de cem sinônimos.

Houve outro Cão em Portugal, nomeado por Dom João III para substituir, no seu reinado, o pai do primeiro, como pintor da Corte, que houvera sido oficial de pintura sob Dom Manuel. Trata-se de Gaspar Cão, que viveu no séc. XVI (Idem, ibidem).

E ainda se tem conhecimento de um obscuro Gonçalo Cão, súdito do Reinado de Dom João I, de Portugal ( idem, ibid.).

Por fim há o registro de que, em São Tomé, existiu Dom Frei Gaspar Cão, Bispo naquele lugar, que faleceu em 1572 ( id,  ibid.).

Grande abraço,

Vianney Mesquita


Um comentário:

  1. BILHETE

    Vianney Mesquita

    Professor Paulo Maria Aragão:
    Sempre agradáveis e pertinentes suas opiniões no nosso medium acadêmico, máxime pelo seu estilo leve e inteligentes torneios. Folgo com lê-los.
    Na crônica de hoje, faço adições, a modo de colaboração, acerca da ideia do vocábulo Cão feito sobrenome. Como sou quase jejuno nos meandros da informática, tentei fazê-lo na área de comentários e fui logrado na pretensão.
    Cão, no caso agora, vem do turco kan, como informa o Lello Universal. E é a denominação conferida a um chefe ou príncipe mongol ou persa, como, digo eu, exempli gratia, o Cão de Bucara, a igual de o Preboste de Paris, o Dodge de Veneza, o Bei de Túnis, o Xá da Pérsia, o Tuxaua dos Paiacus (plural obrigatório), o Prefeito de Palmácia etc.
    Cão, irmão de Sen e Jafé, filhos do patriarca Noé, teve seu nome modificado do português para Can, quem sabe, para retirar a parecença com o nome homógrafo do Encardido, como apreciava chamar o Padre Léo, da Canção Nova. Esse vocábulo, aliás, é de uma polissemia impressionante, com cerca de cem sinônimos.
    Houve outro Cão em Portugal, nomeado por Dom João III para substituir, no seu reinado, o pai do primeiro, como pintor da Corte, que houvera sido oficial de pintura sob Dom Manuel. Trata-se de Gaspar Cão, que viveu no séc. XVI (Idem, ibidem).
    E ainda se tem conhecimento de um obscuro Gonçalo Cão, súdito do Reinado de Dom João I, de Portugal ( idem, ibid.).
    Por fim há o registro de que, em São Tomé, existiu Dom Frei Gaspar Cão, Bispo naquele lugar, que faleceu em 1572 ( id, ibid.).
    Grande abraço,
    V.M.

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